Nesta quinta-feira (23), acontecerá o seminário online "Comunicação e Disputas de Narrativas nos Semiáridos da América Latina", realizado pela Plataforma Semiáridos América Latina. A programação acontece de forma online, a partir das 14h. As inscrições são gratuitas e podem ser realizadas aqui. Haverá emissão de certificado digital para os participantes e a discussão será transformada em uma publicação.
Carlos Magno, coordenador de mobilização social do Centro Sabiá e membro da mesa de governança da Plataforma Semiáridos, conta que discutir a comunicação como disputa de narrativas é, sobretudo, “lançar um novo olhar sobre essa região. É mudar a lente dos óculos para olhar sobre essa região, porque as narrativas construídas historicamente sobre esses territórios, seja no Brasil, seja no norte da Argentina, na Bolívia, no Paraguai, são narrativas desconstrutivas desses territórios, que não reconhecem o protagonismo das suas populações e dos sujeitos políticos, então ela vem sempre no sentido de mostrar a pobreza, a miséria”.
A coordenadora de comunicação da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), Fernanda Cruz é uma das debatedoras do evento. Ela explica que em um momento como o que vivemos atualmente, sobretudo com relação ao retrocesso na garantia dos direitos humanos, é fundamental discutir as narrativas que estão colocadas para a sociedade, pois são elas que reforçam, ou não, um determinado ponto de vista. “No Brasil, por exemplo, estamos vivenciando uma crise política extrema e não podemos perder de vista que as narrativas difundidas pela mídia mais conservadora, lá atrás, tiveram um grande peso em relação à situação que vivemos hoje”.
Fernanda afirma que isso vem ocorrendo há muito tempo se for observado a realidade da América Latina, de como aos poucos, as elites foram minando as conquistas da classe trabalhadora em diversos países, a partir da construção de narrativas equivocadas que foram transformadas em grandes histórias únicas.
Sobre as disputas de narrativas, Fernanda explica que essa disputa é uma realidade história e não algo novo. O que muda, de acordo com ela, é o olhar que se tem hoje para o fato de que essa disputa existe e tem muita influência sobre o contexto em que vivemos. “Para mudar a nossa realidade é preciso fazer esse enfrentamento. E o seminário tem esse potencial de nos levar a refletir enquanto território e não apenas localmente sobre as nossas potencialidades e os desafios colocados; bem como chamar a atenção da sociedade pra esse tema, provocando as pessoas a fazerem uma leitura crítica sobre o que ouvem, veem e leem”.
Programação
A programação é gratuita e voltada para pessoas, redes e organizações que têm interesse em comunicação nos Semiáridos. Serão quatro debatedores convidados: Catarina de Angola (Angola Comunicação, Brasil), Fernanda Cruz (Articulação Semiárido Brasileiro, Brasil), Diana Segado (La Tinta, Argentina) e Mídia Ninja (Brasil).
Para Fernanda, a Plataforma Semiáridos tem como um dos seus objetivos fazer essa conexão entre os Semiáridos da América Latina, e a comunicação é um elemento importante para o fortalecimento da perspectiva da convivência com o Semiárido. “E não há como falar de comunicação, regiões Semiáridas e América Latina sem discutir narrativas”.
Questionada sobre como a comunicação pode fortalecer as ações desenvolvidas no Seminário brasileiro, a jornalista afirma que a comunicação sempre foi um componente estratégico naquilo que a ASA tem construído ao longo dos anos, tanto do ponto de vista da mobilização social, quanto na perspectiva da afirmação do semiárido como lugar de vida e beleza. “Para além disso, a comunicação tem o poder de libertar as pessoas à medida que elas se apropriam das suas histórias e passam a compreender que comunicá-las é exercer um direito também e que isso acaba estimulando outras pessoas a fazerem o mesmo. O semiárido brasileiro é um verdadeiro exemplo do que ocorre quando um povo compreende que somos feitos de várias histórias e que não existe uma história única”.
Plataforma Semiáridos América Latina
A Plataforma Semiáridos é uma articulação de quinze organizações sociais espalhadas por 10 países que possuem regiões semiáridas. Foi criada com objetivo de revelar e sistematizar as experiências vinculadas à utilização e à gestão dos territórios nas regiões, fortalecer a sociedade civil, gerar propostas e incidir nas políticas públicas.
No Brasil fazem parte da plataforma o Cetra, Centro Sabiá, AS-PTA e Patac — organizações ligadas à agroecologia, convivência com o semiárido, questão agrária, entre outras pautas de direitos humanos. Além do Brasil, a Plataforma possui organizações na Argentina, Bolívia, Paraguai, Nicarágua, El Salvador, Venezuela, Honduras, Guatemala e Equador.
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Edição: Monyse Ravena