Atualmente, o Brasil convive com duas pandemias. A primeira é mundial e já matou quase 350 mil pessoas. A segunda é a fome, um fantasma que ronda a vida das famílias pobres do país e, de acordo com um levantamento realizado pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (Rede PENSSAN), durante a pandemia, que já atinge 9% da população, 19 milhões de brasileiras e brasileiros, um número apenas um pouco menor do que o de pessoas vacinadas contra a covid-19, que não chega a 25 milhões de pessoas.
O desemprego é também uma crescente durante a pandemia. De acordo com o Instituto Brasileiro de geografia e Estatística (IBGE), no primeiro trimestre de 2020, o índice de desemprego no país foi de 13,9%, totalizando 13,4 milhões de pessoas sem emprego, a maior média desde 2002, quando o IBGE iniciou a pesquisa sobre o índice no país. Em relação a 2019, a taxa de desemprego do ano do início da pandemia reuniu um aumento de 840 mil pessoas desempregadas.
Em meio a alta da carestia dos preços de produtos, e a redução do auxílio emergencial, ações sociais de solidariedade como o Projeto Mães de Favelas, idealizado e realizado pela Central Única das Favelas (CUFA) é um ponto de esperança que ajuda famílias chefiadas por mulheres a suportar os males da fome e do desemprego.
Mães de Favela
O projeto Mães de Favela foi idealizado para auxiliar no suporte de mulheres mães chefes de família durante a pandemia do novo coronavírus. O projeto atua na distribuição de cestas básicas montadas através de parcerias com empresas que fazem doações de alimentos para a distribuição nas comunidades. “Nós identificamos que a mãe solo chefe de família desempregada é a pessoa que mais sofre durante a pandemia, daí pensamos o projeto para dar essa força” diz Rhafael Nascimento, coordenador regional da CUFA no Cariri.
Os dados do levantamento feito pela Rede PENSSAN, mostram que a insegurança alimentar atinge em sua maioria lares chefiados por mulheres, com 11,1% de incidência, com alta em domicílios com referência de mulheres negras e pardas, que detém índice de incidência da fome em 10,7% dos lares. Em famílias com predominância de pessoas brancas, essa incidência é de 7,5%. Ao todo, desde o início da pandemia, o projeto Mães de Favela distribuiu 92.240 cestas básicas físicas. No Ceará, até o momento foram distribuídas 5900 cestas básicas físicas para famílias chefiadas por mães solo em áreas periféricas assistidas pela CUFA.
Rafhael conta ainda que durante o acompanhamento das mães foi observado que, além da falta de alimentos, existia também a carência de renda e a insegurança em relação a saúde e a educação dos filhos. Nesse sentido, o projeto realiza ainda a distribuição de uma renda emergencial, feita por parcerias com instituições financeiras parceiras da CUFA.
Ação Solidária
Durante o domingo de páscoa, houve uma ação do projeto no bairro Alto da Penha, no município do Crato. A ação foi realizada em parceria com o Minerva's Motoclube, grupo de mulheres motoqueiras fundado em 2018 e a associação Postim Cultural no apoio logístico da ação de solidariedade. “Nós do motoclube vemos que o maior impacto da pandemia cai sobre as mães de periferia justamente pelo o maior risco que elas se encontram. A maioria desempregadas, com filhos, chefes de família e a fome batendo na porta.” diz a tatuadora Melissa Soares Fernandes Macedo, integrante do Minerva’s. Ao todo, mais de 30 famílias foram beneficiadas com ação de solidariedade, que continua em realização na região, com distribuição de cestas básicas também nas periferias de Juazeiro do Norte.
Edição: Monyse Ravena