Ceará

Consciência Negra

Conheça Preta Tia Simoa e sua luta por liberdade no Ceará do século 19

Muitas são as mulheres negras que a historiografia oficial não cita comumente

Brasil de Fato | Juazeiro do Norte (CE) |
Muitos jovens participaram do protesto manifestando sua indignação através de cartazes - Ezequiela Scapini

O mês de novembro é marcado pelo Dia da Consciência Negra e tem ficado conhecido como "novembro negro". A data é um apelo nacional para o enfrentamento ao racismo que ainda faz parte do cotidiano do país. 

Vidas esquecidas

Muitas são as mulheres negras que a historiografia oficial não cita comumente como, por exemplo, Beata Maria de Araújo, Guerreira Zeferina, Teresa de Benguela, Luiza Mahin, entre outras. No Ceará, a importante atuação de Preta Tia Simoa foi fundamental para a abolição da escravização de negros. Longe de ser mencionada como heroína do seu povo, a luta de Tia Simoa não passa despercebida no trabalho da historiadora cearense Karla Alves. Sua pesquisa foi feita através da análise de material histórico que mostrava fortes evidências de que Preta Tia Simoa foi uma liderança na mobilização de trabalhadores jangadeiros contra o transporte de negros escravizados para a capital da província do Ceará, no século 19. “Durante a paralisação dos jangadeiros, Preta Tia Simoa mobilizou um grande números de pessoas para ajudar a defender os trabalhadores. Uma mulher negra, liberta que tinha essa capacidade de mobilização, nos remete a ideia de que ela era de fato uma liderança” explica Karla.

Epistemicídio

Epistemicídio é o nome dado ao conjunto de ações tomadas com o objetivo de negar qualquer conhecimento às pessoas negras, colocando-as como não pessoas. A pesquisadora e filósofa Sueli Carneiro é a principal referência sobre o tema no Brasil e, em seus estudos, ela caracteriza o epistemicídio com a desvalorização da pessoa negra pelo apagamento e negação do seu existir.

Para Hilário Ferreira, mestre em História Social pela Universidade Federal do Ceará (UFC), este apagamento está ligado à formação da ideia de identidade nacional atrelada as relações sociais que, durante o século XIX, construiu a noção de inferioridade da pessoa negra, mesmo após a abolição. “O projeto de nação brasileira, feito após o fim da escravidão e início da república é criado com o objetivo de valorizar e organizar a sociedade para beneficiar os brancos. As produções que são vistas como oficiais tem o papel de enaltecer as obras dos brancos e negar e silencias a história dos negros e indígenas” diz Hilário. 

 

Edição: Francisco Barbosa