Tem uns dias que tenho escutado a música e assistido ao clipe de “This is not America” (Isso não é América) do artista Residente repetidas vezes. Eu já acompanho de perto o trabalho dele desde quando ainda estava no Calle 13, importante grupo musical da contemporaneidade. Tanto o Calle 13, quanto o Residente misturam vários ritmos e sonoridades latinas com o rap, mas não um rap como o produzido "na gringa", tem uma marca muito forte do local onde foi produzido.

Mas o clipe e música não bastassem toda sua qualidade estética, trazem várias reflexões sobre a face atual do capitalismo colonial neoliberal, que faz sangrar e sofrer os que moram do México para baixo. Residente, com sua lírica afiada, questiona todas as mazelas que afetam o povo latino, sejam mazelas recentes ou antigas, indo desde o extermínio que os europeus exerceram aqui, até os governos fascistas que tem se instalado pelo continente, como é o caso do Brasil.

Trata em pouco mais de 4 minutos de colonização, indústria e imperialismo cultural, fome, violência policial, resistência popular, ditaduras, memória, papel da cultura na resistência, subserviência das burguesias locais ao imperialismo yankee, migração e tantas outras coisas que poderíamos ainda elencar.

No clipe são construídas imagens muito fortes, como a estátua de um apache no lugar da estátua da liberdade. A diversidade de corpos representados e o papel simbólico que ocupam na imagem é uma marca forte das produções de Residente. Como na cena em que várias mulheres de diversas cores e idades representam campesinas indígenas com porretes nas mãos em postura de resistência, uma referência direta ao Exército Zapatista de Libertação Nacional. As bandeiras de diversos países nas mãos de quem elas pertencem: a classe trabalhadora dos países em questão. A cena de uma mãe de um lado da cerca, amamentando o filho nos braços do pai do outro lado da cerca é outra cena muito forte.

Residente trata ainda da censura e da perseguição a jornalistas e a imprensa popular, faz menção aos assassinatos de jornalistas que tem crescido no continente, como podemos constatar aqui no Brasil através dos ataques de Bolsonaro a jornalistas em coletivas de imprensa. Podemos ainda associar ao assassinato de Marielle e ameaças que parlamentares de esquerda, sobretudo mulheres pretas e mulheres trans. Nem figuras como padres, que historicamente gozam de respeito social, tem saído ilesos das perseguições bolsonaristas.

Mas quero partilhar essa música com vocês não para exaltarmos a dor ou romantizá-la, mas para que ela sirva de ânimo e inspiração na luta que temos que travar esse ano para derrotar o bolsonarismo, que é muito maior que tirar Bolsonaro da presidência, que é essencial. Precisamos tirar todos os representantes dessa política pequena, violenta e mesquinha do parlamento e dos governos e colocar em seu lugar lideranças populares, colocar políticos compromissados com a melhoria da vida do povo e com aprumar a direção do Brasil de volta para o futuro, com esperança, trabalho, acesso a políticas sociais públicas e de qualidade.

Que essa música sirva para animarmos os comitês de luta pela democracia que devemos construir Brasil adentro e que nesse processo elejamos Lula presidente, mas também governadores, senadores, deputados estaduais e federais compromissados. Esses comitês precisam estar muito animados e organizados, pois eles não se encerram nas eleições, eles precisam seguir organizados, para dar condições de Lula e a bancada parlamentar progressista que elegeremos, governar em prol do povo. Seja para pressionar que o governo execute políticas sociais em defesa da vida, do povo, ou seja, para defender o governo eleito democraticamente contra os ataques bolsonaristas que virão.

Onde conferir Residente - This is Not America:

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*Trabalhador da cultura e militante social.

** Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Camila Garcia