Uma simples viagem serve de mote para as toadas do grupo de mulheres do coco do bairro Gisélia Pinheiro, mais conhecido como Batateira, no município do Crato.
Lá habita a Mestra Edite do Coco, que fundou e mantém o grupo desde 1979. Edite Dias de Oliveira Silva é natural de Bom Conselho em Pernambuco, mas vive em terras cearenses já a mais de 50 anos. Sagrada Mestra da Cultura na 13ª edição do Encontro Mestres do Mundo, Mestra Edite conta um pouco sobre a origem do grupo e sua importância para a cultura estadual e regional, em entrevista ao Brasil de Fato Ceará.
Na casca do coco
Entre as diversas manifestações culturais que povoam o Ceará, a dança do coco está presente como prática popular do litoral ao sertão do estado. Com influências de origem indígena e africana, a dança do coco é ritmada pelo toque de tambores e, em sua origem, acredita-se que os toques da quebra da casca do coco por escravizados deram origem aos primeiros acordes da tradicional dança.
Ao ser perguntada sobre a origem do grupo, primeiro, dona Edite responde sobre as primeiras danças, feitas por pessoas negras que trouxeram os versos e toadas de África. “Ela (a dança do coco) é de origem africana, então nós já aproveitamos o que a gente já conheceu de muito tempo, dos nossos avós, bisavós, as histórias.” principia mestra Edite em sua fala.
O seu grupo teve início em uma sala de aula do antigo Movimento Brasileiro de Alfabetização (Mobral), do qual dona Edite era monitora. A semana do folclore na Expocrato e a abertura da festa de Nossa Senhora da Penha, no primeiro ano do grupo, foi a deixa que fez com que as estudantes daquela sala fossem se apresentar na dança do coco. “Uma amiga minha - Antônia Selma Gomes, também tutora do Mobral -, sabia a dança e um grupo de estudantes também sabia dançar e daí fomos nos apresentar na Praça da Sé, fomos muito aplaudidas e até hoje a gente vem segurando o grupo, desde 1979” relata dona Edite.
Vivências cantadas
Mestra Edite conta que usa como inspiração para as toadas do seu grupo a sua experiência de vida como agricultora que, muito lhe ensinou sobre o mundo e sobre si mesma. Em suas viagens, observa as sonoridades que a natureza produz e assim escreve e descreve na dança do coco o mundo ao seu redor. “Nós somos todas agricultoras, e no caminho da roça, na palha do feijão, na queda do milho, no xaxado do feijão, no mexidinho das folhas, com aquele chacoalho, as vezes a gente pega com uma música que a gente já tem e aí junta tudo em uma roda de coco.” diz dona Edite.
A mestra também conta que ainda preserva esse costume de musicar sua vivência em suas viagens, quando reúne os sons e palavras novas que ouve e aprende para integrar em uma letra de sua roda de coco. “A gente vai para um lugar mais diferente, aí encontra algo pela viagem e quando chegamos junta-se um grupo de três e aí formamos da conversa que a gente teve em determinada viagem e aí escolhemos as palavras para formas as músicas do nosso grupo” conta a mestra.
Valor Cultural
Para Dona Edite, o grupo é um ato de amor, que é valorizado por ser feito dentro da sua comunidade. “As vezes nós vamos para um lugar e vemos alguma pessoa tristinha, de canto, aí quando começamos a dançar, todo mundo se alegra, se renova, mexe com eles na sua infância. Sou muito feliz e valorizo demais o grupo.” diz mestra Edite emocionada.
Para ela, manter o grupo por tanto tempo com a mesma alegria é sinal de que a dança do coco faz parte da sua vida e da comunidade. “Com tanto tempo que nós estamos aqui com o coco, fico muito feliz de ter conhecido tanta gente boa e dançado por todo esse tempo” ressalta a mestra.
Edição: Monyse Ravena