A pandemia causada pelo coronavírus tem preocupado e avançado entre os povos indígenas no Nordeste. Há um caso confirmado no Ceará e dois em Pernambuco, sendo os únicos estados da região com confirmações, na Bahia e Maranhão existem casos suspeitos que esperam confirmações de exames laboratoriais. Desde o início da pandemia, a preocupação tem sido de reforçar o isolamento social nos territórios indígenas. De acordo com a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil, até o momento, 42 indígenas estão contaminados com coronavírus e 10 faleceram no Brasil. No Ceará existem 14 povos indígenas, divididos em 18 municípios e que somam uma população aldeada de 26.071, segundo dados do governo do estado do Ceará.
No Ceará, o primeiro caso confirmado é de uma indígena Tupinambá da cidade de Crateús. Segundo Adriana Tupinambá, que cuidou da paciente enquanto internada, a primeira reação da aldeia foi de preocupação, tendo em vista a gravidade que apresenta a doença, mas que foi um momento em que todos se uniram para ajudar tanto com materiais de limpeza, higiene e alimentação, tanto para rezar pedindo a melhora da indígena. De acordo com Adriana, a paciente deve ter contraído a covid-19 em Fortaleza, durante uma viagem à trabalho. Assim que começou a apresentar os primeiros sintomas ela voltou para a cidade natal e buscou o hospital regional de Crateús, onde foi atendida e diagnosticada com o coronavírus. “Não tenho palavras para agradecer a equipe de saúde, porque nunca deixaram a gente de lado, todos os dias, todas as horas estavam perguntando como ela estava, se ela estava sentindo alguma coisa, se estávamos precisando de algo, até com cesta básica eles ajudaram. O povo Tupinambá está todo feliz com o carinho da equipe de saúde, com todo esse cuidado”, finalizou Adriana. A paciente já está curada.
O primeiro caso confirmado de Pernambuco, é o do enfermeiro Pankararu, Fagner Luciano, que trabalha no hospital regional Ruy Barbosa na cidade pernambucana de Arcoverde. Segundo o Cacique Sarapó Pankararu, a notícia do primeiro caso de covid-19 foi recebida com muito desespero na aldeia, “a secretaria estadual de saúde divulgou que tinha o primeiro caso em Jatobá, todo o município ficou preocupado, depois aconteceram vários questionamentos à Secretaria Municipal de Saúde, que divulgou que estava acompanhando o caso, mas que o paciente era da zona rural e estava na cidade de Arcoverde. Várias especulações aconteceram, de repente saiu que era um indígena Pankararu que morava na Aldeia Saco dos Barros, a preocupação nossa só aumentou. Depois de muitas especulações soubemos de fato de quem se tratava, que realmente era um indígena Pankararu”. O Cacique Sarapó informou que Fagner não visitava a aldeia há vários dias, e que se encontra na cidade de Arcoverde recebendo cuidados, também criticou a forma como as informações foram passadas pela Secretaria de Saúde do Estado. O segundo registro em Pernambuco é do povo Atikum, o nome não foi divulgado.
O Cacique Sarapó afirmou que o poder público não tem ajudado, principalmente a Fundação Nacional do Índio (Funai), que deveria dar suporte nesse momento, está omissa, “estamos fazendo uma campanha entre nós mesmo de doação de alimentos por que percebemos que já tem famílias que estão passando necessidades”. Ainda segundo ele, barreiras sanitárias foram instaladas na entradas e saídas da aldeia, momentos de educação em saúde foram feitos de casa em casa e o isolamento social está sendo respeitado no território.
Edição: Monyse Ravena