A 20º edição da Romaria do Caldeirão da Santa Cruz do Deserto aconteceu sob o sol forte de um domingo de setembro, celebração eucarística que reuniu movimentos populares, agricultores e devotos.
Considerado um dos maiores movimentos messiânicos do Brasil, a experiência do Caldeirão ainda é referência no trabalho comunitário. Em 1926, Padre Cícero colocou aos cuidados de José Lourenço Gomes da Silva, o beato José Lourenço, as terras da fazenda Caldeirão dos Jesuítas, situada no município de Crato (CE).
Lá, o beato acolheu famílias com a premissa de “fé e trabalho”, lema dos moradores do Caldeirão. Com a seca de 1932, os mais de mil habitantes quase triplicaram. “As discussões sobre a dignidade humana, sobre os direitos sociais, tudo isso era vivenciado de forma bastante integrada na comunidade do Caldeirão. Ali se construiu uma comunidade camponesa autêntica, onde a sustentabilidade era o ideal”, relata Padre Vileci Basílio Vidal, pároco de Araripe e coordenador de pastoral.
A característica de trabalhar para viver sem ganância fez despertar a ira dos poderosos da época que, em 1937, promoveram um massacre nas terras do Caldeirão, destruindo as propriedades e matando as famílias que ali viviam.
Caldeirão de Santa Cruz e Políticas Públicas
“A Romaria traz um histórico de reflexão muito interessante para resgatar a memória do Caldeirão e fazer do Caldeirão um referencial para recriação do campesinato em nossa região”, afirma Padre Vileci. A diocese de Crato, em colaboração das Comunidades Eclesiais de Base (CEBS), o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e outros movimentos populares, articulam a mobilização de fiéis devotos e militantes para a participação na romaria.
“Nós estamos vivendo um tempo em que a sensação é que aquilo que a gente conquistou está sendo demolido. E isto traz uma necessidade de fortalecer ainda mais essa luta, essa espiritualidade e o Caldeirão como referencial. Não podemos esmorecer na luta.” reforçou Padre Vileci.
Edição: Monyse Ravena