No Brasil, de acordo com dados do 12º Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2017, a cada dois minutos uma mulher registra agressão sob a Lei Maria da Penha. De acordo com a Lei, as violências contra as mulheres são muitas e podem ser enquadradas entre: física, psicológica, moral, sexual e patrimonial. O gênero é o pilar da agressão, mulheres sofrem violência apenas por serem mulheres. Além dele, se pode traçar nortes em relação à sexualidade, mulheres LBTT´s estão presentes nos dados diariamente. No Cariri cearense, esses dados não são diferentes, o número de feminicídios e as diversas violências marcaram e marcam as mulheres da região. A partir desses casos e dados alarmantes, em junho deste ano foi puxada a hashtag “exposedcariri”.
Exposed Cariri
No início de junho deste ano, uma hashtag chamou atenção, a #exposedcariri. A hashtag levantada na rede social Twitter sobre violências sofridas por meninas e mulheres na região teve uma grande repercussão, chegando a ser um dos assuntos mais comentados nacionalmente.
As denúncias por meio dos relatos foram feitas de forma anônima por as vítimas terem medo de perseguições e ataques pelos agressores. As violências se desdobravam entre assédios sexuais em escolas e universidades, estupro, violências psicológicas e físicas. A partir do Exposed Cariri foram sendo levantadas outras hashtags como o Exposed Fortaleza. Os depoimentos traziam histórias como o Print abaixo, vinculados em redes sociais.
A partir destes relatos, o Ministério Público do Ceará (MPCE), através da 12ª Promotoria de Justiça de Juazeiro do Norte, instaurou um procedimento extrajudicial para apurar os casos de abuso sexual sofridos por alunas em estabelecimentos de ensino público e privado em Juazeiro do Norte e Crato. Os abusos teriam sido cometidos por professores e funcionários. Além disso, o MPCE criou o email [email protected] para que vítimas de crimes sexuais façam contato com a instituição para denúncia. O canal foi criado pela dificuldade dos promotores em investigar as denúncias do caso Exposed.
Violência Contra a Mulher no Cariri
Dados do monitoramento de violência contra a mulher, do período de janeiro a dezembro de 2016, realizado pelo Observatório da Violência e dos Direitos Humanos da Região do Cariri, apontam que o perfil dos agressores se configuram como homens e a maioria são cônjuges ou ex-cônjuges das mulheres violentadas.
Uma das organizações que estão em combate à violência contra a mulher na região é a Frente de Mulheres dos Movimentos do Cariri, criada em maio de 2014. A Frente carrega pautas em torno das mulheres, se caracterizando como uma organização feminista, anti-capitalista, anti-racista, anti- LesboHomoBitransfóbica, suprapartidária e laica.
Verônica Isidorio, integrante da Frente aponta que “a atuação da organização tem sido permanente, buscando estar em acordo com as demandas que surgem, apoiando às mulheres sem situações individuais ou coletivas de violações de direitos, atuando diretamente no acompanhamento à situação das mulheres no sistema prisional. Buscando sempre estarem atualizadas com os temas do combate à violência contra às mulheres sempre de uma forma antirracista, antiLGBTfóbica e antifascista”. s.”
Sobre o Exposed Cariri, a representante da Frente comenta que ele projeta e visibiliza as vozes silenciadas das nossas meninas nos ambientes onde deveriam estar protegidas e cuidadas. Além disso, frisa que a reverberação das denúncias pelo exposed se dá pela falta de instrumentos para que essas meninas possam recorrer de forma mais segura para fazer as denúncias e que as práticas educativas e o papel das escolas precisam ser reformuladas para a desconstrução de culturas dominantes como racismo, lgbtfobia, machismo e a cultura patriarcal.
Ações de enfrentamento no Cariri
No meio artístico, o Grupo Ninho de Teatro faz, desde 2019 um trabalho na região à respeito da temática da violência contra mulher por meio de uma trilogia chamada “Fractal Gêneros”, a partir dela foi pensado três espetáculos que em sua base foram estruturados a partir de rodas de conversa e relatos. O primeiro episódio discute sobre feminismos dentro de uma percepção das mulheres, o segundo sobre masculinidades dentro da percepção dos homens e o último é o conjunto desses dois núcleos, promovendo o rompimento da percepção binária.
Edceu Barboza, integrante do grupo relata que durante a caminhada nos episódios da trilogia, o Grupo Ninho decidiu continuar os debates por meio de encontros virtuais para debater sobre masculinidades e feminismos, apontando seus encontros e divergências. O núcleo que trata sobre as masculinidades está com encontros abertos virtualmente para o debate amplo sobre o tema, eles estão chegando ao sétimo encontro. Edceu relata que homens de diversos lugares e vivências estão participando e adentrando ao processo de desconstrução por meio de um da escuta do outro e de si mesmo. Coincidentemente, as ações da sociedade fazem com que mais dados sejam levantados a respeito da temática, o Grupo Ninho acrescenta o caso do Exposed em sua pesquisa dentro da percepção teatral e continua com a sua rede de combate a violência por meio de rodas de conversa, apresentações e diálogos por meio da arte.
Outra ação de enfrentamento a violência foi criada pela Secretaria de Trabalho e Desenvolvimento Social do Crato. O projeto “O Valente não é violento” segue como uma ação de combate a agressões contra as mulheres. A Secretária adjunta Tammy Lacerda conta que “o projeto abraça uma ação que já é desenvolvida pela ONU Mulheres, que têm esse título e que é voltada a educação secundarista para debates em torna da Lei Maria da Penha e a violência contra a mulher.”
A ideia foi pensada para discutir a relação existente na região de que homens valentes são violentos e fazer a dissociação das palavras. Além disso, o projeto apresenta dois pontos, o primeiro é o de caráter socioeducativo para o direcionamento a discussões sobre violência com homens que têm históricos de agressão e o segundo é de caráter preventivo, para discutir a dimensão masculina e as masculinidades tendo como público alvo homens jovens e adultos de qualquer idade.
“O projeto tinha sido pensado para ser ofertado presencialmente dentro de uma ótica preventiva e educativa por meio dos Centros de Referência e Assistência Social, mas por conta do aumento de violência doméstica e entre outras no período da pandemia da covid-19, a secretaria decidiu lançar a ação online. A intervenção socioeducativa é voltada apenas para homens com histórico de agressão que são recomendados pelo setor judiciário”, afirma a secretária adjunta.
Edição: Monyse Ravena