Em conversa com o Brasil de Fato, Rafael Toitio, sociólogo, professor do Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN), doutor em Ciências Sociais pela UNICAMP e coordenador da Pesquisa Sobre as Condições de Vida da População Rural LGBT+ na Região Nordeste, falou sobre sua pesquisa que está sendo desenvolvida em parceria com o Centro Agroecológico Sabiá e o Centro de Estudos do Trabalho e de Assessoria ao Trabalhador (Cetra). Confira.
Brasil de Fato – Gostaríamos que você explicasse o que é a pesquisa?
Então, a nossa pesquisa é uma pesquisa quantitativa sobre as condições de vida da população rural LGBT+ que vive na Região Nordeste, e o principal objetivo é levantar dados sobre essa população em relação a trabalho, renda, educação, raça, etnia, religião, acesso à tecnologia, acesso à alimentação, à água, e pensar também as formas de preconceito e discriminação que essa população LGBT+ rural sofre no dia a dia. Então a ideia é basicamente essa, uma pesquisa empírica e de dados quantitativos.
Brasil de Fato – Você falou um pouco sobre a questão do preconceito, e gostaríamos de saber se existe ainda uma crença de que no meio rural não existe a população LGBT+?
Existe uma crença que o meio rural é mais conservador, e esse debate de "se existe a população LGBT+ na zona rural, ou não" já deveria ser superado. A gente tem tentado fugir exatamente de colocar o meio rural como mais conservador, mas, ao mesmo tempo, não podemos descartar o fato de que na zona rural há uma invisibilidade dessa população e que mesmo que isso também aconteça no meio urbano, sabemos que nos grandes centros existem ambientes e territórios em que essa população pode se expressar mais livremente, diferente da população que vive na zona rural.
E aprofundando mais sobre isso, é importante a gente pensar também sobre como os laços comunitários ainda são muito fortes. Enquanto nas grandes cidades a gente é anônimo, possuímos um anonimato maior se quisermos fugir das pessoas que a gente conhece, na zona rural a gente já não consegue fazer isso de uma forma tão fácil. Ou seja, isso também dificulta por vezes a pessoa se assumir como LGBT+, que está na diversidade sexual e de gênero e que rompe com a heterossexualidade.
Brasil de Fato – E como surgiu a ideia para desenvolver a pesquisa?
Surgiu a partir do contato com as lideranças do Centro Agroecológico Sabiá e do Cetra. Tenho estudado a questão da diversidade sexual e do gênero no Brasil há um tempo e eles sempre me perguntavam sobre a população da zona rural, sobre dados quantitativos, mais macros e pontuais e que não fosse um estudo de caso específico, mas que traduzisse minimamente o perfil dessa população em alguma região do Brasil.
E justamente para acabar com essa invisibilidade, com esse apagão de dados que surgiu essa ideia, lógico que existe uma importância fundamental para além de dar visibilidade para essa população, mas o foco é também levantar dados para cobrarmos ações públicas do governo. E para isso, precisamos minimamente conhecer essa população.
Brasil de Fato – E qual é a importância dessa pesquisa?
É justamente essa, levantar dados e dar visibilidade a essa população que vive no campo. Falei anteriormente sobre essa crença em não existir LGBT+ no meio rural o que é totalmente errôneo, porque temos pessoas LGBT+ espalhados por todos os lugares, seja nos grandes centros urbanos seja no meio rural. Então para além de tudo, essa entrevista serve também como forma de conhecermos a população LGBT+ rural e conhecer suas problemáticas, quais as formas de discriminação que elas sofrem, quais são os espaços que são mais violentadas, se é na escola, no trabalho, na família ou na própria comunidade.
Brasil de Fato – A pesquisa já apresenta alguns dados sobre as condições de vida da população rural LGBT+ da Região Nordeste?
Não, a gente começou a colher dados há mais ou menos um mês, mas ainda não construímos uma parcial em cima desses dados. Estamos nos organizando para conseguir divulgar melhor nos estados que a gente está com menos respostas, mas acreditamos que somente no mês de maio teremos a primeiras parciais e resultados.
Brasil de Fato – E como a população pode contribuir para a realização da pesquisa?
Se você for uma pessoa LGBT+ que vive na zona rural, ou tem amigos que são, ou minimamente conhece alguém que tenha essa vivência, basta acessar o nosso site para preencher o formulário e colabora com nossa pesquisa. Além disso, é muito importante que a população também possa compartilhar a pesquisa nas redes sociais, ajudando na divulgação.
Nós já estamos com quase três meses de pesquisa de campo e temos encontrado essa dificuldade em obter grandes respostas pela dificuldade em acessar o meio rural, sobretudo a população LGBT+ rural. Então, se a população entender a importância e se interessar em preencher ou divulgar, basta acessar o site lgbtrural.ca.ifrn.edu.br e clicar no link para responder ao formulário. Para quem possui dúvidas, a página possui um glossário e explica o que é orientação sexual e identidade de gênero, além de possuir um espaço em que fala um pouco sobre nossa pesquisa.
Brasil de Fato – Vocês estão recebendo algum tipo de apoio de movimentos populares, por exemplo, para preenchimento desses formulários?
A adesão tem acontecido com dificuldade, encontramos dificuldade em acessar essas pessoas e por isso não temos uma adesão tão grande assim, mas temos recebido muita ajuda do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, que tem um coletivo de diversidade estruturado nos últimos anos, o Movimento dos Pequenos Agricultores também tem nos ajudado, assim como alguns sindicatos rurais e ONGs. Em alguns estados nós temos recebido auxílio de movimentos de juventude, como é o caso do Pernambuco, onde o Fórum de Juventude Pernambuco tem nos dado esse apoio. Mas a gente ainda precisa avançar em muitos outros estados.
Brasil de Fato – Rafael estamos chegando ao final de nossa entrevista, você gostaria de deixar alguma mensagem para os nossos ouvintes?
A mensagem que eu queria deixar era de pedido para as pessoas divulgarem e participarem da pesquisa, que tem esse objetivo grandioso de levantar dados sobre essa população LGBT+ rural, que tem sido invisibilizada cada vez mais. Então se somem nessa pesquisa, divulguem, compartilhem, mande para seus contatos que conhecem pessoas LGBT+ do meio rural para que assim nossa pesquisa consiga alcançar o maior número de pessoas da população LGBT+ rural.
Para receber nossas matérias diretamente no seu celular clique aqui.
Edição: Francisco Barbosa