A memória é uma das coisas mais importantes que um povo deve cultivar. Precisamos saber de nossa história em todas as suas contradições e complexidade, aceitando que já passamos por muita coisa. Precisamos lembrar as coisas abomináveis de nossa história, talvez até mais do que as coisas prazerosas e bonitas pelas quais passamos. Mas você pode está se perguntando por que estou meio melancólico falando de memória?
O Brasil, um jovem país com pouco mais de 500 anos, traz em sua breve história marcas deploráveis, mas que pela falta de apropriação coletiva dessa história, seguimos reincidindo nas mesmas violências e sobre os mesmos corpos. Claro que não conhecemos nossa história por falta de vontade, toda essa ignorância é orquestrada pelo poder dos que seguem nos violentando desde a invasão portuguesa em nosso território e genocídio das várias nações que residiam aqui, desde o sequestro em massa de povos no continente africano e de seu translado forçado para cá para trabalho forçado e sob tortura, desde os estupros de mulheres indígenas e negras escravizadas.
Precisamos lembrar que vivemos uma ditadura que durou 21 anos e que sob o pretexto de combater os comunistas comedores de criancinha mataram e desapareceram com os corpos de milhares, torturam mães e pais na frente dos filhos ainda crianças e torturam bebês na frente das mães. Mas segundo eles, nós os comunistas, é que somos contra a família.
Estou trazendo essas feridas à tona não porque gosto de sofrer, mas é porque não é fingindo que elas não existem que a gente vai tratá-las. Precisamos saber o que aconteceu e como aconteceu para que possamos evitar que se repita, para que possamos entender que quando um político defende a tortura e um dos maiores torturadores da história do país, ele defende essa herança colonial escravista, que quando ele se refere a pessoas negras como pesadas em arroba, ele trata mais da metade da população brasileira como animais e reforça um ideal colonial racista em nosso país ainda tão marcado pela segregação racial.
Que um político quando ataca jornalistas, trata mulheres como inferiores, é lgbtofóbico e capacitista, ele jamais está do lado do povo e de seu desenvolvimento. A única família que importa para esse político e os que estão com ele é os deles próprios. A nossa vai seguir amargando a pobreza financeira, social e cultural a qual eles nos impõem. Reparem como tratam a educação, vamos para o quinto ministro, todos sob investigação por corrupção, envolvidos em denúncias e escândalos. Vejam o caso da cultura, rebaixada de ministério a secretaria, sob censura constante e tendo passado pelas mãos de diversas figuras incompetentes e defensoras do que há de pior. O atual coloca como agenda cultural ir para estande de tiro com o filho do presidente, a anterior é filha de milico e falava em esquecer o que o pai dela e seus amigos fizeram com os nossos, teve outro que até discurso plagiado de general nazista usou. Na saúde, eles não compram vacinas para salvar vidas, mas compram viagra pra militar, são contra absorvente para adolescentes pobres, mas a favor de implante peniano pra militar.
Mas você pode seguir se perguntando porque estou falando de memória e de todas essas atrocidades que os que estão no poder, os que servem aos grandes empresários, aos banqueiros, aos fazendeiros e aos industriais que sugam nosso país até o talo. Pois bem, já que eles querem esquecer, jogar para de baixo dos panos para conseguir seguir nos controlando é nossa missão seguir lembrando. Lembrar dos nossos. Lembrar dos levantes que esse país já viveu, dos que resistiram na ditadura, dos que se aquilombaram, dos que se aldearam, dos que ocuparam e resistiram. Seguiremos em luta até que todo o povo seja livre.
Os ataques que a Miriam Leitão tem sofrido são puro desdenhar da vida e mesmo nós, os comunistas, discordando em sua integralidade dos posicionamentos políticos dela saímos em solidariedade a ela e em defesa da vida, pois diferente do que falam nós somos a favor da vida os capitalistas e os políticos a seu serviço é que insistem em atuar pela violência.
Ditadura nunca mais!
Por memória, verdade e justiça!
*Trabalhador da cultura e militante social.
** Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
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Edição: Camila Garcia