O Brasil de Fato falou com o padre Ermanno Allegri sobre a perseguição sofrida pelo padre Lino Allegri, seu irmão, por simpatizantes bolsonaristas na Igreja onde atua. Os fatos aconteceram neste mês de julho e ganharam repercussão nacionalmente. Sobre as hostilizações que seu irmão sofreu, padre Ermanno Allegri afirma que tudo isso é uma interpretação bem diferente do evangelho e da missão da igreja. “Jesus Cristo veio a esse mundo para anunciar o reino de Deus. O reino de Deus não é um reino com reis, rainhas, cavaleiros, príncipes, damas. O reino de Deus que Jesus Cristo fala é o mundo, é a sociedade do jeito que Deus quer, não do jeito que os poderosos, os pecadores, os egoístas estão construindo”. De acordo com ele, diante da desumanidade que estamos vivendo nesses tempos, a Igreja, inclusive nos documentos oficiais da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) condena os mais de 500 mil mortos e a condução das políticas públicas. “Então isso é um pecado, é aquilo que nos documento, até do conselho ecumênico de qualquer igreja, é chamado de pecado social, e na sociedade se deve condenar o pecado social, além do pecado particular que é o egísmo entre outros”.

Padre Ermanno explica que tudo isso gera um certo mal estar, mas afirma que padre Lino está bem. “Inclusive de manhã temos o costume sempre de rezar juntos, fazer nossa oração da manhã. Diria que estamos dentro da normalidade”. Além disso, afirma que está com uma agenda cheia por conta do grande número de entrevistas sobre o ocorrido.

Após os casos de hostilização, padre Lino recebeu várias mensagens de apoio nas redes sociais e Ermanno afirma que “essa rede de apoio representa exatamente toda aquela faixa da sociedade dentro da igreja que tem como objetivo construir, reconstruir a democracia no país, reconstruir através do compromisso de cada um, no seu setor específico, como a igreja na sociedade. Reconstruir aquilo que queremos, que foi destruído, que foi praticamente eliminado”. Ermanno explica que esses apoios não são somente de dentro da Igreja. “Recebemos umas 20 cartas abertas como apoio, fora os telefonemas pessoais, fora o que a gente recebe nas redes sociais, whatsapp, e-mail… é um monte de pessoas”.

Ermanno afirma que os irmãos têm uma ampla rede de pessoas com quem comungam esta linha de trabalho da igreja que, de acordo com ele, pode ser resumida nas palavras do Papa Francisco que diz que a Igreja deve ser uma Igreja pobre para os pobres, uma igreja em saída rumo as periferias sociais e as periferias existenciais, periferias geográficas e periferias existenciais. “O que quer dizer? As periferias urbanas, área do interior e periferias sociais no sentido de excluídos. Esta é a frase do Papa Francisco que resume hoje aquilo que muitos setores da Igreja estão fazendo já há anos”.

Em relação às ações desempenhadas sobre o poder público sobre o caso, padre Ermanno acredita que o poder público está agindo dentro do seu espaço. “A missão do poder publico é garantir que seja respeitada a ordem da sociedade, a ordem social, inclusive que não haja agressões, e agressões verbais podem ser mais violentas que uma agressão física”.

Confira abaixo a nota da CNBB lida na Paróquia da Paz por padre Lino, no dia 11 de julho, e que gerou um dos episódios de hostilização.

Nota da CNBB diante do atual momento brasileiro

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB levanta sua voz neste momento, mais uma vez, para defender vidas ameaçadas, direitos desrespeitados e para apoiar a restauração da justiça, fazendo valer a verdade. A sociedade democrática brasileira está atravessando um dos períodos mais desafiadores da sua história. A gravidade deste momento exige de todos coragem, sensatez e pronta correção de rumos.

A trágica perda de mais de meio milhão de vidas está agravada pelas denúncias de prevaricação e corrupção no enfrentamento da pandemia da COVID-19. “Ao abdicarem da ética e da busca do bem comum, muitos agentes públicos e privados tornaram-se protagonistas de um cenário desolador, no qual a corrupção ganha destaque.” Apoiamos e conclamamos às instituições da República para que, sob o olhar da sociedade civil, sem se esquivar, efetivem procedimentos em favor da apuração, irrestrita e imparcial, de todas as denúncias, com consequências para quem quer que seja, em vista de imediata correção política e social dos descompassos.

Brasília, 9 de julho de 2021

D. Walmor Oliveira de Azevedo, Arcebispo de Belo Horizonte, MG, Presidente
D. Jaime Spengler Arcebispo de Porto Alegre, RS, 1º Vice-Presidente
D. Mário Antônio da Silva, Bispo de Roraima, RR, 2º Vice-Presidente
D. Joel Portella Amado, Bispo auxiliar do Rio de Janeiro, RJ, Secretário-Geral

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Edição: Monyse Ravena