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Movimento antivax: o poder da ignorância e da ideologia

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vacina gripe
No Brasil, o próprio presidente da república é o principal garoto propaganda contra a campanha de imunização. - Marcelo Camargo/Agência Brasil
Os antivax representam o egoísmo, a ignorância e o individualismo em seus estados mais brutos.

Nas últimas semanas temos assistido a protestos de grupos contrários a adoção do passaporte da vacina em algumas cidades brasileiras. Em Fortaleza, no dia 1º de dezembro, houve uma mobilização na Câmara Municipal impulsionada pela vereadora Priscila Costa (PSC) e outros parlamentares bolsonaristas. Após essa confusão foi aprovada, por iniciativa da mesma parlamentar, a realização de uma audiência pública para tratar do tema. Ocorrida no último dia 07, a audiência também teve a presença dos vereadores Carmelo Neto (Republicanos), Ronaldo Martins (Republicanos), Sargento Reginauro (Pros), Márcio Martins (Pros) e Inspetor Alberto (Pros), além dos deputados estaduais Soldado Noélio (Pros), Delegado Cavalcante (PTB) e do senador Eduardo Girão (Podemos), que participou remotamente. 

Nesse show de horrores, discursos mentirosos e negacionistas foram disparados sob o pretexto de defesa da liberdade e de combate ao autoritarismo. Mesmo com resistências como essa, o passaporte da vacina está em vigor no Ceará, sendo necessário apresentar o comprovante de imunização em restaurantes, bares e eventos em todo o estado. O certificado nacional de vacinação contra a covid-19 pode ser baixado pelo CearáApp ou no site do ConecteSUS.

Esses grupos e indivíduos contrários à vacina se articulam no mundo todo, sendo no Brasil bastante residuais, graças a nossa tradição de vacinação e ao SUS. Nos EUA, França, Polônia e Itália, os movimentos antivax são tão fortes que o processo de imunização estagnou em índices que não garantem a proteção coletiva da população, ocasionando novas ondas de contaminação, sobretudo entre pessoas não vacinadas, voltando a impactar as redes hospitalares desses países.
 
Casos bizarros e surreais como o italiano que usou um braço falso de silicone para tentar conseguir o comprovante de imunização ou do alemão que assassinou a esposa, três filhas e depois cometeu suicídio após ser descoberto pela falsificação do certificado de vacinação, expressam a gravidade da assimilação e difusão de ideias pela extrema direita, que tem no anticientificismo e no extremismo religioso bases de sustentação ideológica e eleitoral. 

No Brasil, o próprio presidente da república é o principal garoto propaganda contra a campanha de imunização. Orgulhoso de ser o único chefe de Estado do mundo que não se vacinou contra a covid, difunde fake news todos os dias contra a eficácia das vacinas e afirma que é “melhor perder a vida do que a liberdade”, contrariando a própria realidade em que os casos de mortes e contaminações têm diminuindo consideravelmente com o avanço da vacinação.

Essa aparante irracionalidade, por incrível que pareça, tem uma lógica. Por parte das lideranças políticas antivax, essa pauta tem ajudado a manter suas bases de apoio coesas em várias partes do planeta. No caso brasileiro, após três anos de mandato, com o preço dos combustíveis e alimentos às alturas, com os índices recordes de desemprego, com a desmoralização internacional de sua gestão, com a submissão completa ao chamado centrão e com a péssima avaliação do governo em diversas pesquisas de opinião, Bolsonaro pouco tem a oferecer, senão, posições extremadas que aglutinam seus apoiadores mais aguerridos e fanáticos. O que está em jogo no seu cálculo são os votos suficientes que o garantam no segundo turno das eleições de 2022, o que tem conseguido até agora.

A liberdade pelo direito de não se vacinar defendida por determinados parlamentares, apresentadores de TV, influenciadores digitais, artistas, atletas, líderes políticos e religiosos, ou mesmo por cidadãos comuns, em nada tem a ver com garantias legais, respeito à individualidade ou insegurança com relação à eficácia das vacinas. Os antivax representam o egoísmo, a ignorância e o individualismo em seus estados mais brutos, em que suas crenças e interesses pessoais estão acima da coletividade e de qualquer pacto civilizatório.

*Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do Brasil de Fato.

Edição: Francisco Barbosa