Nos resta resistir e termos muita paciência, pelos menos esses são meus mantras.
Olá camarada, há quanto tempo. Você acha que existe algo para se comemorar no aniversário em pleno olho do furação da maior crise sanitária da história da humanidade, ainda mais no país que pior tem enfrentado esse problema? Pois é, tenho me perguntado por isso desde a semana passada. Aqueles velhos dilemas, existenciais e concretos, que teimam em nos martelar nesses momentos de virada de ciclo parecem aflorar nesses tempos pandêmicos.
A ausência de encontros, abraços e afagos, inclusive dos seus, se tornou um imperativo quase incontornável, provocando uma série de consequências n’alma humana que não temos condições ainda de mensurar, muito menos a noção de quanto tempo será necessário para superarmos alguns dos traumas abertos ou intensificados por ela.
A incerteza também passou a dominar de forma permanente nossas vidas e projetos (pessoais, familiares ou profissionais). Agora, matar um leão por dia deixou de ser metáfora, tornando-se a regra básica do manual de sobrevivência cotidiana.
Tenho a impressão de que valores tão caros a projetos que por tanto tempo dedicamos nossas vidas, como a empatia e a solidariedade, foram capturados por indivíduos e grupos alheios a eles, e transformados em chavões sem conteúdo. O interesse disso, conhecemos bem: continuar explorando, oprimindo e alienando, sob novas roupagens e discursos.
O genocídio em curso no Brasil me deixa sem sono, perplexo, revoltado, com medo mesmo. A banalização da morte, mesmo não sendo novidade por aqui, sobretudo quando se trata de gente pobre e preta, atingiu um nível assustador. A institucionalização da mentira e a manipulação da fé como política de Estado tem uma função determinante nisso, não acha?
Pois é bicho, nos resta resistir e termos muita paciência, pelos menos esses são meus mantras para conseguir atravessar esses mares tão tortuosos, com ondas de caos organizado e ignorância deliberada. Espero que também esteja conseguindo encontrar seus cais.
No mais, amar, ler, ouvir música, tomar umas, cozinhar e, claro, sonhar, têm sido fundamentais nesses meses tão duros, além do trabalho, mesmo que nesse modelo remoto desgraçado (risos). E são nesses gestos tão simples e demasiadamente humanos que temos que encontrar os momentos para comemorarmos, né? Gestos que para muitos nessa pandemia, estão sendo interrompidos prematuramente. Hoje a vida, mais do que nunca, é um privilégio, aproveitemos! Acho que é isso. Seguimos em contato. Saudades.
Dia de São Pedro do ano de 2021.
Edição: Francisco Barbosa