O novo decreto de combate à pandemia de covid-19, anunciado pelo governador Camilo Santana (PT) no dia 1º de outubro, reforçou as ações estabelecidas ainda no dia 18 de setembro referente à educação. O governo liberou o retorno das aulas presenciais com 100% da capacidade das salas. Camilo disse que “o comitê definiu que o ensino presencial será priorizado, de forma com que a aprendizagem seja reforçada com a presença do aluno em sala de aula, sendo o modelo híbrido permitido em situações específicas, devidamente comprovadas”.
Ayara Benjamim, estudante do segundo ano do ensino médio e presidenta do grêmio estudantil da EEMTI Presidente Geisel, acredita que mesmo com a maioria dos adolescentes tendo tomado a primeira dose, esse ainda não é o momento de retorno das aulas presenciais, pelo menos não com 100% da capacidade. Ela também afirma que, mesmo com todos os cuidados que as escolas venham a ter para receber os alunos, o risco permanece alto, porque é algo que não vai depender somente da escola, mas principalmente dos próprios alunos, como manter o distanciamento.
“Voltar todos os estudantes é praticamente fechar os olhos pra tudo o que aconteceu nesses anos de pandemia e não ligar para a vida, tanto dos funcionários da escola como a dos alunos e familiares”, afirma Ayara.
Para Isabel Valentim, professora de história do ensino fundamental da rede privada de ensino em Fortaleza, esse momento de retorno das atividades presenciais traz grandes dificuldades para os alunos e professores. Isabel afirma que “também é difícil termos que voltar ao presencial nesse momento que ainda estamos vivenciando, principalmente com 100% da capacidade das salas. Desde que os decretos começaram a avançar em suas liberações as escolas iniciaram o retorno mesmo que com 10, 20 ou 30% da capacidade da sala sem, em nenhum momento elaborarem um plano de como seria feito esse retorno de forma segura para os professores e alunos”.
Isabel explica que quando recebeu a notícia do retorno obrigatório ao ensino presencial com capacidade máxima das salas, ficou preocupada, visto que, de acordo com ela, esse retorno não vinha acontecendo de forma tão segura como deveria. “Mesmo com a quantidade de alunos em sala reduzida e agora com 100% da capacidade a preocupação é ainda maior. E mesmo sentindo muita falta da dinâmica do presencial, fico muito preocupada com esse retorno, de que ele não aconteça de forma segura, e ficamos com a incerteza de como de fato ele acontecerá e quais as suas consequências”.
Claudiana Silva é mãe de uma estudante do ensino médio da rede de ensino pública de Juazeiro do Norte. Ela explica que é importante que o retorno das aulas de forma presencial com 100% da capacidade, aconteça somente após a segunda dose dos jovens que ocupam essas salas de aula. “E ainda assim, por mais que o esquema de vacinação esteja completo, é importante que seja cobrado e respeitado o distanciamento social mínimo dentro das salas e o uso obrigatório de máscaras”.
Claudiana aponta que estamos vivenciando um momento de surgimento de novas variantes que se mostram mais perigosas e que possuem um nível de contágio mais rápido. “Vejo esse retorno mais como uma forma de perigo e ameaça para os familiares. Minha filha, que retornou agora ao ensino presencial e eu moramos com minha mãe, uma senhora de idade que sofre da mesma doença que eu, hipertensão. Isso nos deixa mais apreensivas ainda por fazermos parte do grupo de risco, e mesmo estando com o esquema de vacinação completo sabemos que ainda não é o suficiente”, finaliza.
Entenda o caso
As aulas presenciais para todos os níveis de ensino foram suspensas ainda em março de 2020, no início da pandemia e das medidas de isolamento social no Brasil como forma de barrar e diminuir as taxas de contágio e o número de infectados. Desde então, todas as instituições de ensino, escolas ou universidades públicas e privadas passaram a adotar o sistema de ensino remoto, para que as atividades pudessem ser continuadas.
Com o início da campanha de vacinação, ainda no primeiro semestre de 2021, o governo do estado do Ceará, por meio da Secretaria de Saúde do Estado do Ceará (Sesa) e da Secretaria de Educação do Estado do Ceará (Seduc) iniciou ações para que o ensino presencial das escolas públicas pudesse ser retomado ainda durante o primeiro semestre, mesmo que no formato híbrido, mesclando aulas presenciais e remotas. Em junho, Camilo Santana chegou a anunciar o decreto nº 34.103, primeiro decreto que autorizava escolas de ensino fundamental e médio a retornar às atividades presenciais, porém, a Seduc declarou que o sistema remoto permaneceria até o fim do primeiro semestre letivo.
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Edição: Francisco Barbosa