Miguel Mayer, médico residente de Medicina de Família e Comunidade, e integrante da Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares explica que os agentes populares de saúde são voluntários das comunidades, que se preocupam com a vida e bem estar das pessoas da sua vizinhança, e estão dispostos a costurar novas redes de solidariedade e fortalecer as já existentes. De acordo com ele, para ser um agente popular de saúde não é necessário ter uma formação específica. Além disso, não deve fazer parte dos grupos de risco para covid-19, “o principal é a vontade de fortalecer a comunidade contra os efeitos da pandemia”.
Os agentes populares de saúde atuam com educação em saúde e como referências nas suas comunidades para tirar dúvidas e orientar a população sobre como se prevenir e se cuidar no contexto da pandemia. “Podem ajudar circulando informações nas redes sociais, denunciando fake news, pensando soluções para problemas específicos da comunidade e mobilizando recursos para sanar esses problemas, facilitando a comunicação com equipes de saúde, e otimizando a distribuição de recursos emergenciais como kits de higiene e cestas básicas”.
Questionado sobre como está se desenhando a formação e atuação dos agentes no Ceará, Miguel explica que no estado, a campanha está em curso na cidade de Fortaleza, nos bairros da Barra do Ceará, Santa Filomena, Pirambu e Moura Brasil. Em Juazeiro do Norte a campanha também já está se iniciando. “Em cada território, lideranças comunitárias, equipes de saúde e movimentos sociais se juntam para construir as ações. A expectativa é que cada vez mais bairros e comunidades participem”.
Segundo Miguel, o agente popular de saúde agrega saberes muito distintos, mas que são igualmente essenciais para o combate à pandemia. As informações sobre a doença, o vírus e formas de prevenção são abundantes, mas muitas vezes são inacessíveis para a maior parte da população, ou não contemplam os problemas específicos que as comunidades enfrentam. “Os agentes populares de saúde conhecem sua comunidade e, ao participar do curso, podem relacionar as informações de prevenção e cuidado à situação concreta de sua realidade e de seus vizinhos, possibilitando a construção e execução de planos para resolver os problemas identificados. Por pertencerem à comunidade, também têm acesso facilitado ao território”.
O trabalho
Miguel afirma que o trabalho dos agentes populares de saúde começa pelo cadastramento das famílias da sua rua. De casa em casa, o agente se apresenta, obedecendo às medidas de prevenção reforçadas durante a formação, e se informa sobre a situação de cada domicílio. Assim é estabelecido o primeiro contato, e demandas diversas são identificadas. Ele informa que há dificuldade de seguir as medidas preventivas, por exemplo, por falta de condições para o isolamento social, acesso limitado à água, saneamento insuficiente. “Há pessoas que precisam continuar se expondo ao ir trabalhar, devido à insuficiência do auxílio em garantir a subsistência durante a pandemia. Há famílias em situação de privação de alimentos e de itens básicos de higiene. Há locais com acesso dificultado aos serviços de saúde”.
Os agentes populares de saúde analisam a situação específica das famílias de sua rua e também os problemas que acometem a comunidade como um todo, e trabalham juntos à comunidade para aliviar o impacto desses problemas e da pandemia. “As soluções encontradas são tão variadas como as comunidades em que a campanha é construída. Na Barra do Ceará, por exemplo, os agentes populares de saúde estão organizando rifas e campanhas de arrecadação para formar um banco de alimentos comunitário, que possa prover de forma emergencial itens de alimentação para as famílias em situação de maior vulnerabilidade.”
Edição: Monyse Ravena