Para além da patente, essas duas lideranças e porta vozes da extrema direita possuem muita coisa em comum.
Primeiro, ambos iniciaram suas trajetórias políticas a partir da organização de movimentações ilegais no interior das instituições nas quais eram vinculados. O presidente, no Exército Brasileiro e o deputado federal, na Polícia Militar do Ceará. Bolsonaro foi precocemente para a reserva (com 33 anos) após participar do planejamento de um atentado a bombas em quarteis e numa adutora no Rio de Janeiro na década de 1980, exigindo o aumento da remuneração dos militares. Capitão Wagner, reservista da PMCE, após ser eleito deputado estadual, foi figura destacada na greve de policiais militares e civis no final de 2011 e importante apoiador do motim dos PMs cearenses no início deste ano.
Segundo, os dois surfam na onda da extrema direita com uma narrativa oportunista de que são políticos “antissistema”, ou seja, independentes das velhas estruturas da política “tradicional”. Nada mais fajuto! Basta uma breve análise de suas atuações e alianças. Também incentivam grupos claramente fascistas nas redes sociais e na organização de atos antidemocráticos.
Terceiro, são corresponsáveis por afundar o Brasil na lama que nos encontramos hoje. Aliados do “lavajatismo” de Sérgio Moro e companhia, que sob o pretexto moralista de combate à corrupção corrompeu parte considerável do poder judiciário contra o devido processo legal e desestruturou setores estratégicos na cadeia produtiva nacional.
Por fim, mas não menos importante, seus discursos estimulam o aumento desenfreado de ações e agrupamentos criminosos no interior das próprias forças de segurança. O histórico do envolvimento da família Bolsonaro com as milícias do Rio de Janeiro, dispensa maiores comentários. No nosso estado, com a complacência do parlamentar cearense, casos como o grupo de extermínio que atuava em conluio com a Rede de Farmácias Pague Menos e a chacina da Grande Messejana são, a cada dia, mais comuns e evidenciam como agentes do Estado têm atuado à margem da legalidade.
Infelizmente, essa realidade faz parte de uma dinâmica mais complexa nomeada pelo intelectual camaronês Achille Mbembe, de Necropolítica (política da morte), que se nutre da ideia de “licença para matar” indivíduos e/ou grupos considerados descartáveis.
Muitas vezes este julgamento de quem deve ser eliminado ou não passa a largo de tribunais e inquéritos policiais. Encorajados pelas falas e exemplos dos capitães, tal decisão é tomada pela vontade e desejo do “guarda da esquina”, sem direito de defesa e reação.
De forma velada ou explícita, portanto, milhares de Capitães da Areia, eternizados por Jorge Amado, enquanto resistência e esperança para um país mais justo, têm suas vidas ceifadas pelos interesses e projetos dos capitães que governam e legislam.
*Sociólogo, professor da Universidade Estadual do Ceará (UECE) e militante da Consulta Popular
Edição: Francisco Barbosa