Na manhã de hoje (30), famílias sem terra do Acampamento Zé Maria do Tomé, em Limoeiro do Norte, no Ceará realizaram doação de cinco toneladas de alimentos para famílias vinculadas à Pastoral da Criança do município. Dentre os produtos doados estão banana, mamão, batata, limão, cheiro verde, pimentão, jerimum, acerola, coco entre outros.
A ação aconteceu em frente à Câmara Municipal de Limoeiro do Norte, e de acordo com a organização, teve como objetivo reafirmar o compromisso das famílias do Acampamento com a solidariedade de classe, o cuidado com a vida, a defesa do acesso à terra e denunciar as tentativas de criminalização da luta dos trabalhadores que ocupam a área do acampamento Zé Maria do Tomé desde 2014.
Otávio Lima, acampado do Acampamento Zé Maria do Tomé relata que “hoje viemos realizar essa ação de solidariedade para contribuir com aqueles que mais precisam em nosso município, essa ação é também para denunciar a tentativa de alguns vereadores da nossa cidade de criminalizar nossa luta”. Ele afirma que na última quinta-feira (23) foram acusados de vândalos, vagabundos, e isso, de acordo com Otávio, não é verdade. “Estamos na terra para trabalhar, viver com dignidade, produzir alimentos saudáveis e matar a fome de quem precisa do alimento”.
Maria Nilzete, da Pastoral da Criança de Limoeiro do Norte agradeceu por esse momento de solidariedade, pelos alimentos recebidos e afirmou que a ação irá ajudar as famílias que mais precisam. “Estamos aqui também pra dar nosso apoio às famílias do acampamento Zé Maria. Não queremos que haja injustiça com ninguém, especialmente com quem luta por uma vida melhor, que defende os menores, que querem terra pra produzir”. Essa doação, de acordo com ela, é um exemplo concreto do objetivo da luta.
Além da distribuição de alimentos, o MST teve direito a palavra durante a sessão na Câmara Municipal de Limoeiro do Norte e denunciou as acusações feitas por alguns vereadores na sessão passada, na última quinta-feira (23).
Kelha Lima, da direção nacional do MST fez o uso da palavra na tribuna. Ela iniciou sua fala agradecendo o espaço e afirmou que o Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra é um movimento reconhecido mundialmente pela sua legitimidade na luta pelo direito ao acesso à terra a camponeses. O movimento, como informou Kelha, é composto por trabalhadores de direitos e de deveres.
“Não somos criminosos, desse modo, exigimos respeito. A nossa luta é legitima. É a luta pelo acesso à terra, é a luta pela melhoria das condições de vida. Dizer que fomos caluniados de forma leviana, de forma mentirosa e queremos deixar explícito que os acampados do Acampamento Zé Maria do Tomé não são responsáveis pelo feito na área próxima ao acampamento, não foram os acampados, não foi o MST. Exigimos dos órgãos responsáveis que seja feita apuração e que punam os verdadeiros culpados, nós estamos naquele território para ter acesso à terra, para produzir alimentos saudáveis”, disse Kelha.
Kelha também afirmou que toda semana, centenas de quilos de alimentos descem a serra e vão para os municípios de Tianguá e Fortaleza para as feiras que são realizadas nessas cidades. Além disso, parte dessa produção também são doadas. Segundo Kelha, são mais de cinco mil quilos de alimentos que serão doados para as famílias que se encontram em vulnerabilidade social no município. “Há sete anos o MST está presente na Chapada do Apodi, são sete anos de muitas lutas e desafios. A terra não tem dono, a terra da Chapada é pública, está na gerência do DENOCS, e assim como os empresários, os camponeses, os sem terra também tem direito aquele espaço. Nossa luta é legitima”.
Entenda o caso
Na última quinta-feira (23), alguns vereadores de Limoeiro do Norte usaram a tribuna da Câmara para deslegitimar a luta das famílias acampadas no Acampamento Zé Maria do Tomé, acusando de destruir pivô usado para irrigação em uma área vizinha ao acampamento.
Confira a nota divulgada pelo MST em repúdio as acusações as famílias sem terra.
NOTA DE REPÚDIO
O Movimento dos Trabalhadores/as Rurais Sem Terra do Ceará vem a público repudiar as acusações sofridas pelas famílias Sem Terras, acampadas no Acampamento Zé Maria do Tomé na Chapada do Apodi, Limoeiro do Norte.
Quinta-feira, 23/09 durante a sessão na câmara Municipal de Limoeiro do Norte, alguns vereadores fascistas e indignos de ocupar a cadeira e falar pelo povo, fizeram acusações levianas, infundadas, atribuindo a culpa às famílias Sem Terra de cortarem as instalações e terem danificado pneus de um pivô central de irrigação em uma área privada, nas proximidades do acampamento Zé Maria do Tomé, inclusive, destacando que as mesmas se beneficiam com os equipamentos que foram danificados, o que não é verdade. Estes vereadores são porta-vozes do modelo excludente, de miséria e de morte do capital na região.
Entendemos que ao usarem de má fé a sigla do Movimento Sem Terra, fica claro ser mais uma tentativa de criminalizar as famílias e deslegitimar os mais de sete anos de lutas e resistência na produção de alimentos saudáveis e na organização popular no território.
Vimos por meio desta, repudiar essa séria acusação aos trabalhadores e trabalhadoras que apenas vivem e tiram seu sustento da terra, e de modo algum exerceriam uma prática de vandalismo com qualquer patrimônio. Solicitamos das autoridades locais, estaduais e federais a abertura de um processo de investigação para que encontrem os culpados.
Acampamento Zé Maria do Tomé Resiste!
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Edição: Francisco Barbosa