A arte da performance recebe seu lugar ao sol no principal Edital de Incentivo às Artes do Ceará, mas a caminhada dos artistas da linguagem na organização do Fórum de Performance foi essencial para isso, além de uma gestão minimamente disposta ao diálogo.
Ser trabalhador da cultura e da arte no Brasil sempre foi um desafio desde o golpe, mas o problema começa muito antes, ainda na época da colônia portuguesa por essas bandas, quando as primeiras movimentações para criação de museus e escolas de arte não estavam a serviço do desenvolvimento sociocultural de nosso povo, mas a serviço do prazer do imperador Dom Pedro II que sempre teve um interesse pessoal em fotografia e em artes no geral.
Por muito tempo nós, artistas, estamos sobre essa corda bamba entre fazer nossas criações sob a demanda e a ideologia de quem está no comando do país e do dinheiro ou sofrer as consequências de só criar o que é de nosso próprio interesse. Depois de todas as repúblicas, ditadura civil-militar e primeiros passos da democracia, cada vez mais nos afastamos do primeiro modelo e assumimos nossa autonomia perante a criação.
Para nós que atuamos na performance, essa forma de fazer arte tão jovem e vilipendiada é ainda uma situação mais complexa, pois de forma geral estamos tratando de temas que os que tem o poder de Estado e do capital não gostam. Eles não querem sair às ruas e se depararem com questões de dissidência de gênero, questões raciais, de pessoas com deficiência, feminismos, de classe e tantas outras questões urgentes sendo tratadas por artistas junto ao povo. Pois eles sabem que um povo com acesso à educação, arte e pensamento crítico rapidinho derrubarão eles de suas castas e de seus incontáveis privilégios.
Pois bem, esses trabalhadores que, como qualquer outro trabalhador só tem seu corpo como ferramenta de luta e de trabalho, se organizaram e abriram um importante espaço na cultura cearense. Pela primeira vez o Edital Ceará de Incentivo às Artes, que está na sua 12ª edição, traz entre as linguagens contempladas a performance. São R$ 340.000,00 divididos entre festivais/mostras, publicação/pesquisa, criação/circulação e formação.
Nós, artistas, que trabalhamos com – aparição, fuleragem, arte de ação, happening, arte não objetual, mandinga, arte contextual, modificação e/ou suspensão corporal, fotoperformance, body art, registro de performance, videoperformance, teleperformance, live art, fação, performance urbana, performação, performance duracional, arte relacional, performance sonora, site specif, performance instalativa, land art, deriva, e tantas outras possibilidades ainda nomináveis, seguiremos lançado nossos corpos e sonhos no mundo e afrontando os que querem nosso fim.
Para entender mais sobre o que é e como trabalham os artistas dessa linguagem, acompanhar os debates, trocar uma ideia sobre esse e outros editais é só acompanhar a página do @forumdeperformance no Instagram.
*Trabalhador da cultura e militante social.
** Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Francisco Barbosa