Ceará

Março das Mulheres

O lugar da mulher quando a arte é resistência

Além do palco, onde elas estão? Iluminação, direção, roteiro? Coletivos feministas têm provocado essa discussão

Fortaleza, CE |
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Espetáculo "Entre Nós: buzinas, chicotes e ácidos" – Coletivo Arremate de Teatro - Crédito: Coletivo Arremate

Em cena, elas dominam a arte de trazer suas dores e desejos para o centro do palco. Na trama, assim como na vida, estão galgando o espaço que, por muito tempo, lhes foi usurpado. São mulheres somando suas vozes para ampliar-se, tendo na arte suas diversas formas de resistir. E é nesse caminho que elas desenham para si o que é arte.
Para Marina Brito, atriz da companhia Bravia de Teatro, o poder das artes está para além da cena, é resistência: "A arte, ao longo de séculos e séculos, sempre foi a voz questionadora, a voz provocadora. A arte é capaz de nos trazer uma visão, um pensamento mais amplo de mundo. Então por isso ela é capaz de desestabilizar poderes, de bem mover estruturas, então ela tem esse papel de provocação, por isso ela é tão importante na resistência e nas lutas". 

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Para Edla Maia, do coletivo feminista Arremate, a arte é um lugar em que podemos trazer questionamentos e novas perspectivas: "Eu acho que a arte ela tem uma função de questionar e de fazer refletir para além da expressão. Ela é um lugar de expressão, mas principalmente de fazer refletir, de abrir caminhos e possibilidades para a transformação. Acho que arte é esse lugar onde a gente, através dela, se usa dela para construir novos caminhos para a humanidade".

Mas mais do que resistir, elas querem somar. Tanto que hoje um número crescente de coletivos feministas tem provocado esta discussão dentro do mercado cultural no Ceará. São iniciativas que tem como objetivo unir vozes para fortalecer suas pautas. 

Mas para além do palco, onde estão as mulheres? Iluminação, direção, roteiro, hoje, um número crescente de coletivos feministas têm levado essa discussão para a cena cultural cearense. Esses grupos reforçam a importância de buscar papéis historicamente exercidos por homens brancos, o objetivo é justamente serem protagonistas de suas próprias histórias. Como enfatiza Marina: "Mulher é resistência, então na arte ela é necessária, completamente necessária por questões de representatividade também, por que a mulher ela vai trazer esse outro olhar para o mundo, diferente dos padrões impostos pelo patriarcado, a mulher move estruturas".


Também é papel da arte discutir a superação do patriarcado e o lugar de mulheres fortes, que ousaram lutar e resistir. / Foto: Tim Oliveira

E nesse movimento, elas não vão só, elas chegam em multidão: "Ser mulher na arte tem também uma responsabilidade de fazer com que outras mulheres apareçam, responsabilidade de trazer à tona nomes que foram esquecidos, eu acho que é também um espaço de fazer ecoar a nossa voz e de dar segmento ao trabalho de tantas outras mulheres que já trabalharam tanto para que eu estivesse aqui cumprindo essa função", reitera Edla.

Juliana Tavares é artista e produtora cultural. Foi Durante a pandemia que percebeu a urgência de usar seu trabalho para fortalecer outras mulheres da cena cearense. Assim, decidiu criar a Flutuante, produtora onde 95% das contratações, nas mais diversas áreas, são de mulheres: "Eu acho que tem uma coisa nessa perspectiva, dessa resistência com arte, que é de como que eu faço pra mudar, pra descentralizar esses corpos que muitas vezes são construídos por homens brancos cis? Como que eu faço pra agregar mais mulheres no meu projeto? Pessoas trans, pessoas negras, pessoas com deficiência", provoca. 

A artista lembra ainda que é preciso uma mudança de olhar para que essa realidade seja redesenhada e chama todos à responsabilidade nesse processo: "Eu vejo hoje que, no mercado cultural e nesse setor, o processo de mudança vai acontecer a partir do momento que eu entendo que eu preciso trazer pessoas assim dentro da minha equipe, dentro do meu projeto. Então, se eu for montar um espetáculo, por exemplo, de teatro, o quê que eu faço para mudar? Quantas pessoas estão dentro daquela equipe? Quantas mulheres estão ali?", questiona Juliana.

Todas essas mulheres integram companhias que estão em cartaz na Mostra de Teatro “Mulher é Resistência”, que abre a programação de março do Cineteatro São Luiz. Além de comemorar o mês da mulher, a Mostra faz parte das comemorações dos 64 anos de existência deste importante equipamento. Com a intenção de provocar inquietações e reais transformações, aliando artes cênicas e feminismo, a programação é um ressignificar de datas e palavras, em que resistir é o lugar comum das três figuras celebradas no mês, a mulher, o teatro e o Cineteatro São Luiz.

Saiba mais sobre a Mostra de Teatro “Mulher é Resistência” em www.cineteatrosaoluiz.com.br

Edição: Camila Garcia