O ano mal começou e a distopia brasileira segue a todo vapor. Tem me lembrado inclusive uma das falas de um dos envolvidos com a criação da famosa série Black Mirror, quando ele falava que a série começava a perder seu sentido de existência, pois a realidade cada vez mais assombrosa que vivemos se aproximava daquilo que havia sido construído como ficção nas telas.
No Brasil, os tais desastres ambientais, que de naturais não tem nada, estão cada vez mais recorrentes e agressivos, mas seguimos canalizando ou cobrindo rios pelas cidades, desmatando como se não houvesse amanhã e consumindo o suficiente para uns cinco países. Mais chocante ainda é que todo esse consumismo exagerado e despropositado que vivemos se aplica a cada vez menos parcelas da nossa desigual sociedade. É triste lembrar, mas o país retorna para o mapa da fome e, somado a isso, contamos com uma política econômica desastrosa que permite uma escalada do desemprego e do custo de vida.
Segue-se a criminalização aos movimentos populares que enfrentam cotidianamente essa barbárie, enquanto o governo tira férias, e quando não está de férias está em busca do retrocesso, como a atual posição dos representantes do governo no parlamento que votam contra injeção de recursos para socorrer setores que enfrentam dificuldades como a Lei Paulo Gustavo ou a mais recente ideia do gestor(?) da Fundação Palmares, de trocar o nome da Fundação para Princesa Isabel. O argumento de Frantz Fanon em ‘Pele negra, máscaras brancas’ segue atual e carecendo de nossa mirada.
Espero que não nos esqueçamos: este ano, entre um BBB e uma Copa do Mundo, haverá uma eleição, na qual elegeremos um novo presidente (assim espero), governadores, senadores e deputados, tanto federais quanto estaduais. Estudos já preveem que o parlamento seguirá sendo muito conservador, com tendência a piorar, por isso é importante que fiquemos atentos a todo esse processo.
Eleger Lula presidente, assim como seguir nas ruas por Fora Bolsonaro e toda sua corja, e pela devida responsabilização legal por todas as atrocidades desse governo, é de fato essencial. Nossa meta diária. Mas um país não é feito só da presidência. Precisamos colaborar para a eleição de deputados estaduais e federais, assim como senadores que sejam comprometidos com a construção de um país digno, voltado para o futuro, que invista pesado em educação, cultura, saúde e assistência social, enquanto não superamos nossas desigualdades.
Precisamos dessa bancada progressista, de esquerda e popular – repleta de negros, mulheres, LGBTs, pessoas com deficiência, artistas, sindicalistas, moradores de periferia e dos interiores do país – para garantir que serão propostas Leis que ajudem nesse desenvolvimento que queremos. Mas essa bancada tem um outro papel, tão importante quanto, se não for maior, que é empurrar o futuro governo Lula para uma postura ainda mais progressista do que a de seu último governo e isso só será possível com uma bancada forte no parlamento.
Não esqueçamos que alegando defenderem a família, as esposas e os filhos, foram os deputados que votaram pelo impendimento da Presidenta Dilma, mesmo que o suposto crime que ela havia cometido não era nem um crime de fato, é tanto que em seguida ao golpe os mesmos deputados regularizaram as pedaladas fiscais.
Vários artistas têm se posicionado em favor de Lula e isso é importantíssimo. Nós, trabalhadores da cultura, sabemos bem o pão que o diabo Bolsonaro tem amassado para gente, mas fiquemos atentos ao resto do processo. Como diria a maravilhosa Gal Costa “é preciso estar atento e forte, não temos tempo de temer a morte”.
*Trabalhador da cultura e militante social.
** Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Francisco Barbosa