Em 2020, publicações nas redes sociais levantavam o questionamento sobre "o que seria de nós sem a arte?". No meio de uma pandemia mundial, isolados, séries, filmes e lives faziam da arte válvula de escape. E a ordem dos dias eram: sobreviver aos impactos sociais, econômicos e culturais causados pelo vírus.
No ano de 2021, ainda vivemos uma pandemia, mas com vacinação à vista e a chegada de uma nova gestão municipal em Fortaleza e, com ela, a cultura recebe uma nova secretaria e seus desafios. Como lançar um olhar com responsabilidade para a cultura de uma cidade? A escolha de um secretário de cultura tem que peso? Qual o perfil?
É sabido que cargos são negociados durante as campanhas, o que não é segredo para ninguém. E quando o nome foi anunciado as três perguntas são respondidas, levantam mais questionamentos e aquela necessidade de um gestor técnico com sensibilidade para as linguagens artísticas ficou no nosso desejo.
Enquanto isso, do lado de cá, travamos batalhas burocráticas para dar conta dos projetos apoiados pela Lei Aldir Blanc, sobrevivendo enquanto criamos, produzimos e executamos arte. Sim, aquela que para alguns era válvula de escape.
"Colocar a cultura na agenda principal de Fortaleza é a prioridade", disse o novo secretário em um outro veículo de notícias. Más será que ele está disposto a olhar para as várias Fortalezas que Fortaleza tem? E como colocar cultura na agenda das Fortalezas tão desiguais?
E a nós artistas, o que resta? Ao meu ver, continuar buscando a organização em seus diversos níveis, ficar sempre de olho e cobrar, já que, a política pública cultural deveria fazer parte dos pilares da construção de uma cidade e ainda que avanços sejam percebidos, há muito o que ser feito para que a cultura faça parte da vida dos habitantes de forma democrática. Para tanto um diálogo entre as linguagens artísticas e a secretaria de cultura precisa existir, com escuta empática, vontade política e investimentos. Estamos de olho.
*Grafiteiro e Produtor Cultural
Edição: Monyse Ravena