O cheirinho de pão que desperta a vizinhança de uma pequena padaria artesanal no bairro Meireles, em Fortaleza, não foi sentido por dias. O motivo: com 70% dos funcionários doentes, incluindo o dono do estabelecimento, a padaria precisou fechar mais de uma vez no mês de janeiro. Cassius Reis Coêlho, dono da Grão D’alino, explica que o impacto em seu pequeno negócio foi sentido de forma diferente nas três ondas: “Na primeira onda nós conseguimos manter a operação rodando, com a equipe reduzida, com fornadas menores. Depois, na segunda onda, conseguimos manter a operação funcionando, foi um período onde a gente não teve grandes afastamentos de pessoal, mas nessa terceira onda, uniu tanto Covid quanto Influenza, então desde meados de dezembro nós vínhamos tendo afastamento de funcionários”.
Com janeiro batendo a porta, o problema só veio a se agravar. O empresário conta que com os sucessivos afastamentos, a equipe, que já é pequena, acabou ficando ainda mais sobrecarregada, já que os funcionários que permaneceram no batente acabaram absorvendo a demanda dos doentes. Todos, num curto espaço de tempo, apresentaram sintomas de quadro viral, como foi o caso da dona Maria Angélica Barreto, serviços gerais da padaria, que também precisou ficar em casa: “Eu fiquei com 3 dias de dor de cabeça direto, sem parar. Febre, a garganta 'irritadona', muita moleza no corpo e sem vontade de comer. Passei 4 dias sem me alimentar direito”, conta.
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A padaria do Cassius fornece produtos para outros pequenos negócios da capital cearense. É o caso do café do Café Cultive, na aldeota. E a falta de insumos como pãozinho não é o único problema. A proprietária, Helena Romero, conta que também precisa lidar com afastamento constante de funcionários por questões de saúde. Uma situação que só piora desde o início deste ano.
“Nós temos o total de 16 funcionários, desses 16, 6 foram afastados por Covid. Logo no começo do ano, nas primeiras semanas, alguns já começaram a apresentar sintomas e a gente os isolou o quanto antes. E já estava tendo dificuldade muito grande de encontrar testes, ou serem atendidos nas unidades de saúde, então a gente deu um auxílio para que eles pudessem fazer os testes particulares e eles conseguissem se isolar o quanto antes do restante da equipe - e dos clientes -, para poderem se recuperar bem em casa”, declarou Romero.
E essa realidade não é só desses cafés aqui em Fortaleza, não. Por todo o país, Covid e problemas respiratórios já são a maior causa de afastamento profissional. Segundo dados compilados pela start-up Closecare, atestados médicos relacionados a esses problemas encerraram janeiro representando cerca de 51% do total de afastamentos. Como reitera o presidente do Sindicato dos Médicos do Ceará, Leonardo Alcântara: “A busca pelas unidades de saúde continuam muito alta, principalmente por síndromes respiratórias, tendo a frente aí a Covid e a Influenza. Então, o que a gente tem feito nas unidades é que pacientes que procuram e são acometidos por Influenza, normalmente eles ficam afastados por cinco dias, e pacientes com Covid pelo menos sete dias”. O médico ressalta ainda ser importante lembrar que antes de retornar ao trabalho, esses pacientes precisam estar assintomáticos, caso contrário, podem ainda sim continuar transmitindo.
Porém, sem os auxílios governamentais da primeira onda vai ser um pouco mais difícil, principalmente para os pequenos negócios, se recuperarem do prejuízo em cadeia. Cassius explica como tudo isso afeta não só no seu faturamento, mas nos demais envolvidos no segmento: “É uma cadeia que vai se precarizando, a gente deixou também de comprar alguns produtos que normalmente a gente compraria como farinha, ovo, manteiga… Então a gente deixa de comprar esses produtos, reduziu o faturamento dos nossos fornecedores, deixou de fornecer para os nossos clientes e assim vai. É uma redução que prejudica toda a cadeia produtiva e eu acredito que é um prejuízo que a gente, infelizmente, não consegue recuperar”, finaliza.
Edição: Camila Garcia