Ao olhar os gráficos de casos e mortes por covid-19 em Cuba percebemos não apenas uma queda, mas que os números estão desabando, um declínio tão expressivo que nos dá uma certa felicidade e uma sensação de que essa pandemia pode acabar.
No auge da pandemia na ilha, em agosto de 2021, houve um pico de quase 10 mil casos e 100 mortes por dia de Covid-19, hoje os casos andam na casa dos 300 e as mortes 1 ou 2, no dia que tem. Qual foi o segredo que derrubou tão rapidamente o coronavírus em Cuba?
Outro gráfico que vale a pena dar uma olhada, e talvez seja a principal resposta desse feito para os cubanos, é o de vacinados. Cuba já tem praticamente 90% de sua população vacinada com ao menos uma dose e 80% com esquema completo. Lá já se vacina inclusive crianças a partir de dois anos com grande aceitação e procura.
O sucesso de Cuba é quase um milagre, por se tratar de uma ilha de 11 milhões de habitantes que sofre um enorme embargo dos Estados Unidos. Bloqueio que impede a importação produtos básicos e inclusive proibiu a entrada de seringas para vacinação da população.
Apesar disso, os frutos da revolução se mostram resistentes. O investimento em tecnologias e saúde permitiu a Cuba ser o único país da América Latina que está usando vacinas com desenvolvimento e produção 100% nacionais, sem depender da disputa internacional.
A corrida internacional por vacinas é desigual e injusta, enquanto as nações ricas estocam, apenas 5% da população de países de baixa renda recebeu alguma dose.
Nos Estados Unidos, por exemplo, até o mês de setembro foram jogadas fora mais de 15 milhões de doses de vacina. A baixa procura está entre os principais motivos pra esse absurdo. Esse número seria mais que suficiente para dar a D1 para a população inteira do Haiti que conta com apenas 0,91% de seus cidadãos vacinados.
A vacinação também é desigual aqui no Brasil, enquanto São Paulo tem mais de 90% da população com esquema vacinal completo, Roraima ainda tenta chegar nos seus 40%.
Cuba nos dá o exemplo de como podemos vencer a Covid-19, dentro da receita está a soberania do país, saúde pública forte e investimentos em ciência e tecnologia. Não podemos deixar que a acumulação de vacinas nos países ricos prologue ainda mais a pandemia. Enquanto todos não estiverem vacinados, ninguém está seguro.
O fim da pandemia está próximo, já é possível vê-lo no horizonte, mas ainda é cedo para dizer que acabou.
*Integrante da Rede de Médicos e Médicas Populares no Ceará
**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do Brasil de Fato.
Edição: Camila Garcia