Retrata a mitologia grega que Midas, um imponente Rei na Grécia antiga, apesar de viver com fartura e abundância no seu castelo era obcecado por ouro. E assim, ao conseguir a graça da divindade, fez o pedido de ser capaz de transformar em ouro tudo o que tocasse. Árvores, roupas e pedras: tudo transmudado em ouro, mas também água, pão e até mesmo a sua filha. Como na antiguidade, observamos a mesma obsessão atualmente.
No Brasil, mesmo com 206 mil mortos na pandemia de covid-19 e sem um plano de vacinação nacional à altura dos desafios, o governo Bolsonaro trata com desdém injustificável a situação no país. Alicerçado numa opção negacionista, busca receitas milagrosas com o liberalismo irracional de Paulo Guedes – uma combinação explosiva. O resultado é a ampliação do desemprego no país em plena crise sanitária e econômica. Além de fechar até cinco mil vagas no Banco do Brasil, a Ford anunciou o fechamento de suas operações no país.
Boa parte do noticiário da grande mídia apresentou com entusiasmo a reestruturação do Banco do Brasil, transformando em números o impacto destas mudanças. A maior delas, seria a economia para o banco de R$ 2,7 bilhões até 2025. Secundarizando, não apenas o impacto do fechamento de postos de trabalhos, mas também a redução da rede de atendimento, em 361 unidades.
O Banco do Brasil, ao longo dos seus 212 anos, desenvolve uma importante função social, onde em muitos municípios do nossos país é o único representante da rede bancária, por exemplo. O fechamento de uma unidade no interior representa um enorme revés na economia local da cidade, forçando a ‘busca pelo dinheiro’ na cidade vizinha e consequentemente estagnando o comércio local. É este cenário que preocupa os prefeitos recém eleitos país afora e que pressionam o chamado ‘Centrão’ – a direita tradicional, na recente queda de braços com o presidente do Banco do Brasil, sr. André Brandão.
André Brandão, oriundo do HSBC, ao conduzir os negócios do BB como um banco privado, tem demonstrado profundo desrespeito pelas entidades sindicais e associativas do funcionalismo do BB. O plano de reestruturação não foi apresentado previamente aos representantes dos trabalhadores. Mesmo em reuniões posteriores ao lançamento, os órgãos do Banco do Brasil limitam-se a afirmar que não estão autorizados a tratar do tema. E a lista de unidades fechadas não foi revelada pela direção do banco.
Nossa preocupação é apenas com a economia? Transformaremos tudo em ouro, como Midas? Os 206 mil mortos nesta pandemia são apenas isto – quer dizer – números? A função social do BB não pode se submeter a lógica dos seus concorrentes privados. É necessários criarmos as condições, através de muito suor, lágrimas e luta, para um novo paradigma para o Banco do Brasil, onde sua função social seja o eixo fundante de sua atuação.
Por isto que nesta sexta-feira, dia 15, o funcionalismo do BB e a sociedade em geral vão mostrar sua indignação com luta e luto. Vestidos de pretos vamos pressionar o governo Bolsonaro, seu ministro Paulo Guedes e o presidente do BB André Brandão para mostrar nossa insatisfação e resistir aos ataques.
*Diretor de assuntos jurídicos do Sindicato dos Bancários CE e Coordenador do Conselho de Usuários da Cassi CE
Edição: Monyse Ravena