Um dos desafios ocasionados pela crise do coronavírus foi a questão da educação, já que uma das recomendações de prevenção à covid-19 foi o distanciamento social. Algumas instituições decidiram por manter as aulas de forma remota, mas isso se tornou empecilho para alguns estudantes, já que nem todo mundo tem acesso à internet ou a um computador. Dentro das instituições de ensino superior, A Universidade do Estado do Ceará (UECE), por exemplo, estava com suas aulas suspensas desde o mês de março. Naquele momento, a universidade estava encerrando o semestre 2019.2, que faltava apenas um mês para a conclusão, pois a UECE estava regularizando o calendário por conta de greves realizadas nos anos anteriores.
De acordo com o professor da UECE, campus Iguatu e membro da diretoria do Sindicato de Docentes da Universidade Estadual do Ceará (Sinduece), Pedro Silva, as aulas retomaram de forma remota depois de quatro meses, com previsão de conclusão do semestre no dia 4 de setembro, mas a nova realidade da UECE é o início do semestre 2020.1, que está previsto para começar em outubro. De acordo com ele, o grande debate que está sendo feito é se o governo do estado do Ceará vai garantir algumas ações da inclusão digital. Essa discussão se dá porque ,segundo o professor, “o perfil dos alunos da UECE são de grande maioria de baixa renda, que implica que muitos deles não tem internet de qualidade, e sobretudo, equipamentos, como computador em casa”.
Pedro explica que a universidade construiu alguns pontos necessários para garantir o mínimo de inclusão digital para esse retorno. Alguns deles são: a criação de uma bolsa para pacote de dados, para os alunos comprarem chips e pacotes de internet; uma bolsa equipamento, para os alunos que têm maior dificuldade de conseguir equipamentos; a ampliação das bolsas de assistência estudantil, que é uma política que já existe na universidade. Além desses existem mais alguns outros pontos. Essa solicitação já foi enviada para o governo do estado do Ceará, mas Pedro afirma que “o problema é que o governo ainda não respondeu e a universidade decidiu retomar as aulas sem essa garantia. Então isso vai gerar, provavelmente, um grau de exclusão significativo. Para se ter uma ideia, sou professor de um curso de pedagogia no interior do estado, em Iguatu, 45% dos alunos fazem as atividades acadêmicas pelo celular, como é que vai ser um semestre nessas circunstâncias?”. De acordo com ele, o que o governo do estado do Ceará sinalizou foi a possibilidade de garantir alguns desses pontos, mas nada certo ainda.
Em nota divulgada pela UECE sobre o encerramento do semestre 2019.2 e início do semestre 2020.1, a universidade informa que “Vale destacar que ao falarmos de ‘construção das condições para retorno às atividades’, estamos nos referindo aos movimentos de discussão e deliberação, em instâncias internas e externas à Universidade”. Ainda de acordo com a nota, as articulações externas entre instituições e órgãos do Executivo Estadual SECITECE, SEPLAG e Gabinete do Governador, e as três Universidades Estaduais do Ceará UECE, URCA e UVA estão em curso e tomam como referência dois cenários: “O quadro epidemiológico do conjunto das regiões de saúde do Estado do Ceará, uma vez que somos universidades interiorizadas, presentes na quase totalidade do território cearense e; o suporte material necessário ao retorno remoto e/ou presencial – a exemplo dos itens de proteção individual e coletiva, de conectividade e de permanência universitária, a ser assegurado, especialmente, aos estudantes em situação de vulnerabilidade social”.
Em nota, o Sinduece se pronuncia contra o início do semestre 2020.1 na Universidade Estadual do Ceará, por meio de aulas remotas, decisão que, de acordo com o sindicato, foi tomada em Assembleia Docente, que aconteceu no dia 21 de julho. “Isso porque, essa modalidade de ensino, não apenas aprofunda a exclusão dos alunos e alunas no processo de ensino-aprendizagem, como contribui para o baixo nível de qualidade de ensino por significar apenas um arranjo temporário. Parece importar muito mais a finalidade de começar o semestre letivo, de realizar aulas, do que o objetivo de se pensar em soluções pedagógicas que minimizem o drama da exclusão social”.
Edição: Monyse Ravena