Ceará

Cidade e infância

Por que é preciso considerar as crianças no planejamento de praças e espaços públicos?

Pedagoga, psicóloga e urbanista explicam como as praças são fundamentais para o desenvolvimento infantil

Fortaleza, CE |
Parque Dom Aloísio Lorscheider
Parque Dom Aloísio Lorscheider, no Itaperi, em Fortaleza, faz parte dos equipamentos entregues pelo Programa Mais Infância - Divulgação/ Governo do estado do Ceará

Assim como educação, alimentação, saúde, o lazer é um direito básico de qualquer criança e como tal precisa estar na pauta do poder público pensar e concretizar políticas de promoção a esse direito. Nesse contexto, as pracinhas podem ser esse lugar e cumprem um importante papel no desenvolvimento dos pequenos, como enfatiza a psicopedagoga Clarissa Chaves: “a praça é um espaço ideal para que uma criança possa ter o seu momento de lazer. Primeiro porque é um espaço aberto que dá a possibilidade de ter contato com a natureza, de ter aquele pé no chão, de interagir com outras pessoas que estão além do convívio familiar, outras crianças, outros adultos, possam conhecer coisas novas, e então passar tempo de qualidade com a família’’.

Para a urbanista e também pedagoga, Cláudia Sales, os espaços públicos como as praças são fundamentais para o desenvolvei mento das crianças: “As crianças, especialmente na primeira infância, precisam brincar e desenvolver habilidades importantíssimas como habilidades sociais, cognitivas e motoras, entre outras. A rua, a praça, o espaço público é o espaço por excelência onde as crianças podem desenvolver todas essas habilidades. Sem rua, sem praça, sem espaço público, as crianças não conseguem se desenvolver de uma maneira saudável, de modo feliz”.

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Os valores descritos nem sempre são possíveis de medir, ou de considerar na hora em que o poder público planeja a construção e mantém os espaços públicos de convivência para a população. Os pouco existentes, são muitas vezes considerados comercialmente improdutivos e estão sempre sob ameaça, mas basta perguntar para vizinhança, ou para alguma mãe, que saberão definir muito bem, o valor que uma praça tem. 

É o caso da professora Sarlene Mansueto, que tem uma relação afetiva com as praças e faz questão de passar isso aos seus filhos: “eu acredito que as experiências, elas educam, as vivências que as crianças passam tem o potencial de fomentar o caráter, fomentar o adulto que elas virão a ser. Então, nas pracinhas são espaços muito ricos se a gente pensar por essa perspectiva, porque são espaços coletivos onde você já tem que aprender que esse espaço é seu, mas ele também é do outro’’.  

A psicóloga e mãe Raquel Teixeira, que frequenta a principal praça do bairro com seu filho, também reforça o papel desses espaços coletivos para a formação dos pequenos: “a maior importância dessas pracinhas, esses espaços de interação, é justamente fazer essas conexões, onde eles podem ter esse vínculo, estabelecendo essas interações sociais com outras crianças, eles podem estar explorando esses ambientes aonde o desenvolvimento sensório e motor pode ser estimulado, esse contato com a natureza, é como se fosse uma espécie de laboratório de vivência prática paras crianças”.

Mudança na visão sobre a infância

Mas nem sempre as praças tiveram essa conotação. Até por volta do século XVII não se tinha essa concepção de infância e nem muito menos de espaços pensados e construídos para elas.  O termo praça vem do latim platea, que significa alargamento ou rua larga. O seu surgimento no contexto ocidental remonta a Grécia antiga, onde eram conhecidas como Ágora. Aqui no Brasil, a maior parte das cidades, foram erguidas ao redor destes equipamentos, que com o passar dos anos tiveram seu uso reconfigurado dando às essas crianças a possibilidade de participar efetivamente do planejamento de sua cidade.

A urbanista Cláudia explica a importância desses espaços coletivos no contexto social: “espaços como praças, playgrounds e a rua elas precisam ser tidos como prioridade, com participação infantil, por que a criança ela tem o direito social e político de participar efetivamente das tomadas de decisões e do planejamento de sua cidade. Para bebês e crianças pequenas, por exemplo, o acesso às praças está diretamente relacionado à segurança, ao conforto e ao bem estar que esses espaços oferecem aos olhos de seus cuidadores, já que as crianças não circulam pela cidade sozinha”. 

Cláudia enfatiza ainda sobre o papel do poder público em manter essas estruturas organizadas e preparadas para receber não só as crianças, mas também seus familiares e cuidadores – e pra isso é preciso investimento: “calçadas largas, bem iluminadas, travessias seguras, presença de bancos, de mobiliário urbano de qualidade dentro desses espaços, banheiros, espaços para descanso, tudo isso vai estimular com que as famílias e os cuidadores ocupem esse espaço da praça e tragam as crianças para usufruir desse espaço público”. 

Política pública

No Ceará, o Programa mais Infância, desenvolvido por Onélia Santana, antes primeira-dama e atualmente titular da Secretaria de Proteção Social, Justiça, Cidadania, Mulheres e Direitos Humanos (SPS), passou a incluir estes espaços como centrais para o desenvolvimento da primeira infância. Desde o início do Programa, em 2015, 217 novas praças foram implantadas no Estado: “O programa Mais Infância Ceará, dentro do pilar do brincar, pensa a criança se desenvolvendo integralmente através das brincadeiras, dos brinquedos lúdicos públicos que foram implantados no estado do Ceará por meio do programa”. 
 

Edição: Camila Garcia