Principal porta-voz do Palácio do Planalto na comissão, mesmo afirmando que é independente.
Nas últimas semanas um dos assuntos mais comentados no país tem sido os trabalhos e debates que ocorrem na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, no Senado Federal. Após milhares de mortos, inúmeras atrocidades e os incontáveis crimes cometidos pelo governo, enfim um dos poderes da república procura reagir ao genocídio em curso.
Os depoimentos de dois ex-ministros da saúde, evidenciaram o que todos já sabiam, o desprezo e omissão do poder executivo federal na gestão da pandemia. Além de novas informações que só agravam o dolo de Bolsonaro e sua quadrilha, como a tentativa de mudanças na bula da cloroquina, a falta de respostas para as propostas de venda de vacinas da Pfizer, ainda em agosto de 2020, o desprezo pelo consórcio global Covax Facility, dentre outras.
Destaca-se também o papel do senador cearense Eduardo Girão (Podemos) na defesa intransigente e cega do governo, atuando como o principal porta-voz do Palácio do Planalto na comissão, mesmo afirmando, em entrevistas e nas redes sociais, que é independente. A estratégia de Girão, antes mesmo da instalação da CPI, foi tencionar para que o foco das investigações fossem os repasses financeiros do ministério da saúde aos estados e municípios para o enfrentamento à pandemia, e não o levantamento de informações acerca das responsabilidades que nos colocaram no topo de todos os rankings mundiais de contaminação e mortes, além dos piores índices de vacinação, com média de 22 doses para cada 100 mil habitantes.
O senador bolsonarista, que ganhou maior destaque no cenário público durante sua recente presidência no Fortaleza Esporte Clube, é um grande empresário dos setores de segurança privada e hotelaria. Também é uma liderança importante no interior de movimentos católicos conservadores no Ceará, sendo um dos articuladores da Marcha pela Vida em Fortaleza. O autor do Projeto de Lei (PL) 5.435/2020, em tramitação no senado, propõe a criação do Estatuto da Gestante, que visa incentivar mulheres vítimas de estupro ou em situação de risco de vida na gravidez a não abortarem, mediante auxílio financeiro, contrariando a atual (e limitada) legislação que garante a interrupção da gravidez. Num país em que 181 mulheres e meninas são estupradas por dia, muitas dessas crianças e adolescentes, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública do ano passado.
Ferrenho opositor de qualquer proposta que trate da legalização da maconha, inclusive para uso medicinal e terapêutico, na contramão da tendência mundial, esbraveja aos quatro ventos mentiras absurdas acerca do tema, direcionadas, sobretudo, para sua base de apoio eleitoral. O negaciosismo do parlamentar vira as costas para a ciência, que já comprova a eficácia da cannabis para o tratamento de diversas patologias, como autismo, epilepsia, alzheimer, depressão, ansiedade e enxaqueca crônica.
Enquanto isso, a retirada de direitos dos trabalhadores e trabalhadoras contam com o apoio irrestrito do senador empresário, como a reforma da previdência e a privatização do saneamento básico, já aprovadas, e a proposta de reforma administrativa, que destrói o serviço público no país, em tramitação no congresso.
O (falso) moralismo é o último refúgio do bolsonarismo e seus aliados, como assistimos nos discursos acalorados e performáticos na CPI. O fracasso do governo federal em todas as áreas, além do descrédito internacional da imagem no Brasil, um verdadeiro pária internacional, torna sua defesa uma tarefa quase que inglória. Sem falar das relações espúrias entre o presidente e sua família com o crime organizado no Rio de Janeiro, além das rachadinhas e rachadonas de toda ordem, orçamentos secretos para compra de apoio parlamentar, a política ambiental criminosa, etc, etc, etc.
As máscaras da honestidade, da retidão e da nova política já caíram faz muito tempo. Alguns já pularam do barco, outros continuam latindo, mesmo acuados. Não por convicção ou lealdade, mas para salvarem, mesmo que temporariamente, suas imagens e narrativas desprezíveis.
Edição: Francisco Barbosa