Ceará

Eleições 2020

Paula Colares (UP): "Garantir para os desempregados passe livre nos transportes"

Candidata afirma que fará reformas tributárias para permitir um aumento nos gastos sociais

Brasil de Fato | Fortaleza (CE) |
É a primeira vez que Paula Colares disputa a Prefeitura de Fortaleza - Divulgação

Candidata pelo partido Unidade Popular (UP), Paula Colares é professora da rede municipal de ensino em Fortaleza. Iniciou sua militância no movimento estudantil da Universidade Federal do Ceará (UFC), onde cursou pedagogia, faz parte da Coordenação Nacional do Movimento de Mulheres Olga Benário e é a atual presidente estadual da UP no Ceará. É a primeira vez que Paula Colares disputa a prefeitura de Fortaleza, assim como é a primeira participação nas eleições do UP.

O Brasil de Fato realiza uma série de entrevistas com os candidatos à Prefeitura de Fortaleza, a ordem foi definida pela colocação em pesquisas eleitorais. O candidato respondeu perguntas sobre emprego e renda, meio ambiente, segurança pública, educação e saúde.
 

De acordo com Paula Colares a crise econômica em que passa o Brasil é uma das razões do alto índice de desemprego, “a política desse governo de generais e fascistas de Brasília está levando o desespero e a fome para milhões de pessoas no Brasil”, afirmou a candidata.

“Fortaleza tem sido praticamente loteada pelo grande capital imobiliário. O lucro está acima de tudo, inclusive da preservação do Meio Ambiente. Primeiramente, é preciso Coragem para enfrentar esse lobby das construtoras e temos disposição de realizar esse enfretamento. ”

Sobre a saúde em Fortaleza, ela considera que a defesa do Sistema Único de Saúde, a realização de concursos e a valorização dos profissionais e o bom funcionamento da rede de atenção municipal são caminhos para melhorar o acesso à saúde da população, “no entanto acreditamos que é necessário a construção de cinco hospitais nos cinco bairros onde o índice de desenvolvimento humano é menor” .

Brasil de Fato: Fortaleza teve uma retração no emprego de 7,3% em um ano. Com a pandemia de coronavírus houve um acréscimo ainda maior no número de desempregados na capital. Como você enxerga a forma de recuperar esses postos de trabalho em Fortaleza?

Paula Colares: Temos um enorme contigente de desempregados. Isso ocorre pela grave crise econnômica vivida em todo o país, agravada pela pandemia. A política desse governo de generais e fascistas de Brasília está levando o desespero e a fome para milhões de pessoas no Brasil. Embora saibamos que o problema é sistêmico, uma realidade do Capitalismo, o atual governo federal agrava a situação com essa política neoliberal. Ao mesmo tempo, Estado e Municipio poderiam fazer muito mais pelas pessoas pois milhares de mães e pais são obrigados, em virtude da situação, a fazerem bico, migrando para o trabalho informal. Acredito em três linhas de ação para resgatar o mínimo de dignidade: 1- Gerar de imediato 20 mil frentes de trabalho, 50% de mulheres, mães de família, nas áreas de limpreza, conservação, asfaltamento e reestruturação física de inúmeras praças e equipamentos públicos da cidade; 2 – garantir para os desempregados PASSE LIVRE nos transportes para que continuem procurando emprego; 3 – Para aqueles que já migraram para o trabalho informal garantir cursos profissionalizantes e crédito de baixo custo através da criação do Banco Municipal de Fomento ao Microempreendor. Achamos que, com essas medidas, poderemos contribuir muito para minimizar essa grave situação do povo de Fortaleza.
 
Um dos interesses que vem crescendo entre os eleitores é pauta ambiental. Neste ano houve uma tentativa de destruir uma área verde localizada no bairro da Sabiaguaba, no local seria construído um empreendimento imobiliário. Após pressão popular o poder público retrocedeu na sua decisão, mas outras demandas ainda seguem pertinentes, como a preservação das dunas e dos parques, como o do Cocó. Como você pretende, caso eleito, mediar a preservação da natureza e o desenvolvimento em Fortaleza?

Fortaleza tem sido praticamente loteada pelo grande capital imobiliário. O lucro está acima de tudo, inclusive da preservação do Meio Ambiente. Primeiramente, é preciso Coragem para enfrentar esse lobby das construtoras e temos disposição de realizar esse enfretamento. Não temos rabo preso ou medo desses empresários. Vamos realizar um amplo debate público sobre a preservação Ambiental. Criar e fortalecer Conselhos e Comitês de Preservação, dando-lhes mais poder de decisão e garantindo participação ativa nas políticas publicas implementadas pela Prefeitura. Vamos Fortalecer a fiscalização do município, ampliar áreas destinadas ao Turismo Sustentável, garantir ampla transparência e fortalecer a base técnica nos laudos e álvaras ambientais, criar zonas especiais de preservação, revisão, caso seja necessário, de áreas já liberadas para construção, ampliar e reestruturar o programa de coleta seletiva da cidade, pois é muito tímida, investir em energia renovável para os próprios edifícios da prefeitura municpal. Enfim, queremos trazer a sociedade fortalezense, sem esquecer da total responsabilidade de cada um na construção de uma cidade muito mais verde, saudável e sustentável economicamente.
 
Os assassinatos de adolescentes em Fortaleza tiveram um aumento de 163% só no primeiro semestre de 2020, segundo o Comitê Cearense pela Prevenção de Homicídios na Adolescência, além de aumento em mortes violentas, no geral. Um dos principais motivos da escalada da violência é a disputa entre as facções, que aliciam a juventude das periferias. Quais proposições sua candidatura tem para enfrentar a violência e o aliciamento da juventude em Fortaleza?

Em primeiro lugar, vivemos numa sociedade profundamente desigual. As periferias são abandonadas e nos bairros nobres sobram investimentos. De um lado, miséria, desemprego e desesperança; de outro, muita fartura. Esse é o grande problema. Temos uma cidade completamente desigual. É bom lembrar que isso resulta do sistema capitalista de produção existente no Brasil. Enquanto 100 milhões vivem com até R$ 500 por mês, 1% das famílias detém a fortura de quase metade da população brasileira. Disso resulta a violência urbana. Jovens pretos das favelas são aliciados pelos traficantes, viram funcionários das organizações criminosas, sendo presas fáceis. Com isso, somente uma transformação radical na estrutura econômica poderia mudar de vez essa realidade. Para nós, o Socialismo é a saída. Isso não quer dizer que a prefeitura não possa utilizar seus recursos para tentar minimizar essa situação.  É necessário investir nas periferias com amplos programas sociais para evitar esses jovens nas drogas e tráfico; garantir acompanhamento regular nas escolas com apoio de assistentes sociais junto a família, dar bolsas de esportes e artes para garantir mais tempo na formação educacional. Ampliar a violência nos bairros pobres é aumentar chacinas das pretas e pretos que vivem nas favelas, continuar esse genocídio. Precisamos fazer mais praças da juventude, programas de incetivo a produção audio-visual, entre outras medidas para impedir o avanço dessa violência. A UP nasceu nas favelas e bairros populares, conhecemos bem essa dura situação, mas acreditamos na força criadora desse povo aguerrido, real construtor das riquezas do pais.
 
No início de 2020 a Justiça Estadual, a pedido do Centro de Defesa da Criança e do Adolescente em parceria com o Ministério Público do Ceará (Cedeca-CE), determinou a ampliação das vagas em creches. No início de 2019, segundo levantamento do Cedeca-CE, mais de 5.000 crianças não conseguiram vagas em creches. Como conseguir zerar o déficit de vagas na educação infantil na capital?

A educação infantil deve ser uma prioridade, mas isso não tem ocorrido. Entra e sai governo, essa situação continua. O fato é que o atual preteito Roberto Cláudio não garantiu acesso a todas as crianças, incluindo as vagas em tempo integral. Queremos zerar a fila de creches da cidade. Para isso, precisamos ampliar o número de CEIs (Centro de Educação Integrada) com mais investimento. Vamos fazer uma reforma tributária no município cobrando de quem pode pagar mais para garantir escolas e creches para todos. Isso significa mães mais tranquilas e com a possibilidade de saírem para trabalhar, sem o risco de deixarem os filhos em casa sozinhos ou com parentes e amigos. Para quem não sabe, a rede pública municipal dispõe de 186 estabelecimentos de Educação Infantil que ofertam a etapa da Creche (1 a 3 anos de idade), e 187 que ofertam a etapa da Pré-Escola (4 a 5 anos de idade) e com 96 organizações contratadas com o objetivo de gerenciamento de creches e pré-escola conveniadas no município. Queremos construir mais 25 creches de 1 a 3 e 30 creches de 4 a 5. Vamos garantir a presença de uma “assistente” em sala de aula para que uma única professora não se torne responsável por cerca de 25 crianças, o que tem colocado em risco, atualmente, não só o desenvolvimento das crianças como a sua integridade física e ainda expõe os profissionais a uma condição de trabalho cruel e estafante.

Durante a pandemia de covid-19 ficou claro a importância do Sistema Único de Saúde para a contenção da doença e o atendimento daqueles contaminados pela mesma. Uma das obrigações do município para com o SUS é a atenção primária, que é responsável pelos postos de saúde, programa de saúde da família, agentes comunitários de saúde, entre outras. Quais principais problemas você enxerga na gestão da saúde em Fortaleza e quais possíveis soluções você pode apresentar?

De fato a pandemia de Covid -19 escancarou as desigualdades sociais no nosso país e consequentemente na nossa cidade, bem como as fragilidades das politicas adotadas nos últimos anos para a promoção da saúde, a manutenção dos seus equipamentos e o seu funcionamento com qualidade. Acreditamos que é necessário em primeiro lugar a defesa da saúde pública e consequentemente do SUS, a valorização dos profissionais da área da saúde, a realização de concurso público, a restruturação dos postos de saúde, e dos Frotinhas, pois se os mesmos estiverem com equipamentos adequados, medicamentos, e profissionais teremos condições de atender com mais qualidade a população. No entanto acreditamos que é necessário a construção de cinco hospitais nos cinco bairros onde o índice de desenvolvimento humano é menor. Para esse objetivo precisamos aumentar a arrecadação municipal e nesse sentido propomos o reajuste em 20% do ISS para empresas com faturamento superior a 10 milhões.

Edição: Monyse Ravena