Ao longo da história os povos indígenas sofreram com epidemias e doenças trazidas pelos não índios. O contágio por doenças como varíola, gripe, tuberculose, pneumonia, coqueluche, sarampo e outras viroses dizimaram inúmeros povos indígenas, levando milhares de pessoas pertencentes aos povos originários à morte. Como afirma a própria Fundação Nacional do Índio (Funai) através do seu site, sobre o tema da assistência sanitária, as primeiras décadas do século XX não alterou o impacto pelas doenças trazidas para a população indígena. Nos grupos que eram recém-contatados pelo Serviço de Proteção ao Índio (SPI), por exemplo, aldeias inteiras foram destruídas por doenças pulmonares. Na América Latina de um modo geral, apesar da exploração e das guerras pela conquista do território feitas pelos não índios, o que também dizimou grande parte da população originária foram as epidemias.
O mundo inteiro atravessa a pandemia do Covid-19 e, novamente, as populações indígenas se encontram entre os grupos de povos e populações tradicionais que estão altamente vulneráveis e em risco. Segundo o boletim epidemiológico da SESAI divulgado em 13 de abril, entre a população indígena brasileira são hoje 21 casos suspeitos, 16 casos confirmados e 3 mortes causadas pelo novo coronavírus. Segundo dados do Instituto Socioambiental (ISA), as mortes por Covid-19 foram de uma senhora de 87 anos, da etnia Borari, em Alter do Chão (PA), um jovem Yanomami, de 15 anos, residente em Roraima e um homem, de 55 anos, da etnia Mura que morava na capital do Amazonas.
Atualmente, no Ceará, existem 6 casos suspeitos entre a população indígena do estado e nenhum confirmado. Todos os dias, através do site do Ministério da Saúde, é possível acompanhar o Boletim Epidemiológico da Secretaria de Saúde Indígena (Sesai) sobre o Covid-19 entre os povos indígenas no Brasil. “As nossas populações indígenas tem que redobrar o cuidado. Nós do DSEI Ceará estamos tomando todas as medidas com base nas orientações da OMS, do Ministério da Saúde, da Secretaria de Saúde do Estado e das Secretarias Municipais. Estamos com um plano de contingência em todos os polos bases e todas as nossas equipes multidisciplinares de saúde indígena estão orientadas a como intervir e orientar em casos da doença”, afirma Neto Pitaguary, presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena do Ceará (CONDISI/CE) e técnico em enfermagem.
Aldeias fechadas para visitas
O movimento indígena no Ceará faz um apelo para que as visitas às aldeias indígenas não sejam realizadas até que o perigo da alta propagação do novo coronavírus tenha passado. Assim como o deslocamento entre aldeias, comunidades e cidades sedes dos munícipios devem ser evitadas. A determinação para que pessoas não indígenas não acessem os territórios indígenas são recomendações da Funai, do Ministério da Saúde e também da Secretaria Especial de Saúde Indígena.
Para Weibe Tapeba, liderança indígena do povo Tapeba, assessor jurídico da Federação Estadual dos Povos Indígenas do Ceará (Fepoince) e vereador da cidade de Caucaia, “barrar a entrada de pesquisadores, parceiros, e muitos vezes desavisados também, nas terras indígenas é uma estratégia de prevenção ao combate do coronavírus nas comunidades indígenas do Brasil. Nós entendemos que os povos indígenas por viverem em comunidade estão sujeitos nessa pandemia a uma possibilidade de ter um desastre nessas comunidades. Especialmente para as comunidades que estão afastadas dos centros urbanos e os povos indígenas de recente contato também. Se o grau de letalidade é grande na população não indígena, acreditamos que pra população indígena os impactos possam ser desastrosos”.
O isolamento também tem sido uma estratégia dentro das aldeias indígenas para conter o avanço da contaminação. No entanto, algumas aldeias começaram a enfrentar também uma maior situação de vulnerabilidade social sofrendo com falta de alguns itens básicos. Várias campanhas de solidariedade têm sido feitas no intuito de arrecadar fundos e mantimentos para as etnias mais vulneráveis e a Defensoria Pública da União no Ceará impetrou uma Ação Civil Pública requerendo a distribuição imediata de cestas de alimentos, material de higiene pessoal e equipamentos de proteção individual, como estratégia de prevenção e combate ao Coronavírus entre Povos e Comunidades Indígenas do Estado do Ceará.
O atendimento emergencial em alimentação e higiene para cerca de 1.300 família indígenas em quarentena foi solicitado pelo defensor público regional de direitos humanos (DRDH) da Defensoria Pública da União (DPU) no Ceará, Walker Pachêco, à Fundação Nacional do Índio (Funai), na terça-feira (7), por meio de Ação Civil Pública com pedido de tutela provisória de urgência.
Edição: Monyse Ravena