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Rostos da Luta pela Terra: Maria Lima, matriarca da luta pela reforma agrária

Da Comissão Pastoral da Terra à luta do MST, Maria Lima aprendeu o caminho da organização do povo e da luta por direitos

Brasil de Fato | Fortaleza (CE) |
"Maria pediu dinheiro, viu saques, dormiu na rua, e foi aprendendo que o caminho da organização do povo e da luta por direitos era o dela"
"Maria pediu dinheiro, viu saques, dormiu na rua, e foi aprendendo que o caminho da organização do povo e da luta por direitos era o dela" - MST CE

Hoje, o Brasil de Fato Ceará finaliza a série de perfis que apresentou uma pequena parte da história dos cinco militantes da luta pela reforma agrária que serão homenageados pelas suas trajetórias nos 30 anos de existência do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no Ceará. A homenagem, que acontecerá dia 24 de setembro, será uma sessão solene na Assembleia Legislativa e também contará com a entrega do título de cidadão cearense ao João Pedro Stédile, economista e integrante da direção nacional do MST.
Maria Lima é uma das mulheres que construíram a luta pela terra no Ceará desde antes da formação do MST. Ela tem 82 anos, mãe de 15 filhos, assentada e fundadora do movimento. Ela é nominada pelo próprio Movimento Sem Terra como matriarca da luta pela terra. “Eu sou uma agricultora que já sofreu muito na vida trabalhando para patrão”, relata como um dos motivos de entrar na militância pela reforma agrária. Começou a luta organizando a Comissão Pastoral da Terra (CPT), em 1977, depois foi formando grupos de mulheres e participando do Sindicato dos Trabalhadores Rurais. “Naquele tempo, a gente ia se organizando por conta da situação de fome e de miséria. Não era pobreza o que passávamos, era miséria mesmo. Nós estávamos na rua para reivindicar alimento e trabalho, dei muito trabalho à polícia, qualquer movimento eu estava no meio”. 
Maria pediu dinheiro, viu saques, dormiu na rua, e foi aprendendo que o caminho da organização do povo e da luta por direitos era o único para ela. Nos versos escritos por Maria Lima no correr da luta, percebemos isso: “nós queremos é lutar por terra e pão, nós queremos a nossa libertação”.
Representando o Ceará, Maria foi ao I Encontro Nacional do MST, que aconteceu em 1984, na cidade de Curitiba (PR). Lá, conheceu o movimento e ajudou a articular a vinda de algumas lideranças para o trabalho na região. “A gente ia com mil pessoas para a rua, mas os que ficavam em casa ficavam com fome. Era um sofrimento muito grande, aí veio gente de outros lugares para ajudar e fomos percebendo que a luta não era só por comida, ela era por terra. Se nós tivéssemos a terra íamos ter comida”.
Em 1989, depois de um trabalho de alguns anos, a família de Maria era uma das 500 que ocuparam a Fazenda Reunido de São Joaquim, no município de Madalena, Sertão Central do Ceará, um complexo com 12 fazendas improdutivas. Nascia ali o MST no Ceará. “Saímos da teoria, das orações e fomos ocupar a terra prometida”. A ocupação aconteceu e a conquista veio depois de muita luta. Hoje, ali é o assentamento 25 de maio, que está completando 30 anos em 2019, mesma idade do MST no Ceará. 
De lá para cá, Maria não parou. “Depois que conquistamos a nossa terra, fomos ajudar as outras pessoas a conquistar também”. Ela nunca mais saiu do MST. “Dos 15 filhos só um me acompanhou na militância”, conta. Francisco Antônio, o Toninho, filho de Maria Lima, é dirigente do MST no Ceará.

Edição: Marcos Barbosa