Ceará

Violência

Enquanto dormia, jovem de 13 anos é morto por policiais na cidade de Chorozinho (CE)

"Fiz merda, fiz merda", afirmou policial logo após o disparo, afirmou a tia do menino

Brasil de Fato | Fortaleza (CE) |
Mizael ajudava seu pai no trabalho da roça - Foto: Acervo da Família

Foi na madrugada do dia 1º de julho que, enquanto dormia, Mizael Fernandes da Silva, de 13 anos, foi assassinado por policiais militares na cidade de Chorozinho, interior cearense. De passagem na cidade, para visitar sua avó e se tratar de um problema dermatológico, estava na casa de sua tia Lizangela Rodrigues Fernandes da Silva Nascimento, quando foi executado com um tiro. Mizael morava com seu pai José Vicente, na zona rural da cidade de Barreira, onde ajudava a família no trabalho do campo.

Lizangela Rodrigues afirma que por volta da 1 hora da manhã ouviu uma batida com muita força no portão e que logo falou que iria abrir, acompanhada do marido e de dois filhos viu a polícia do lado de fora da casa, em seguida os policiais do Comando Tático Rural (Cotar) expulsaram a família da casa e impediram que acompanhassem a revista da residência. Em entrevista a Ponte Jornalismo, a tia de Mizael afirmou, “quando eu pisei na sala, eu só vi o clarão no quarto e o tiro. Aí eu falei ‘moço, você matou a criança que tava dormindo aí no quarto? ’. O policial maior, que atirou, não respondeu e veio correndo, falando ‘fiz merda, fiz merda’. E me empurrou para fora. Mandaram a gente ficar mais afastado, mais ou menos 200 metros da minha casa”, descreveu.

Pouco tempo depois chegaram, aproximadamente, seis viaturas ao local do crime e pediram que toda a família se afastassem da casa. Há relatos que houve mudança na cena do crime para dificultar o trabalho da perícia. Houve manifestações pedindo justiça por Mizael no município de Chorozinho, participantes fecharam um trecho da BR-116 ainda no dia 1 de julho. A Defensoria Pública do Estado do Ceará irá atender a família da criança, através do Núcleo de Direitos Humanos e Ações Coletivas.

Segundo Luiz Fábio Paiva, professor de Sociologia e do Programa de Pós-graduação em Sociologia da Universidade Federal do Ceará, e também pesquisador do Laboratório de Estudos da Violência (LEV), a Polícia Militar do Ceará é constantemente envolvida em situações de violência contra inocentes, e nos últimos anos tem afetado crianças, ele lembra do caso do menino Juan, 14 anos, morto por um policial enquanto brincava numa praça do bairro Vicente Pinzon. Para o pesquisador, um dos possíveis motivos que levam a esta alta incidência é a exposição cotidiana destes policiais militares ao confronto direto contra o crime, “ imagine a situação de estresse de um servidor público que é constantemente colocado em situação de confronto, nas situações de violência o poder público se exime e coloca o policial como único responsável por aquela situação, claro que o policial tem que ser responsabilizado por dar tiro contra quem for. Precisamos discutir como é que um comando justifica policiais sendo colocados em rotinas como a que estão sendo colocados, de enfrentamento em tempo todo”, explica.

Ainda segundo Luiz Fábio, a política de segurança baseada no confronto direto não rende resultados e serve a fins eleitorais, “esse confronto alimenta o mercado de armas, e consequentemente ele tem proporcionado uma série de outros esquemas de corrupção que envolve inclusive policiais, e essa situação reproduz mais violência, agora com essa vitimização de crianças e adolescentes por meio de ações policiais, e isso é inaceitável”. Em declaração dada ao G1 o governador Camilo Santana (PT) afirmou, “Logo após tomar conhecimento desse fato, determinei imediata, rigorosa e isenta investigação. A Controladoria Geral de Disciplina, órgão independente, abriu sindicância e o comando da Polícia Militar está instaurando um IPM [Inquérito Policial Militar], inclusive com os policiais sendo afastados das ruas durante o processo. Não tenha dúvida que a família e a sociedade terão uma resposta".

O Brasil de Fato entrou em contato com a Polícia Militar do Ceará pedindo posicionamento e até o fechamento da matéria não obteve retorno.
 

Edição: Monyse Ravena