A população LGBT+ vive um contexto de apagões de dados e de informações oriundas de órgãos públicos oficiais. No Brasil, quando falamos especificamente de violência contra a população LGBT, os dados estão sempre subnotificados ou localizados a partir da iniciativa de organizações ou de alguns municípios. A falta de pesquisas e de incentivo do poder público dificulta o mapeamento da realidade desses sujeitos e, consequentemente, a construção ou aperfeiçoamento de políticas públicas para o fortalecimento de direitos fundamentais.
Enfrentando constantes dificuldades no acesso à educação, saúde, emprego e renda, a população LGBT+ brasileira também encontra desafios diversos se pensarmos a sua presença em distintos contextos espaciais ou regionais, vivenciando contradições especificas quando nos deslocamos do meio urbano para o meio rural.
Se ser LGBT na cidade é um desafio, ainda mais desafiante é se entender em um mundo diverso no meio rural. Afinal, o campo é um espaço que também reflete a sociedade capitalista, que é LGBTfóbica, repleta de preconceitos e onde o padrão heterossexual segue sendo a norma. Diante desse cenário, sempre foi um desafio debater temáticas como essas com homens e mulheres do campo, especialmente no espaço familiar.
Apesar de inúmeros desafios, nos últimos anos diversos movimentos populares e organizações da sociedade civil têm atuado na pauta de diversidade sexual e de gênero no Brasil, enfrentando o debate e contrapondo-se ao patriarcado no campo. Entre os exemplos, estão o Coletivo LGBT Sem Terra do MST, o Movimento dos Atingidos por Barragens, as iniciativas da Articulação Nacional de Agroecologia, da Articulação do Semiárido, entre outras.
Há muito o que avançar, mas esse é um importante passo para a superação da ideia de que o campo é um espaço de mentalidade conservadora. Acreditamos que a construção recente dessas inúmeras iniciativas nos mostra que o meio rural também é espaço de acolhimento e de debate na construção de um futuro que respeite as diversidades.
Afinal, o fato é que falar em pautas como Reforma Agrária e Agroecologia não é nada distante de falar em diversidades – sejam elas de sementes, de árvores, de territórios, de saberes, de lutas e de vidas. E é a partir da construção de novas relações no campo, que, certamente, trilharemos o caminho certo para consolidar um futuro cada vez melhor para a população LGBT+ em todos os cantos do nosso país.
Conheça a pesquisa “As condições de vida da População Rural LGBT+ da região Nordeste”
Desenvolvida pelo Instituto Federal do Rio Grande do Norte, em parceria com o Centro Agroecológico Sabiá (Pernambuco) e o Centro de Estudos do Trabalho e de Assessoria ao Trabalhador/CETRA (Ceará), a pesquisa tem como objetivo realizar uma análise quantitativa das condições de vida da população rural LGBT+ da região Nordeste, produzindo dados sobre trabalho, educação, renda, raça/etnia, acesso à tecnologia, idade, acesso à alimentação e à água etc. dessa população, assim como sobre as formas de preconceito e discriminação sofridas por ela.
Se você conhece ou é uma pessoa LGBT+ da zona rural e vive na região Nordeste colabore com a pesquisa, divulgando ou respondendo o questionário disponível no site: http://lgbtrural.ca.ifrn.edu.br/.
A sua contribuição será fundamental para dar visibilidade a essa população.
*Coordenador do Centro Agroecológico Sabiá e da Articulação no Semiárido (ASA)
**Pesquisador em Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável
***Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
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Edição: Francisco Barbosa