Considerado o político mais rico do Brasil, com patrimônio declarado de quase 400 milhões de reais
Tasso Jereissati, senador da república pelo Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), é um dos principais quadros partidários da direita brasileira há mais de três décadas. Considerado o político mais rico do Brasil, com patrimônio declarado de quase 400 milhões de reais, segundo o Radar do Congresso. Sua trajetória política se confunde com sua exitosa atuação empresarial, sendo um símbolo da relação intrínseca entre poder econômico e poder político que se perpetua no país.
Uma das lideranças do movimento de jovens empresários que arquitetou o Centro Industrial do Ceará (CIC) no final dos anos 1970, logo se destacou com uma das principais vozes contrárias aos velhos grupos que dominavam a cena política estadual cearense e que governavam o estado desde a década de 1960. Após a ditadura militar, é eleito governador do Ceará em 1986 pelo Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB). Se elege mais uma vez chefe do executivo cearense em 1994, agora pelo PSDB, sendo reeleito para mais um mandato, ficando no cargo até 2002.
Em 1982 inaugura o shopping Iguatemi, hoje um império comercial com sede em 17 cidades brasileiras e em 1990 funda a TV Jangadeiro. Na longa lista de empreendimentos do Grupo Jereissati, constam ainda, a empresa de telemarketing Contax e uma das maiores fabricantes da Coca Cola no mundo, a companhia Solar, com atuação em todos os nove estados do Nordeste, além de Goiás, Mato Grosso e Tocantins.
Tasso protagonizou um período de transformações importantes no cenário político, econômico e institucional cearense e acabou transformando o estado em um dos primeiros laboratórios de implementação das políticas neoliberais no Brasil, legitimado pelo sedutor apelido de “mudancismo”.
O político milionário é um dos principais porta vozes dos interesses do empresariado no Congresso Nacional. Árduo defensor da terceirização irrestrita e da reforma trabalhista, foi o relator da reforma da previdência no Senado e mais recentemente do projeto que estabeleceu o novo marco regulatório do saneamento básico no Brasil (lei 14.026/2020), sancionado por Bolsonaro em 15 de julho do ano passado, que abre caminho para a privatização completa dos serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário nos estados e municípios. Tem disparado críticas contundentes a algumas posturas e discursos do Presidente da República, questionando, inclusive, sua sanidade. Mera conveniência, já que é um dos articuladores de primeira ordem da agenda econômica ultraliberal do Ministério da Economia.
A sanha e a sede do tucano cearense não param por aí. Desde de 2017 está à frente do Projeto de Lei 495/17 que procura criar os chamados “mercados de águas”, que segundo o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), visa privatizar a transposição do Rio São Francisco e outras bacias hidrográficas, bem como, a possível venda da Eletrobras, com a outorga de 47 lagos hidrelétricos.
A política como negócio, simbolizada no “galeguim dos zói azul”, como é conhecido carinhosamente em terras alencarinas, está longe de ser um caso isolado, como podemos observar no gráfico abaixo.
O Congresso Nacional, e muitas casas legislativas estaduais e municipais, converteram-se em um balcão de negócios para grandes empresários, banqueiros e multinacionais, que abocanham o fundo público do Estado brasileiro, se apropriam de nossos recursos naturais e mercantilizam direitos sociais. Tranquilos, mas insaciáveis com suas contas bancárias cada vez mais gordas, consolidam o sequestro da política pelo dinheiro, a partir da blindagem adquirida com a ocupação de espaços estratégicos da institucionalidade, cada vez mais subordinada a interesses privados e particularistas. Lembrando que para se produzir um litro de coca cola, utiliza-se em média dois litros de água potável.
Título do artigo inspirado na crítica feito pelo deputado federal Glauber Braga (PSOL-RJ) ao senador Tasso Jereissati nas discussões em torno do novo marco regulatório do saneamento.
**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato
Edição: Monyse Ravena