A campanha global tenta vender uma imagem moderna, sustentável e dinâmica da agricultura empresarial
Desde 2016, a Rede Globo se engajou de forma mais explícita na defesa do agronegócio brasileiro, a partir da campanha “Agro é tech, agro é pop, agro é tudo: a indústria riqueza do Brasil”. Como é de praxe, construiu uma narrativa estética poderosíssima, com a exibição de peças publicitárias bastante didáticas e vibrantes, enaltecendo os feitos, a importância e os desafios do Agrobusiness.
A campanha global tenta vender uma imagem moderna, sustentável e dinâmica da agricultura empresarial para o conjunto da população, desconsiderando uma realidade que hoje é determinada pelos interesses de grandes corporações, muitas delas estrangeiras, calcada na concentração de terras, no uso indiscriminado de agrotóxicos, na violência contra povos camponeses, no controle das fontes de água, em crimes contra o meio ambiente e no sequestro do fundo público.
Segundo o Dicionário da Educação do Campo (Editora Expressão Popular), o agronegócio é um “sistema que articula o latifúndio, as indústrias química, metalúrgica e de biotecnologia, o capital financeiro e o mercado, com fortes bases de apoio no aparato político-institucional e também no campo científico e tecnológico. Esse sistema ampliou a monocultura e aumentou a concentração de terras, de renda e de poder político dos grandes produtores. Elevou também a intensidade do trabalho, a migração campo-cidade e o desemprego rural”.
Pesquisa da Oxfam (2019) aponta que, no Brasil, 45% da área rural está concentrada em menos de 1% das propriedades. O último senso agropecuário do IBGE (2017), revela que o agronegócio domina 77% das terras agricultáveis no país e que, entre 2006 e 2017, ocorreu uma diminuição de 9,5% do número de estabelecimentos na agricultura familiar e o fim de 2,2 milhões de postos de trabalho. Mesmo ocupando apenas 23% da área agricultável, os pequenos produtores rurais são responsáveis por certa de 70% dos produtos consumidos pela população brasileira, segundo a Confederação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar (CONTRAF).
Como mencionei anteriormente, um dos pilares de sustentação desse modelo de desenvolvimento no campo é o uso abusivo de defensivos agroquímicos que, no Ceará, conta com o beneplácito do poder público estadual que, desde 1997, isenta os agrotóxicos de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação) e outros tributos.
Entidades como a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e a Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG), agradecem os serviços prestados pela Rede Globo na mistificação da realidade do campo brasileiro, que se retroalimenta do arcaico para atingir seus recordes de produtividade e exportações. Não existe agronegócio bom/legal e ruim/ilegal, ambos se sustentam naquelas características listadas acima.
Do que vale a exibição de séries em defesa dos direitos de povos indígenas, programas de TV que incentivam uma alimentação saudável e matérias que denunciam a atual política ambiental do governo federal se na hora H o seu compromisso é com aqueles que mancham a terra de sangue, veneno e cinzas?
Edição: Francisco Barbosa