Ceará

Política pública

Ceará ganha três novos equipamentos culturais públicos

Para o músico Fernando Catatau a cultura cearense está no ápice, mas é preciso pensar nos equipamentos já existentes

Fortaleza, CE |
estação
Estação das Artes é inaugurada no prédio da centenária Estação João Felipe, no Centro de Fortaleza. - Foto: Divulgação/ Secult

O ano de 2022 começou com boas novas para a cultura cearense. É que o Estado ganhou 3 novos equipamentos culturais para chamar de seu. No finalzinho de março, a centenária Estação Ferroviária João Felipe renasceu como Complexo Cultural Estação das Artes Belchior. Com 67 mil m², a previsão é que até agosto, gradativamente, o espaço agregue diversos equipamentos dentro de suas instalações. Além da Estação das Artes, lá serão implantados o Mercado Gastronômico, a Pinacoteca do Ceará, o Centro de Design e o Museu Ferroviário. 
 
Ainda em março, após passar por reforma e restauro, o Museu da Imagem e do Som (MIS) foi inaugurado passando também a categoria de complexo. Com um investimento total de R$ 72 milhões, o equipamento ganhou um novo prédio anexo de 5 andares e tecnologia de ponta. Em abril, foi a vez da região sul do Estado abrir as portas de um importante espaço para as manifestações artistícas com o Centro Cultural do Cariri. O local possui mais de 52 mil m², sendo 12 mil m² edificados e uma vasta área verde. Nesta primeira etapa entregue, foram inauguradas a areninha, pista de skate e brinquedopraça.

Confira VT da Matéria

E num contexto de desmonte das políticas voltadas para a cultura no país, abrir espaços de fruição, formação e acesso à arte passou a ser sinônimo de resistência, como reitera o Secretário de Cultura de Estado, Fabiano Piúba: “nesses tempos que correm sombrios no Brasil, a cultura tem um papel político muito relevante, a cultura como ser e estar, se relacionar com o outro em sociedade, lhe atribuir sentido e significados. A cultura se coloca nesse contexto nacional como um posicionamento, como uma visão de mundo, uma visão de nação. Mas ela é também vetor de desenvolvimento. Desenvolvimento social, desenvolvimento econômico, desenvolvimento humano e sustentável”. 

Sobre os investimentos feitos nesses espaços, Fabiano pontua ainda: “eu gosto muito de dizer que não existem políticas próprias para os equipamentos culturais. Existe uma política de fomento às artes, uma política de patrimônio cultural e memória, uma política de formação artística e cultural, de economia criativa ou economia da cultura, de cidadania e diversidade. Esses são os eixos que a gente trabalha aqui nas políticas culturais. Essa rede pública de equipamentos, são ambientes para o pensamento, formulação e execução dessas políticas”.


Museu da Imagem e do Som em Fortaleza / Secult/ Divulgação

E estes novos espaços já integram a programação da população, ávida não só pelos (re)encontros, mas também por aproveitar uma cena cultural cada vez mais efervescente. “Eu sempre frequento a programação cultural da cidade, sempre estou por dentro, procurando a programação pra saber o que é que tem, eu e as minhas amigas. A gente sempre faz isso por que também tem muita programação boa e gratuita e eu fiquei muito feliz que agora a gente tem esses novos espaços”, conta a doutoranda em Ciências Marinhas Tropicais, Eliana Matos. 

O músico Fernando Catatau destaca justamente o atual momento pulsante da cena artística cearense: “atualmente, a cultura cearense está no ápice pra mim, você vai em qualquer lugar do país e todo mundo sabe o que é que está acontecendo aqui no Ceará, todo mundo sabe, mesmo com as dificuldades que tem pra fazer as coisas aqui, né? A galera conhece, sabe o que tá rolando, sabe que tem uma cena incrível, sabe que tem a galera sangue nos olhos querendo fazer coisas e fazendo com um discurso assim super avançado. Tem que dar muito valor a galera daqui. Pernambuco se tornou Pernambuco culturalmente por que eles investiram na galera de lá, não ficaram só querendo trazer gente de fora, trouxeram também, pra somar, mas não pra diminuir quem é de dentro, e isso é muito importante”. 

O músico fala ainda da importância de outros tantos equipamentos que já existem no Estado, e que é preciso uma política não só de inauguração, mas de manutenção do que já existe: “Fortaleza tem muitos espaços e vários desses espaços estão ficando pra trás, a galera não está investindo, alguns estão fechados, então não é só abrir os novos, né? É cuidar de todos, por que aí a cidade fica efervescente, por que aí vai ter em todos os cantos”, pontua. 

A Conquista também foi celebrada pela produtora cultural Luana Caiube, que fala da importância dos investimentos em políticas públicas para a cultura: “É essencial para a manutenção da existência da cultura cearense ou da cultura de qualquer Estado que seja. É através das políticas de editais, das programações dos equipamentos, que muitos dos artistas, técnicos e toda a cadeia envolvida na produção cearense consegue se manter, consegue sobreviver”. 


Centro Cultural do Cariri / Foto: Nívia Uchôa

Caiube também divide a mesma impressão de Catatau, sobre esse ser um bom momento para a cena artística do Estado: “em contato com produtores, artistas e pessoas de outros Estados é notório que o Ceará está muitos passos à frente de vários lugares do país. Existe uma política pública concisa e coerente, lógico que ainda precisando de ajustes e de umas calibradas entre os repasses, os recursos, as formas como eles são administrados, mas em relação a outros Estados, a nossa cultura vem se estabelecendo como um referencial. A política pública de cultura do Estado do Ceará tem se construído de uma maneira sólida, apesar dos pesares”. 

Entretanto, ao mesmo tempo que celebra, ela também demonstra preocupação com o abandono de equipamentos já existentes na cidade e outras questões que perpassam essas políticas: “Existe uma quantidade absurda de equipamentos sem condições de uso, sendo que tem muita gente pra ocupar. Acho que também a inserção com um pouco mais de resultado dentro dos equipamentos da periferia”, sugere.
 
A produtora lembra porém que para viabilizar o trabalho de toda essa cadeia, as políticas precisam ser pensadas para atravessar governos: “A partir do momento que a gente não tem políticas públicas longínquas, que atravessem os mandados, atravessem as gestões, acaba que acontece muito retrabalho. Porque para uma classe que está saindo de uma pandemia tão defasada, tão doída de tudo o que aconteceu, ficou complicado trabalhar hoje para receber depois de 30, 40, 60 dias, quando recebe, né? Então muitas das vezes os artistas precisam trabalhar pra receber com muito tempo e isso acontece por que os processos, os contratos, eles passam por uma burocracia gigantesca para serem executados. Talvez fosse uma boa dar uma pensada em como dividir essas rendas, esse dinheiro, entre remunerar melhor esses artistas, e de uma maneira mais rápida e mais justa’’, finaliza. 
 

Edição: Camila Garcia