A arte-educadora, Micinete Lima, afirma que a pandemia afeta as mulheres de várias formas. “Com a jornada de trabalho doméstico bem maior, com o trabalho fora de casa (sem garantias trabalhistas), ficando exposta ao coronavírus, a falta de um bom atendimento médico, com o excesso de convivência com maridos e ou parentes – muitas vezes ficando mais exposta a violência doméstica, sexual e ou LBTfobia que podem se agravar, por conta da negligência do estado. Pensando que o racismo é uma linha invisível que costura tudo isso”.
Ela explica que sua rotina mudou muito e por causa da falta de trabalho (trabalhos artísticos, oficinas) o básico ficou mais básico ainda. Além disso, ela diz que sua saúde mental ficou muito afetada pelo confinamento e pela violência nos territórios dentro da periferia. “Felizmente pude contar com o apoio da família, de amigos e coletivos”.
A dona de casa, Maria Soares, afirma que esse período está sendo muito complicado para ela, principalmente por ter sido mão há pouco tempo. De acordo com ela até os cuidados voltados para as mulheres são poucos pois, até a ida em posto de saúde fica difícil por não ter consultas necessárias no pós-parto. “Deixei de fazer exames importantes e estudo foi afetado”. “Nesta pandemia perdi amigas e quase perco a minha mãe. Ando com medo de respirar, me vi obrigada a trancar a matrícula dos meus filhos por medo das aulas presenciais, pois sei q as criança não saberão tomar todos os cuidados quando estiverem juntas. Minha bebê ainda não teve nenhuma consulta por exemplo”.
Tanto Micinete quanto Maria são reflexos de como a pandemia causada pelo coronavírus chega a afetar mais as mulheres. Verônica Carvalho é representante do Grupo de Valorização Negra do Cariri (Grunec), uma instituição que, de acordo com ela, há 20 anos vem lutando na região do Cariri na promoção da igualdade racial, combate às violências e às desigualdades sociais e propondo o bem-viver. Verônica explica que cada vez mais as mulheres estão sobrecarregadas, mesmo as que trabalhavam fora. Ela afirma que o que se observa é que, a pandemia aumentou a jornada de trabalho das mulheres. “Elas se se veem hoje acumuladas. Acumuladas pelo serviço de casa, pelo serviço das crianças”.
“Na minha opinião, isso acontece porque nós fomos estruturadas dentro de um sistema capitalista, racista, machista onde a mulher continua sendo ‘coisificada’ ou preparada para o cuidado. Então a mulher termina assumindo essas funções todas, por uma questão que é estruturante, estrutural. E aí, dentro da própria casa ela se vê na obrigação de dar de conta disso tudo e é muito complicado”.
Verônica informa que não tem conhecimento de nenhuma política pública voltada exclusivamente para ajudar as mulheres. De acordo com ela, existem algumas iniciativas de distribuição de máscara, de combate à violência, de distribuição de cestas básicas, mas que para ela são pequenos projetos que não atendem a demanda das mulheres. “As mulheres hoje tem que ficar em casa, muitas vezes estão muito mais sujeitas às violências, porque tem que conviver 24 horas com os agressores. Então isso potencializa cada vez mais a violência”.
Para o período de pós-pandemia, Verônica propõe uma globalização de cuidados com o próximo. “Vamos globalizar solidariedade, vamos exercitar empatia, se colocar no lugar da outra, ajudá-las, pegar realmente pela mão e dividir, dividir essa carga toda”.
Edição: Monyse Ravena