A pandemia do coronavírus alterou drasticamente a rotina das escolas no Ceará e professores tentam se adaptar ao novo formato das aulas. Desde o dia 19 de março, por decreto do governador do Ceará Camilo Santana (PT), as instituições de ensino, público e privadas, estão com suas aulas suspensa. Desde então, as atividades escolares continuam acontecendo, mas no ambiente virtual, o que tem gerado uma dinâmica de trabalho em que a maioria dos professores não estava familiarizada, ocasionando uma série de desafios para os docentes.
Dificuldade em lidar com as novas tecnologias, computadores e equipamentos de filmagem obsoletos ou a ausência deles, dificuldade de acesso à internet por parte dos alunos e a falta do contato direto com os discentes são apontados como maiores desafios no trabalho dos professores no período de afastamento social. A professora de história da Escola Estadual Heráclito de Castro e Silva, Lia Moita, conta que, para os professores que não tem prática em gravar suas aulas, a nova forma de lecionar tem gerado uma insegurança na transmissão do conteúdo, em ser atrativo para os estudantes e se eles irão apreender o conhecimento. Ela ainda relata que, no começo do isolamento social, havia uma forte cobrança para que se iniciasse as atividades online rapidamente, “nesse período de pandemia eu tive que me familiarizar com várias tecnologias que até então eu não tinha conhecimento, e de forma muito rápida, em questão de três dias eu estava sendo cobrada para gravar as videoaulas, estimular os alunos e para aplicar atividades”.
Uma outra questão apresentada é que o horário de trabalho dos professores está sendo diluído nas outras horas do dia e aos fins de semana, ou seja, a separação do momento em que se está trabalhando e o momento em que se tem para suas necessidades pessoais não existe mais, o que pode ocasionar uma jornada de trabalho ainda maior do que no período letivo normal. O professor de matemática Valdir Teixeira, da Escola Estadual de Liceu do Conjunto Ceará, relata que tem sido difícil mensurar as horas de exercício do magistério, “qualquer momento da noite o aluno entra em contato tirando dúvidas, a gente responde, tenta ajuda-los da melhor maneira possível, mas mensurar a quantidade de horas que estamos trabalhando é quase impossível, por que estamos numa situação que é muito difícil de se organizar”. Já o professor de história do ensino médio, Vicente Olsen, acredita que apesar do aumento da jornada de trabalho variar de professor para professor houve, com certeza, um incremento nas horas dedicadas à preparação das aulas, “as aulas ao vivo ou as aulas gravadas, você acaba tendo que planejar mais, tendo que preparar o slide, trazer material, trazer vídeos, preparar o ambiente que você vai produzir, se preocupar com a iluminação e com o áudio”.
Samanta Forte, coordenadora escolar da Escola Estadual João Paulo II, acredita que o maior desafio enfrentado pelos educadores neste momento é o acompanhamento dos estudantes, haja vista que é necessária uma estrutura de acesso à internet com computador ou celular, o que muitos alunos da escola pública não dispõem. “As atividades requerem uma certa estrutura que para muitas pessoas pode ser uma coisa básica, que é ter internet, ter um celular, mas para muitos alunos da rede pública, essa estrutura não está presente em suas casas. A pandemia está colocando outras dificuldades financeiras para além das que já existiam, tem aluno que tinham internet no começo, mas a agora já não tem mais, por que a família não conseguiu pagar”.
É apontado pelos professores que há também um desafio da saúde mental nesse período, “houve um incremento na carga emocional, estamos abalados, com estresse, com ansiedade, que já é natural da nossa profissão, isso nós estamos vivendo muito isso, a situação está muito difícil”, relata Valdir Texeira. Segundo Samanta Forte há um sentimento de muito falta dos laços que se estabelecem dentro das escolas, entre professores e alunos, “o aluno não tem aquele incentivo do professor, aquele acompanhamento mais próximo, assim como o professor não tem o afeto, aquela gratidão que recebe diariamente dos alunos, que é o combustível para o nosso trabalho”.
Edição: Monyse Ravena