Esses dias iniciais de novo ano, que mais parece um eterno ano de mil dias, ouvi muito a palavra esperança. E passei dias com ela engasgada em mim, porque tudo o que não quero agora para a classe trabalhadora é o sentimento de esperança renovada. Explico.
Por mais que engajemos essa palavra, ela sempre me incomodou, porque sempre me passou a ideia de estagnação, de esperar com fé para que algo aconteça, torcer a favor e, esperar.
E vamos esperar o quê? Que se morra mais gente de covid-19, enquanto o Estado infame deste país, claramente se empenha para dificultar a compra e distribuição gratuita, da vacina para população? Vacina arrancada à revelia das mãos do capital, vale ressaltar. Esperançar em dias melhores, enquanto se gasta 15 milhões de leite condensado em compras do supermercado, do planalto central? Expectar por volta à normalidade dos dias? Dias cada vez mais desumanizados e em condições cada vez mais degradantes para a classe trabalhadora?
Não, não quero ter esperança, quero antes a perspectiva revolucionária que se sabe mutável, mas que se coloca ativa e enérgica no seu fazer. Uma perspectiva que tem paciência histórica para avançar e recuar, mas nunca ficar inerte. Que se coloca como tarefa a luta por uma nova sociabilidade, que garanta a efetiva liberdade para a classe trabalhadora. Que tendo como base a organização coletiva, fortalece homens e mulheres na busca e na luta por um devir emancipado e uma decisiva camaradagem entre toda a humanidade.
Que a perspectiva revolucionária seja a força motriz para esses dias tão sombrios e violentos que vivemos atualmente. Que seja ela, e não a esperança burguesa, que nos ponha sempre em marcha na busca por um outro modo de vida, uma outra sociabilidade.
Edição: Monyse Ravena