O ano de 2021 será marcado pela saída de cena da chanceler alemã Angela Merkel
Nesses dias encerrou-se mais um processo eleitoral em Israel e, mais uma vez, Benjamin Netanyahu, líder do partido conservador Likud, assumirá o cargo de primeiro ministro, seu quinto mandato nos últimos 13 anos. O ano de 2021 será marcado pela saída de cena da chanceler alemã Angela Merkel, integrante da União Democrata Cristã, após 14 anos no comando da maior potência européia. Monarquia absolutista sob a dinastia dos Al Saud, desde o início do século XX, a Arábia Saudita, governada pelo rei Salman desde 2015, cumpre há décadas a função de principal aliado dos Estados Unidos no sempre conturbado Oriente Médio, região responsável pela exportação de 70% do petróleo comercializado no mundo.
Ao mesmo tempo em que os regimes políticos dessas nações são tratados como exemplos exitosos e alheios a questionamentos acerca da perpetuação no poder de personagens, grupos e partidos ao longo de anos ou décadas, assistimos à criticas permanentes contra experiências de governos que são rotulados como autoritários e suas lideranças tratadas como caudilhos, sobretudo no continente latino americano. Talvez os casos de Cuba, Venezuela e Bolívia sejam os mais emblemáticos.
No Brasil, analistas de grandes veículos de comunicação arvoram-se em denunciar supostos abusos e atropelos contra as democracias venezuelana e boliviana, cometidos por Nicolás Maduro (antes por Hugo Chávez) e Evo Morales. Com relação a realidade cubana, a mesma ladainha de sempre, o povo da ilha caribenha seria submetido ao regime castrista contra sua vontade, convivendo com o atraso econômico e sem liberdade devido à violência da ditadura comunista.
Para o primeiro grupo de nações o princípio da rotatividade de poder é um mero detalhe, já para o segundo, um imperativo usurpado por líderes populistas e cruéis.
Nas análises rasas e parciais dos jornais da Globo, Band, Record e cia, as sistemáticas tentativas de golpes orquestradas pela direita na Venezuela com o apoio explícito dos governos estadunidenses, desde 2002, são justificáveis. A recente deposição do presidente da Bolívia no final de 2019 foi uma medida drástica, mas necessária. O bloqueio comercial e financeiro à Cuba desde 1962, além das inúmeras ações de desestabilização e difamação do país, são parte da campanha sem trégua que procura deslegitimar as conquistas e o legado da revolução cubana.
Na balança liberal e reacionária que mensura a legitimidade de regimes políticos e experiências de governos mundo afora, o rei saudita (mesmo com as violações aos direitos humanos), a chanceler alemã (mesmo com as imposições de medidas de austeridade fiscal à Portugal, Espanha e Grécia) e o primeiro ministro israelense (mesmo com a opressão contra o povo palestino), são o peso necessário para garantir o equilíbrio da hegemonia das classes dominantes, apesar das disputas cada vez mais acirradas entre nações e corporações.
Já o chefe do executivo venezuelano, o ex-presidente indígena e a experiência de resistência cubana, não o que são, mas o projeto de autonomia e soberania que representam, são classificados enquanto anomalias que devem ser combatidas em prol da democracia e da liberdade, leia-se, democracia burguesa e liberdade de mercado.
Edição: Monyse Ravena