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FORTALEZA

Situação socioeconômica do bairro é determinante para isolamento, diz pesquisa da UFC

Segundo o estudo, em Fortaleza, população da periferia tem menos condições se respeitar quarentena

Brasil de Fato | Fortaleza (CE) |
Uma das questões investigadas pela pesquisa foi a percepção dos entrevistados em relação a sua vizinhança, se estava cumprindo as normas de isolamento social - Divulgação Governo do Ceará

Em Fortaleza ainda há grande circulação de pessoas, mesmo em período de isolamento social devido a pandemia do coronavírus. O relatório de pesquisa “A vida na quarentena: deslocamentos e aglomerações de pessoas em Fortaleza”, revelou esta e outras questões acerca do distanciamento social na capital cearense. Conduzido pelo Laboratório de Estudos em Política, Educação e Cidade (Lepec) da Universidade Federal do Ceará (UFC), os pesquisadores entrevistaram 1977 pessoas, residentes em 120 bairros diferentes, durante os dias 8 e 10 de abril.

Uma das questões investigadas pela pesquisa foi a percepção dos entrevistados em relação a sua vizinhança, se estava cumprindo as normas de isolamento social recomendadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS), pelo governo do Ceará e pela Prefeitura de Fortaleza. Segundo o estudo, 51,6% dos entrevistados disseram que sua vizinhança tem respeitado a quarentena, todavia, quando se analisa por bairros, surgem números discrepantes. Na Barra do Ceará e no Bom Jardim, a porcentagem daqueles que não estão respeitando a quarentena é de, respectivamente, 85,2% e 88,9%. Já na Aldeota é de 19,5% e 13,9% no Dionísio Torres. Segundo o estudo, a situação socioeconômica do bairro é determinante para a dinâmica de isolamento social dos seus moradores.

De acordo com a professora e pesquisadora do Lepec, Danyelle Nilin Gonçalves, a pesquisa pretende permitir que os governantes atentem para os dados obtidos e possam pensar em estratégias eficazes no combate ao coronavírus. Ela também alerta para as dificuldades dos habitantes de alguns bairros conseguirem fazer o isolamento social, “a pesquisa alertou para a profunda desigualdade de Fortaleza e das dificuldades de isolamento nas periferias, e de como para as camadas mais pobres, a obrigação do trabalho presencial, o uso de transporte coletivo e as aglomerações nos bairros de origem, podem elevar tremendamente os índices de contaminação”. A pesquisa foi enviada para prefeitura de Fortaleza e para o governo do Ceará.

O estudo também analisou a percepção sobre mudança na rotina da quarentena entre as últimas semanas de março e primeira semana de abril, 81,6% das pessoas responderam que haviam percebido uma mudança, citando a postura desleixada por parte da população, necessidade de sair de casa para comprar alimentos e o incentivo do presidente pelo fim do isolamento social como os maiores motivos atribuídos para essa mudança.

Quanto a aglomerações, a pesquisa questionou aos entrevistados as situações em que se observava um maior agrupamento de pessoas. A opção mais respondida foi supermercados, com 60,8%, seguido de pessoas sentadas da calçada com 49,1% e em casas lotéricas com 45,6%. Quando se estratificou as situações por bairros e Secretarias Executivas Regionais (SER), que é a forma divisão administrativa dos bairros de Fortaleza, observou-se que a condição socioeconômica do território reflete nas razões da aglomeração. Ir às lotéricas e grupos de pessoas sentadas nas calçadas são mais frequente nas SER 3 e 5, que são compostas por um grande número de bairros de baixa renda. Contrariamente, na SER 2, que inclui os bairros de maior renda, é onde se vê as maiores aglomerações em supermercados e onde não se vê aglomerações.

Procurada pelo Brasil de Fato CE para falar sobre os dados apontados pela pesquisa, a Prefeitura Municipal de Fortaleza, disse que considera a metodologia da pesquisa equivocada.

Edição: Monyse Ravena