Tradicionalmente, junho é o mês dos tradicionais festejos juninos, com comidas típicas, apresentações de quadrilhas, quermesses, fogueiras, religiosidades e muito mais, mas por conta da pandemia do coronavírus, estamos no segundo ano consecutivo sem a realização desses eventos. Pelo menos não presencialmente, mas a animação e os debates sobre temas relevantes para a sociedade estão garantidos de forma online, é o que garante a Quadrilha Junina Arraiá Pula Fogueira que, atualmente, conta com aproximadamente 60 membros entre brincantes, equipe de apoio e coordenação. Todos fazem parte do Coletivo Jovens Pula Fogueira, oriundos da comunidade de Paus Brancos uma das 16 comunidades que forma o Assentamento 25 de Maio, o primeiro assentamento do MST no Ceará, e do Assentamento Tigre dos Carneiros que fica ao lado e é dividido entre os municípios de Quixeramobim e Madalena.

A cada ano a quadrilha junina aborda temas importantes voltados para a sociedade como explica Marcelo Matos, jornalista, estudante de direito, quadrilheiro um dos coordenadores do Arraiá Pula Fogueira. “É preciso afirmar o papel da cultura. A cultura é de resistência. Temos um papel importante na transformação da sociedade e ocupar o São João com temas relevantes é importante para demarcar território, é uma forma de abrir o debate com a sociedade sobre assuntos que precisamos discutir e quebrar tabus. Mesmo em 2021 ainda existem temas que a sociedade brasileira tem preconceitos e esses preconceitos são construídos a partir da vivência e das relações sociais e culturais”, afirma. De acordo com Marcelo, a cada ano os temas escolhidos buscam apresentar o momento da conjuntura em que estamos vivendo, por isso, segundo ele, é realizado uma pesquisa e estudos aprofundados sobre o tema que será abordado.

Este ano, a quadrilha terá como tema: “Racismo no Brasil: vidas negras importam”. Marcelo lembra de alguns casos como a morte do músico Evaldo dos Santos Rosa, morto no Rio de Janeiro, em 2019; Ágatha Félix, criança morta no Rio de Janeiro, também em 2019; a morte de George Floyd, em Minneapolis, nos Estados Unidos no ano passado, entre outros. “Diante deste cenário e entendendo que o racismo, principalmente no Brasil, é estrutural, ou seja, constitui as estruturas econômica, social e cultural, é que nós, do Instituto Pula Fogueira, que temos compromisso de inclusão, e de mudança, vamos realizar um São João sem racismo”. . Marcelo afirma que, se o racismo se reproduz na/e por meio da cultura, é também por meio de ações culturais de resistência que se pode combater e enfrentar a discriminação racial ainda tão forte entre a população brasileira.

Marcelo explica que em 2020, mesmo com o advento da pandemia da covid-19, a quadrilha não ficou parada, realizou lives, apresentação do casal de noivos, rainha e alguns brincantes, ciclo de palestras e oficinas virtuais com os membros da quadrilha, com a finalidade de manter o contato e as atividades, mesmo que virtualmente, além de participar de concursos virtuais de destaques, entre eles, de acordo com Marcelo, o Concurso Rainhas G, realizado pela Quadrilha Ceará Junino.

Este ano a quadrilha já está desenvolvendo diversas atividades, desde confecção de figurino, formações online sobre o tema escolhido deste ano. “É importante realizar atividades de formação com os membros do grupo para afirmar o nosso papel, pois não estamos no São João só para estar, estamos com uma proposta diferente, vamos ocupar o São João, e fazer em 2021/2022 um São João sem Racismo”, afirma Marcelo.

Confira a programação

Programação de junho: Ensaios do casamento, preparação e filmagem do casamento matuto para Participar do Madajunino.

Programação de julho: Participação no Madajunino nas categorias casamento Matuto e Escolha da melhor rainha.

Programação de julho: Ensaios online e realização da live “Vidas Negras Importam”, dia 31 de julho, para lançamento do figurino e roda de conversa sobre o tema e show cultural com o regional Chama da Fogueira.

O público pode acompanhar as atividades da Quadrilha Junina Arraiá Pula Fogueira através do instagram @arraiapulafogueira e pelo facebook @institutopulafogueira

Edição: Monyse Ravena