Ceará

Nordeste

Após mais de um ano do derramamento de óleo em praias, danos ainda são sentidos

O vazamento atingiu mais de 130 municípios em 11 estados, sendo nove do Nordeste e dois do Sudeste

Brasil de Fato | Fortaleza (CE) |
Praias do nordeste atingidas por óleo na praia Coroa do Meio, em Aracaju e começa a chegar nas praias da Bahia. - Marcos Rodrigues / secom / Fotos Públicas

O Brasil de Fato Ceará entrevistou a presidenta do Instituto Virtual para o Desenvolvimento Sustentável e professora associada ao Laboratório de Cartografia da UFRJ, Dra. Raquel Souto para falar sobre o derramamento de óleo na região costeira das praias do Nordeste que está completando um ano. O incidente ficou conhecido entre alguns especialistas como o maior desastre ambiental do litoral brasileiro, com o vazamento de cinco mil toneladas de óleo. O vazamento atingiu mais de 130 municípios em 11 estados, sendo nove do Nordeste e dois do Sudeste.  Raquel Souto explica que atualmente tem a oportunidade de falar sobre um trabalho que foi desenvolvido no ano passado como piloto, que é o mapa participativo do derrame do petróleo que, segundo ela, ainda não acabou e continuam acontecendo. Ela afirma que ainda continuam chegando manchas em algumas praias. 

Sobre a extensão do alcance dos efeitos desse vazamento, Raquel apresenta alguns dados que são os números oficiais publicados pelo Ibama e pelo Governo Federal. “É importante falar que é difícil atingir o tamanho da extensão dos danos, do dano ambiental e do dano socioeconômico, porque na verdade, esse derrame atingiu um terço de todo o litoral brasileiro”. Ela explica que a linha de costa brasileira tem um pouco mais de 8 mil km, e esse evento atingiu mais de 3 mil km e 1009 localidades, em que foram encontradas manchas de petróleo. Raquel explica que cada localidade foi assumida pelo Ibama como medindo 1 km de extensão de linha de costa nas praias, nos manguezais, bancos de corais, etc. Ela diz que o desastre também atingiu aproximadamente 300 mil trabalhadores do mar. “Esse número ainda está subestimado porque isso na verdade foram aqueles trabalhadores que têm a carteirinha de pescador, mas a gente sabe que há uma série de outros trabalhadores, mais humildes muitas vezes, ou mais isolados que dependem do mar, mas que não tem a carteirinha, então eles não estão nessa conta dos 300 mil afetados”.

Questionada sobre a resposta do governo brasileiro em relação a esse desastre Raquel diz que “Aqui no Brasil e em todo o exterior, o que mais chamou a atenção foi a lentidão. O governo, ele negou. Simplesmente negou o problema durante 40 dias. O governo brasileiro, ele só acionou o Plano Nacional de Contingencia, que é um plano nacional para contingencia de derrame de óleo, que é regulamento por lei brasileira, ele só acionou esse plano nacional de contingência 40 dias depois de iniciado o desastre. Da mesma maneira agora com as queimadas e tudo o mais, demora demais a reagir. Quando reage ainda tá reagindo ineficazmente”.

Para ela, no caso do derrame, o governo não enviou EPI (Equipamento de Proteção Individual) suficiente para as pessoas que estavam na contenção do óleo. Outro problema apontado por ela foi a falta de coordenação do Ministério do Meio Ambiente com os estados. Ela afirma que não houve essa coordenação feita de forma correta do ministério com os estados. Raquel explica que os estados são executores da lei ambiental. “O ministério do meio ambiente é o grande coordenador, mas quem executa são os estados, então faltou essa coordenação também. Praticamente, quem estava enfrentando a situação na época e agora também continua ajudando as populações costeiras foram justamente as organizações não-governamentais que foram, inclusive, atacadas, no ano passado”. Para ela, as tomadas de decisões por parte do governo não foram proporcionais ao problema. “Foi subestimado esse problema, até hoje é subestimado. Então a reação do governo também foi assim, foi subestimando o problema”.


Cabo de São Agostinho em Pernambuco óleo estacionado na praia mostra o tamanho do crime ambiental nas praias do Nordeste. / Foto: Salve Maracaípe / Fotos Públicas

 


Sobre as ações de contenção para controlar o derramamento de óleo, Raquel afirma que para ela, os trabalhos das ONGs e das próprias comunidades foram fundamentais para a realização dessas inciativas. / Foto: Igor Santos / Secom / Fotos Públicas

Sobre as ações de contenção para controlar o derramamento de óleo, Raquel afirma que para ela, os trabalhos das ONGs e das próprias comunidades foram fundamentais para a realização dessas inciativas. “Foram desenvolvidas soluções pelas próprias comunidades, para conter as manchas; boias de contenção, redes, barreiras ...”. E mesmo que esse desastre tenha acontecido há um ano, Raquel explica que algumas respostas ainda não foram obtidas, tais como, por exemplo, a origem desse óleo. “Qual foi a origem desse óleo afinal? É um desrespeito com a população brasileira. Já deveriam ter dado uma resposta à população sobre a origem do óleo exatamente”.

Futuro

Sobre os desafios para superar esse desastre, Raquel diz que os grandes desafios estão a cargo da academia e do governo. “A parte da Academia é tentar entender como aconteceu o desastre e qual é a extensão final desse dano. E dar visibilidade a isso. O outro desafio é governamental, em mostrar preocupação com a situação. Se o plano tivesse sido acionado no momento certo, daria pra ver se o plano tinha funcionado naquela situação de emergência. Outro ponto é a preocupação com a  segurança alimentar das comunidades. Outro desafio seria ver se a cobertura do auxilio foi suficiente. Teria que fazer um levantamento para ver se foi suficiente”..

Mapeamento

Sobre o trabalho de mapeamento das localidades que foram atingidas pelo derramamento de óleo, Raquel afirma que a iniciativa ainda continua acontecendo, e faz um convite para a população. “As pessoas estão convidadas a continuar enviando as fotos. Manda pra gente enviando a localidade”. De acordo com ela, até o momento ela conseguiu mapear foto de 90 localidades. “Com as fotos a gente tem esperança de ter isso um dia mapeado”. Com o mapeamento será possível saber qual foi o aspecto do óleo que chegou em todas as localidades e com as informações, será possível formular um protocolo para as próprias comunidades enfrentarem a situação. Quem quiser ajudar no mapeamento basta acessar o site e enviar sua foto da localidade atingida com as informações necessárias.

Edição: Monyse Ravena