Sobre a arte que reside na memória e atravessa o agora, o mar e o sertão no encontro entre mulheres. “Eu não caibo mais em mim” é o produto desse encontro, um registro audiovisual sensível da residência artística “Açúcar, Sangue e Memórias”, lançado virtualmente no último domingo, 19 de dezembro, no canal de Youtube Flutuante Produtora.
O projeto, aprovado pela Lei Aldir Blanc no edital Arte Livre: Edital Criação Artística, da Secretaria da Cultura do Ceará (Secult Ce), foi realizado pelo Ateliê Convexo e idealizado por Juliana Tavares, que convidou outras três artistas para construírem a obra de forma coletiva. Juliana, Joaquina Carlos, Tamara Lopes e Débora Santos uniram suas inquietações sobre suas ancestralidades, percorrendo narrativas-memórias que influenciam a trajetória das criadoras e criam o ponto de intersecção entre elas. O registro desse encontro se deu em Fortaleza, Juazeiro e Crato, um percurso pelo Ceará traçado em teatro, dança, ilustração e audiovisual. Quem assinou a direção de fotografia e edição de imagens foi Tamara Lopes, que captou imagens durante todo o percurso dos encontros, da viagem e montagem da obra final.
“As respostas são pistas que ajudam na reconstituição de nossas memórias sobre quem veio antes de nós e como esses ecos permanecem em nossos corpos e palavras”, costura a ilustradora Débora Santos, artista-residente do projeto.
Após a exibição do vídeo-arte no Youtube, que conta com legendas para acessibilidade, as artistas iniciaram um bate-papo ao vivo no Instagram da produtora Flutuante, com presença de intérprete de libras para que todos pudessem participar. A conversa foi um momento de troca de experiências e impressões artísticas sobre o percurso sensível dessa residência artística e o projeto desenvolvido.
A Mestra Naninha (Crato/CE) colaborou de forma significativa na residência ao contar sobre sua história, desde a infância e seus antepassados, sobre as Mestras das Sentinelas, grupo de mulheres que cantavam orações em velórios, das seis da noite às seis da manhã, além de entoar e dançar algumas cantigas das Sentinelas, do Coco, da Lapinha e Coroações, tradições populares do Cariri que ela guarda memória e saberes.
A poesia de um percurso de mulheres
O resultado, de acordo com Débora, foi a construção poética de um doc fic sobre as mulheres envolvidas, suas ancestrais e o que carregam em comum, a arte em suas diversas expressões e a origem, o Ceará. Tudo isso revirado em meio ao período de pandemia, entre isolamentos, perdas e (re)criações.
“Eu não caibo mais em mim” foi uma frase dita pela Joaquina Carlos no primeiro encontro da residência e naquele momento, Juliana, que é atriz e diretora do projeto, sabia que seria o título desta obra. “Acredito que essa frase diz tudo que estamos sentindo nesse momento, pois nós quatro comentamos sobre as reverberações do nosso corpo diante de tantos momentos desastrosos na pandemia. Essa residência também foi uma necessidade de sairmos um pouco de nós mesmas e observar de forma mais íntima e honesta a outra”, reflete Juliana.
Ainda que se possam ver os caminhos percorridos por mulheres nessa residência artística, as questões levantadas pelo vídeo permanecem inquietando memórias e futuros. Como aprofundar sobre a nossa própria ancestralidade? Como documentar as histórias de mulheres importantes na nossa própria história?
Ficha técnica
Realização: Ateliê Convexo
Direção geral: Juliana Tavares
Direção de fotografia e edição: Tamara Lopes
Elenco e proposições artísticas: Débora Santos, Juliana Tavares, Joaquina Carlos e Tamara Lopes
Produção geral: Flutuante - produtora cultural (Juliana Tavares) e Monteiro Produções (Aline Monteiro)
Produção local (Crato e Juazeiro do Norte/CE): Joaquina Carlos
Participação especial: Mestra Naninha (Mestra do Coco e Mestra das Incelenças - SCAN - Sociedade Cratense de Auxílio aos necessitados)
Acessibilidade (Legendas): Aponte Libras
Trilha sonora: Ayrton Pessoa
Onde conferir
Vídeo-arte “Eu não caibo mais em mim” no Youtube e bate-papo com artistas residentes
No Instagram @flutuante.produtora e Flutuante Produtora Cultural no Youtube
Edição: Camila Garcia