Com a pandemia do Coronavírus, o país mergulhou no agravamento das crises econômicas e sanitárias que já vinham batendo a porta da população brasileira. O crescimento da fome disparou e diante das falhas do Estado, muitos passaram a contar com a solidariedade para tentar sobreviver. Atentos a essa realidade, movimentos sociais de diversas naturezas criaram iniciativas para minimizar a situação dos que passam fome. É o caso do Movimento das Trabalhadoras e Trabalhadores por Direitos (MTD), com ações espalhadas pelo Brasil, em Fortaleza está realizando projetos de cozinhas populares que distribui refeições e tenta mobilizar pessoas para pensar sobre a organização social e política como estratégia para vencer a fome.
Na capital cearense, o MTD se aliou ao Levante Popular da Juventude, ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), à Consulta Popular, além de outros sujeitos da sociedade civil e tocou a Cozinha Popular em 2022. A iniciativa estava de recesso desde o almoço de Natal ocorrido em 26 de dezembro. Em 30 de janeiro de 2022, a Cozinha Popular do Bairro da Bela Vista voltou a funcionar.
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A jovem integrante do MTD e articuladora da Cozinha Popular, Bruna Raquel, explica que a iniciativa começou com a entrega de kits de higiene (com sabão, água sanitária, álcool em gel), cestas verdes, vindas direto do campo e cestas básicas: “Nós conseguimos mapear vilas, becos, quem morava de aluguel, crianças, idosos que estavam ali naqueles territórios onde a gente atuava desde muito tempo, desde antes da pandemia, e conseguiu desenvolver grandes ações de solidariedade”, conta.
Durante esse mapeamento outro problema foi percebido: muitas famílias que estavam recebendo cestas básicas não tinham condições nem de cozinhar o próprio alimento por falta de dinheiro para comprar um item básico, o gás de cozinha. Por isso o MTD deu início a outro trabalho, o de viabilizar a comida já pronta. Mas para dar conta dessa nova demanda, precisariam de mais braços. “Com isso a gente foi desenvolvendo tecnologias e mecanismos de identificar também que tinham muitas trabalhadoras com experiência em fábricas, em cozinhas, em hotel, em bares e buffets. Que tinham conhecimento de produção, de manuseio de alimentos, de armazenamento, que estavam ali em situação de desemprego, e que estavam dispostas a compartilhar seus conhecimentos e construir esse espaço”, reitera Bruna.
Gente como dona Maria Ana. Moradora do bairro Bela Vista, que se somou ao projeto e hoje divide seus conhecimentos como cozinheira popular: “Trabalhei por muitos anos em cozinhas. Trabalhei em fábrica, casas de família e hoje eu estou aqui, ensinando e aprendendo com os meninos”, conta uma dona Maria orgulhosa.
O trabalho é feito por meio de muitas mãos, tanto de quem contribui com doações como daqueles que dedicam parte do seu dia voluntariamente dentro das cozinhas. Um dos grandes objetivos da iniciativa é combater a fome nas periferias, além de fortalecer laços comunitários, através do trabalho coletivo da produção e distribuição de refeições nutritivas para quem tem fome.
“Se eu perder (a comida) eu vou ficar com fome. Eu, meu menino e meu marido com fome, porque não tem comida em casa”. Este é apenas um dos relatos que a equipe da Cozinha Popular escuta na fila, enquanto as pessoas esperam para receber sua marmita. Uma dura realidade, que torna o trabalho das Cozinhas tão essenciais, num contexto onde mais de 19 milhões de pessoas vivem a insegurança alimentar no país. Além de distribuir as marmitas na própria sede, entregadoras saem às ruas para alcançar um público maior.
Bruna Raquel informa que da Cozinha saem cerca de 500 refeições que atendem moradores do bairro Bela Vista e arredores. Colorido, o cardápio tem ficado cada dia mais balanceado: “Hoje a gente tá construindo um cardápio bem diferente com carne moída e com bisteca de porco, pra acompanhar um feijãozinho, farofinha e com um arrozinho branco, tudo sendo encaminhado, feito por muitos mãos e com muito afeto”, conta a jovem feliz da vida enquanto mostra os panelões recheados de boa comida.
Desde que o projeto começou, a cozinha funciona todos os domingos. O grupo sobrevive fundamentalmente de doações. Para contribuir com esse trabalho imprescindível, você pode fazer um pix - [email protected] – de qualquer valor, ou se apresentar no espaço da cozinha para colocar a mão na massa.
Edição: Camila Garcia