Há alguns dias, um homem branco cis assaltou a temática das redes sociais, mesas de bares e outros espaços de partilha da vida. Sim, estou falando do clipe lançado por Tiago Iorc tratando da masculinidade. Vi muitas críticas formais e informais circulando, textos com leituras cambiando, ora sob ótica positiva ora sob ótica negativa da performatividade dele. Não vou entrar em debates sobre a experiência estética do clipe, para isso sugiro que leiam tanto o texto do Andrio Robert, no Instagram e que vejam também o vídeo da Maria Homem, no seu canal do YouTube.
Eu quero tratar da questão por outro viés. Falar da emergência que esses debates têm tido em nossa contemporaneidade. Esses dias vi vários cursos sobre a questão das masculinidades, isso mesmo gente, com “S”, de múltiplas expressões do que é o masculino, pois não existe uma única forma de ser homem hoje e nem nunca teve.
O debate tem nascido da crise que a masculinidade tem enfrentado nas últimas décadas, além da pressão realizada pelos debates do feminismo a partir de 1960, das teorias queer e dos debates sobre dissidência de gênero. Eles têm forçado a masculinidade hegemônica, fiel do cisheteropatriarcado e herdeira do colonialismo.
Mas acho que o que está faltando é que a masculinidade escute e leia teóricas como Carla Akotirene, Maria Aparecida Silva Bento e Lia Vainer Schucman, para refletir sobre sua branquitude ou sobre os impactos da racialização sobre cada um. Falo especialmente para a branquitude olhar para si, de forma interseccional, pois não é possível refletir o ser homem sem olhar para sua cor, identidade de gênero, orientação sexual e origem de classe. Esses fatores agem como elementos indissociáveis de um organismo. Por isso também que o clipe e a música, assim como o próprio artista, têm sido questionado pela crítica.
Clipe que sai justo no mês que marca a luta do povo preto brasileiro, em um ano de tantos ataques e violências simbólicas, mas também físicas. A branquitude, e falo como homem branco cis que sou, precisa urgentemente se racializar se, de fato, quer construir um Brasil e um mundo novo.
Vejam o clipe, mas vejam também as críticas, pensem o que acham. Mas leiam também cada vez mais, e com qualidade, pensadoras negras e pensadores negros.
*Trabalhador da cultura e militante social.
** Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Francisco Barbosa