Ceará

Dia das Mães

Em meio a pandemia, mães cearenses contam seu cotidiano em serviços essenciais

Mesmo com decretos mais rígidos, setores comerciais e da área da saúde continuam em funcionamento no Ceará

Brasil de Fato | Juazeiro do Norte (CE) |
Embora a taxa de letalidade do coronavírus seja maior em homens, mulheres são as que estão mais expostas ao vírus, aponta estudo da ONU. - Divulgação/Outras Palavras


O tradicional maio das mães também é o período em que se acentuam os casos de infecção por coronavírus em todo o país. Desde o primeiro dia do mês, só no Ceará foram registrados 471 novos casos de SARS-COV2 com 267 mortes em apenas 10 dias de acordo com dados da plataforma integra SUS. Mesmo com decretos mais rígidos para conter a propagação do vírus, setores comerciais e da área da saúde continuam em funcionamento, mantendo na ativa mulheres que vivem a maternidade. Embora a taxa de letalidade do coronavírus seja maior em homens, mulheres são as que estão mais expostas ao vírus, aponta estudo da ONU. Neste dia das mães, o Brasil de Fato Ceará conversou com algumas mulheres que continuam em seus postos de trabalho equilibrando a maternidade com a necessidade de continuar a trabalhar para garantir a renda mensal das suas famílias.

Saúde 
O relatório “Mulheres no centro da luta contra a crise covid-19” divulgado ao fim de março pela Organização das Nações Unidas é um dos documentos responsáveis por aponta estatísticas importantes sobre a vida das mulheres na pandemia. De acordo com o relatório, 70% do trabalho em setores de saúde em todo o mundo é feito por mulheres.  
Lenice Félix trabalha de auxiliar de farmácia no Hospital Regional do Sertão Central em Quixeramobim, cidade com 73 casos confirmados e duas mortes. Lenice compartilha seu dia a dia com a constante preocupação com o vírus, redobrando os cuidados com a higiene. “Eu me preocupo bastante. Todos os dias quando chego, vou direto para o quintal, tiro todas as roupas e sigo para o banho. Lavo o cabelo todo dia” conta. Com um filho de 11 anos, a auxiliar revela que ele é o motivo que a leva a enfrentar os perigos da exposição para manter o trabalho. “Eu fico sempre preocupada, mas não posso deixar de trabalhar. Todo mundo pensa em poder estar em casa para se proteger, e eu também gostaria de estar assim, mas pelo menos mantenho meu filho isolado e protegido. Vivemos aqui nessas condições, mas tenho certeza de que as coisas podem e vão melhorar. A gente também trabalha para isso” ressalta Lenice.  

A agente de saúde Fátima Silva mantém o acompanhamento das famílias do sistema público de saúde de Juazeiro do Norte mesmo estando em isolamento social. Desde o decreto estadual do dia 19 de março, que estabeleceu o isolamento social em todo o estado, Fátima entrou em isolamento, continuando, porém, indo as ruas em campanhas de arrecadação e conscientização promovidas pelo município. Diariamente, a agente de saúde acompanha as vidas das famílias do bairro João Cabral, considerado um dos bairros mais carentes de Juazeiro do Norte. “As famílias vivem preocupadas com a saúde, e nós temos o dever acompanhar a condição delas para poder dar uma resposta profissional a essas pessoas, inclusive em possíveis casos de infecção por coronavírus.” relata Fátima, que tem um casal de crianças em casa. 
Apesar de estar em isolamento social, Fátima revela que está muito preocupada com o avanço do vírus na cidade, sendo necessárias cada vez mais medidas de conscientização para que a população saiba dos riscos da doença. De acordo com boletim epidemiológico divulgado diariamente pela secretaria de saúde do município, até o momento Juazeiro do Norte tem 27 casos confirmados com dois óbitos. “Eu espero que tudo fique melhor daqui a pouco. Essa doença não pode e nem vai nos vencer” revela Fátima.

Comércio
Localizado a 470km de Fortaleza, Caririaçu foi uma das primeiras cidades a relatar casos de coronavírus no Cariri. Hoje, segue com três casos confirmados entre os pouco mais de 26 mil habitantes. Lá vive Paula Neves, comerciante e mãe de um bebê de um ano e 10 meses. O isolamento social ainda está caminhando lentamente no município, obrigando as pessoas a continuarem a trabalhar para manter seus lares, como é o caso de Paula. “Eu tenho que continuar trabalhando para complementar a renda da casa, porque menino pequeno gasta muito e ainda tem todas as outras contas. Se não fosse por isso e pelo auxílio, não sei como a gente iria estar” disse Paula, se referindo ao auxílio emergencial pago pelo governo federal para trabalhadores informais, microempreendedores individuais (MEI), autônomos e desempregados no valor de R$ 600,00. Ainda de acordo com o relatório, as mulheres também são a maioria em vários segmentos de empregos informais, principalmente na área comercial.

Educação 
Trabalhadoras e trabalhadores da educação no Ceará estão mantendo suas atividades em isolamento domiciliar de acordo com o decreto nº 33.574 de maio de 2020. Desde o dia 29 de abril, o governo do estado, por meio da secretaria de educação, vem organizando a distribuição de cartões vale alimentação no valor de R$ 80,00 para 432 mil estudantes da rede pública estadual. Devido a esta demanda, a secretária Cícera Clébia mantém sua rotina em alguns dias, conforme as necessidades administrativas da Escola Estadual de Ensino Profissionalizante Aderson Borges de Carvalho, seu local de trabalho. 

Quando precisa sair, Clébia segue à risca os protocolos de higiene, pois se preocupa com sua segurança e com a de seus três filhos. “Eu fico receosa porque a um quarteirão da minha casa tem a suspeita de um caso de coronavírus. Tem o medo, mas a gente segue em frente” conta. A secretária também se preocupa com o bem estar das famílias de estudantes que estão passando pela crise. “Esse auxílio é importante, porque as famílias assim como a minha precisam se manter durante essa pandemia” ressalta Clébia, que segue suas atividades em isolamento domiciliar após a entrega dos cartões. 

Edição: Monyse Ravena