O Partido Socialismo e Liberdade (Psol) elegeu Edson Veriato prefeito em Potengi, sendo essa sua primeira experiência no executivo municipal de uma das 184 cidades cearenses. A cidade caririense na Chapada do Araripe, com uma população estimada de 11.106 pessoas, escolheu Edson, um homem negro de 35 anos, agricultor, oriundo do movimento popular, para gerir os próximos quatro anos do município. Conversamos com Edson sobre sua trajetória e seus projetos para a gestão que inicia.
Brasil de Fato - Antes de abordarmos sobre sua importante vitória em Potengi, gostaria que você nos falasse um pouco sobre sua trajetória. Como e onde iniciou sua atuação política?
Edson Veriato - Eu venho do movimento estudantil, o primeiro movimento que eu fiz parte foi a União da Juventude Socialista (UJS), depois disso eu me filio ao PCdoB, então a gente começa a entrar no movimento estudantil secundarista, organizar os grêmios da cidade, participar dos Congressos da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES) e nesse mesmo período eu também faço parte do movimento cultural hip hop; eu venho do hip hop, na época até atuei na Nação Hip Hop Brasil, que tinha como um dos líderes Aliado G do grupo Face da Morte, e a gente sempre teve essa sintonia. A partir daí do movimento estudantil, do movimento hip hop a gente desperta pra política. É nesse mesmo período também que começamos a articular movimento comunitário, associações, federação de associações, também a questão do movimento sindical. A gente conseguiu ser eleito prefeito de Potengi porque decidimos dar um primeiro passo, que é lutar para transformar nossa realidade em volta, uma realidade de pobreza, em um município que não tem emprego, que nossa juventude tem que sair para outros lugares e a partir disso, eu disse: está errado, vamos levantar a cabeça e vamos transformar isso. Agora dentro de um governo a gente vai trabalhar ações e políticas públicas, que a gente possamos diminuir alguns desses impactos.
Brasil de Fato - Potengi terá um prefeito agricultor, como isso afeta os seus projetos para o município?
Edson Veriato - Eu acho que contribui muito porque eu conheço a realidade, estou em contato diário com as comunidades e hoje nós temos um secretário de agricultura que tem mestrado, doutorado e pós-doutorado na área, então a partir disso acredito que a gente vai conseguir desenvolver um excelente trabalho. No geral, nós montamos um secretariado de corpo técnico, como o secretário de educação que também tem doutorado. Então, é um agricultor que se elege prefeito e escolhe para o corpo técnico administrativo pessoas que tem doutorado em cada área específica, então acredito que dessa forma a gente vai conseguir trazer resultados positivos.
Brasil de Fato - Edson, esse ano o Psol nacionalmente saiu fortalecido das eleições municipais de 2020 e no Ceará não foi diferente. Você é o primeiro prefeito eleito pelo Partido no estado, a que você atribui esse resultado?
Edson Veriato - Fazer política no interior e por você ser pobre, da roça, por aí já tem um certo preconceito e a gente teve que superar tudo isso. Tem uma outra barreira que é por ser um partido de esquerda, você ser militante de esquerda, ser preto, ser pobre, da roça é uma barreira absurda, mas que a gente conseguiu sair vitorioso e o Psol é hoje um partido de referência nacional. Nós temos uma bancada que se destaca no mundo inteiro e aqui no nosso município muitas pessoas conhecem a atuação dos nossos deputados. O Psol consegue entrar no nosso município a partir da nossa luta e ganhar visibilidade a partir da nossa influência nas comunidades e levar também essa forte atuação de nossos deputados no dia a dia do povo, ora, nós temos deputados que defendem o interesse do povo, defendem o interesse das minorias, da classe trabalhadora e a partir disso eu acho que a gente consegue trazer o Psol, um partido de esquerda, para o município e não ter tanto essa rejeição, apesar de ser no interior. Então, o Psol entra em Potengi a partir de toda essa conjuntura, de toda essa luta e pela própria combatividade do Partido no cenário nacional. Um fator determinante é o trabalho coletivo da nossa militância e da nossa luta.
Brasil de Fato - Quais os principais projetos que você e sua gestão pretendem desenvolver durante o mandato?
Edson Veriato - Nós estamos pegando uma prefeitura sucateada, para se ter ideia, no dia da posse a gente já encontra um hospital com uma ambulância sem gasolina, toda uma estrutura precária, problemas, inclusive, a ponto de não garantir os serviços essenciais nesse começo de gestão. A nossa grande responsabilidade agora de início é fazer com que a máquina funcione, que funcionem os serviços essenciais e posterior a isso trabalhar em cima de novos projetos. Nós fizemos um programa de governo em diálogo com a sociedade e nos próximos meses a gente vai começar a fazer conferências municipais e chamar o nosso povo pra debater políticas públicas e de forma bem participativa a gente vai construir o nosso plano de gestão com a participação do povo. Pegar o nosso plano de governo, levar pra o debate e construir junto da população. Claro que vamos levar propostas e com o plano feito, mas a gente que ouvir o povo, ouvir a população. O diferencial do nosso governo vai ser esse, é de fato dar autonomia para o povo nesse sentido, trazer o povo pra construção coletiva.
Brasil de Fato - Além da sua eleição, o Psol conseguiu fazer três vereadores de uma Câmara que é composta por nove parlamentares. Sendo uma jovem psicóloga e dois agricultores. Como essa bancada vai contribuir com a sua gestão?
Edson Veriato - Nós temos o Ailton Leite, que é o presidente da Câmara, ferreiro e agricultor, o Zé de Julio, que é agricultor, e a Aline Sergio, que é psicóloga, líder do Partido na Câmara e a vereadora mais jovem eleita. São vereadores que vem da nossa militância política, da nossa base, e eu acredito que esses três vereadores também vão estar somando, apresentando projetos que possam de fato levar os anseios do povo e que isso possa estar sendo transformado em projeto e trazer benefícios para o município. Eu acredito que esse apoio da Câmara pra que a gente possa governar bem e com estabilidade vai ser fundamental.
Brasil de Fato - Logo que você foi eleito, ficou muito nítido uma disposição sua para o diálogo, você fez uma viagem a Fortaleza e fez reuniões com diversos secretários de estado, como Inácio Arruda e Fabiano Piuba, além de parlamentares. Como você vê a questão da unidade nesse próximo período?
Edson Veriato - A nível de estado ela é bem diferente do nacional. Esse diálogo com o secretariado e com os parlamentares é importante para nos ajudar a conduzir a administração. Precisaremos de apoio naturalmente. O Psol hoje é oposição ao Governo do Estado, uma oposição coerente com o Renato Roseno, mas na minha situação como prefeito eleito já busquei de imediato o contato com Governo do Estado porque de fato a gente precisa construir essa unidade pra poder governar o nosso município. Seremos um governo do povo e o povo tem uma expectativa com relação a nossa gestão e eu acredito que buscando esses apoios a gente vai ter como conseguir projetos e fortalecer mais ainda o nosso programa de governo pra ser executado. Sobre a questão nacional é um cenário meio complicado com um governo que não defende os interesses do povo, então é difícil por conta da situação que nós estamos vivendo, mas a nossa posição é a mesma do Psol estadual e nacional. Mas vamos buscar apoio, todo apoio possível para governar o nosso município e é necessário buscar apoio no governo federal para que a gente possa trazer recursos ao nosso município. Claro, sempre assumindo a nossa responsabilidade e a nossa posição política.
Brasil de Fato - O que vai diferenciar a sua gestão das que lhe antecederam?
Edson Veriato - A participação popular. É ouvir as comunidades, estar próximo do povo. Morar na cidade, eu digo isso porque nenhum outro gestor mora na cidade, dificilmente eles conseguem ficar aqui e eu sou filho natural, moro na Vila Padre Cícero e pode ter certeza que a diferença também vai ser existir no social, na cultura, no esporte. Fazer uma gestão diferente, dentro da saúde, da educação e temos um desafio grandioso que é gerar emprego e renda no nosso município, um município que vive de programas de transferência de renda do governo – aposentadoria, Bolsa Família etc. – e do comércio local, mas que também não é um comércio que consegue gerar uma renda, uma economia. Isso em um município que não tem uma fábrica ou uma indústria. Então nosso grande desafio também vai ser esse, gerar emprego e renda para o nosso Potengi.
Brasil de Fato - Além da bancada do Psol, o PT também fez três vereadores, o que faz com que a maioria da Câmara seja de esquerda. Como você avalia que essa composição afetará os próximos quatro anos de Potengi?
Edson Veriato - Os vereadores do Psol são vereadores de militância orgânica, já os demais não. Então, teremos dificuldades nessa relação, mas a gente quer sim o apoio, até porque é um partido que tem uma história nacionalmente, tem o governo do estado. Falta base orgânica do PT aqui no município, mas é claro que existe o diálogo, aproximações e a gente vai buscar sim esse diálogo.
Brasil de Fato - É inevitável conversar sobre qualquer assunto hoje e não tocar na questão da pandemia. Como que o encerramento do auxílio emergencial vai afetar Potengi?
Edson Veriato - Vai trazer sérios problemas. Hoje o município e as pessoas conseguem com essa renda a mais ter, de certa forma, algum conforto financeiro; com o encerramento do auxílio mais problemas virão, tem a questão de empregos que já não tem em nosso município e a prorrogação do auxílio emergencial seria importante, porque aí você consegue trazer mais renda para o município e consegue fazer com que essas pessoas possam viver um pouquinho melhor. É pouco, mas é um pouco que já serve muito. Com o encerramento do auxílio isso vai trazer muito mais problemas, além dos já existentes. Ainda tem certo medo com o número de casos subindo em alguns estados, inclusive o vírus já passando por esse processo de mutação e o não pagamento do auxílio eu acredito que a tendência é piorar mais ainda, pois o auxílio aqui em nosso Potengi ajudou demais.
Brasil de Fato - Ainda sobre a covid-19, como seu governo pretende enfrentar a situação durante sua gestão?
Edson Veriato - Nós pegamos um município que estava a mais de 40 dias que não estava dando publicidade ao boletim diário, com os casos, as notificações, estava sem fazer teste. A nossa equipe já começou a divulgar os primeiros testes que vem sendo feito e já está com um plano de contingência sobre os trabalhos já atuais e naturalmente com o que a gente vai fazer no decorrer das próximas semanas. A gente pega um município que até então com muitas dificuldades nesse início porque deixaram poucas informações e estamos buscando medidas e materiais para o enfrentamento a pandemia, mas o essencial agora nesse exato momento está tendo que são os testes e também a informação a população.
Edição: Monyse Ravena