Desde 16 de março, dia do decreto do governador do Ceará Camilo Santana (PT) que instituiu o isolamento social no estado do Ceará em decorrência da pandemia de coronavírus, o povo enfrenta as dificuldades dessa medida de enfrentamento e contenção da doença. Após cinco meses do decreto e do início do distanciamento social, problemas relacionados à saúde mental foram uma das questões que se intensificaram na população, com um aumento na procura por serviços médicos e psicológicos.
Segundo Carlos Secundo, médico psiquiatra da Rede de Atenção Psicossocial do Município de Fortaleza, ainda é preciso um estudo para saber o quanto aumentou a busca por atendimentos na área da saúde mental, mas que na rotina é possível perceber o aumento no número de casos, “na prática observamos que tem ocorrido uma maior procura por parte das pessoas pelos serviços de saúde mental de uma forma geral”. Ainda de acordo com Carlos, há três situações que fazem os pacientes chegarem aos serviços de suporte durante a pandemia, “na primeira situação, especialmente no serviço público, nós podemos observar um aumento na procura em termos de novos casos, ou seja, pessoas que não tem antecedentes de transtornos mentais ou de tratamento psiquiátrico e que fizeram uma abertura do quadro no contexto da pandemia”, ele afirma que os transtornos ansiosos e de humor, especialmente os depressivos, têm sido preponderantes.
O segundo grupo é, segundo Carlos, formado por pessoas que já estavam em processo de tratamento psiquiátrico e que, no contexto da pandemia, tiveram uma desestabilização do quadro ou entraram em crise. O terceiro é composto por pessoas que já tiveram algum histórico de transtorno e que já tinham sido tratadas e que na circunstância do isolamento social os sintomas e o quadro retornaram, podendo desenvolver até novos sintomas. “Outros transtornos também têm sido vistos com mais frequência, como por exemplo, quadros de transtorno obsessivo compulsivo que, no contexto da pandemia dado a exigência das medidas de proteção, distanciamento social e de higienização isso pode ter de alguma forma ter agravado esses traços de funcionamento dessas pessoas que já eram mais preocupadas com esses aspectos”, afirmou Carlos Secundo.
Para a psicóloga e professora da Universidade de Fortaleza (Unifor) Irvina Sampaio é importante ter a dimensão de que com a pandemia de coronavírus, vivemos tempos atípicos e que o medo, a insegurança e a instabilidade são normais nestes momentos, “vai ser comum que as pessoas desenvolvam algum tipo de receio de voltar às suas rotinas que exigem contato social, que exijam sair das suas casas e que, consequentemente, cria-se um medo real de ter contato com o vírus”, explica.
Já quando o medo se transforma em uma angústia e que atinja um nível que impeça a pessoa de retomar suas atividades diárias, mesmo com todas as medidas preventivas como máscara, distanciamento, uso de álcool em gel, é hora de dar mais atenção, “ a gente pensa em termos de níveis e graus de sofrimento psíquico, o medo vai se transformar em psicopatológico quando está paralisando a vida do sujeito, a partir daí é importante procurar ajuda de um psicanalista, de um psicólogo ou de um psiquiatra”, afirma Irvina Sampaio. Para ela, constituir uma rede de amigos, familiares, mesmo pela internet, pode ajudar a diminuir o sofrimento psíquico.
Edição: Monyse Ravena