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Expocrato: a Exposição e o Povo

Em meio a negócios milionários, pequenos comerciantes procuram espaço

Brasil de Fato | Crato (CE) |
Dona Verônica Silva e sua saboaria artesanal
Dona Verônica Silva e sua saboaria artesanal - Fotos: Rodolfo Santana

Todo ano na região do Cariri é realizada a nacionalmente conhecida Exposição Agropecuária do Crato (Expocrato). O evento que mantém no calendário nacional o status de uma das maiores feiras deste tipo em todo o país recebe, além de turistas, investimentos milionários. Para este ano, dados da Associação dos Criadores de Caprinos e Ovinos da Biorregião do Araripe (ACCOA) prevê movimentar cerca de R$ 50 milhões em investimentos agropecuários. 

Distante dessa cifra, a feira agrega ainda produtoras familiares, artesanato e trabalhadoras informais que em seus modestos stands, barracas e caixas de isopor compartilham o espaço do tradicional Parque de Exposição Pedro Felício Cavalcanti com grande empresas da região. O Brasil de Fato CE foi a Expocrato ouvir trabalhadoras e trabalhadores que buscam complementar a renda com suas produções para saber como são as perspectivas desses profissionais nos dias de realização da Exposição. 

Produções Artesanais

Dona Simonete está expondo seus produtos na Expocrato pela primeira vez este ano. A artesã é da cidade de Missão Velha e produz seu artesanato com a fibra da bananeira, as palhas de coqueiro e com outras plantas e frutas. Ela e Seu Manoel, que já participa da Expocrato há cinco anos, são associados a Fibrax, uma pequena associação ligada a  Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares do Estado do Ceará (Fetraece). Os artesãos se mostraram satisfeitos com as vendas, mas gostariam que a estrutura física contasse com um toldo, para proteger do sol. “Ali na frente, não sei se você viu, mas colocaram um toldo. Aqui, para nós, disseram que iam colocar, mas acho que agora só no ano que vem”, relata Seu Manoel. 

Há pouco mais de um ano, o Parque de Exposição Pedro Felício Cavalcante passou por reformas. De modo geral, Seu Manoel diz ter aprovado as mudanças. “Ali, quando era a estrutura velha, a gente trabalhava e ia expor a mercadoria em um paredão. A gente expunha na parede. Quando chovia, tinha que pôr a lona pra cobrir. Hoje não, né? Você fica sossegado”, compara. 

Seu Francisco Alberto trabalha com couro. O artesão é da Associação dos Artesãos do Crato e diz que é associado há mais de 30 anos, desde a fundação do grupo. Sobre as mudanças estruturais no Parque de Exposição, ele diz que ainda está se adaptando. “O primeiro espaço era ali, no Corpo de Bombeiros [próximo a entrada do Parque]. Lá, nós passamos oito anos. Aí, depois nós ficamos naquele espaço fora, que demoliram ano passado. Aí aqui é questão de adaptação. Assim, por causa que ano passado ficou desconhecido pra muita gente que sempre vinha, né? Pela mudança. Mas, esse ano, o povo já tá chegando, já tá melhorando”, conta. O artesão relembra que a quantidade de pessoas que o procurava era bem maior e ele atribui a diminuição do fluxo à falta de sinalização dessas mudanças. 

“Era mais gente porque era muito mais de 20 anos [no mesmo local].  Aquele pessoal que sempre costuma vir, já vinha certo. Eu acho que quando chegou procurou o espaço, não tinha nenhuma placa de identificação, aí ficou mais difícil pra gente. Faltou tipo uma divulgação, no caso.”, acredita. Segundo Seu Francisco Alberto, a vice-presidenta da Associação conversará com o governador do Ceará, Camilo Santana (PT) para tentar resolver esses problemas e buscar melhorar a segurança do local. “Aqui não tem uma grade, não tem uma porta. O espaço foi demolido, falaram que iam construir em outro espaço e não construíram, então cederam esse espaço, aí não tem como até pra gente se organizar. A gente tá torcendo, tá esperando um documento. Com um documento em mãos, a gente fica sabendo que o espaço é da gente”, explica o artesão. 

“Tudo que nós fazemos é pela agricultura!”

Dona Neide, de 70 anos, era uma das agricultoras que estava vendendo seus produtos no stand da Fetraece. Orgulhosa, ela conta que sempre trabalhou com agricultura. “Tudo que fazemos é pela agricultura. Me aposentei pela agricultura, meu marido era da agricultura. Não é mais porque Deus já levou. Na minha casa, é que nem um sítio. Eu tenho a cajá, tenho a acerola, tenho mamão, tenho a goiaba e tem mais muda pra fazer”, conta. Na mesinha onde expunha os produtos, tinha até um xarope caseiro. Perguntada se ela mesma fazia e a agricultora confirmou que sim. “Xarope é bom demais. Eu tenho alergia a quentura, o sol apertou minha garganta, mas só foi eu tomar um copinho desse xarope em casa”, diz satisfeita. 

Embora tenha uma vasta jornada na agricultura, é a primeira vez que Dona Neide participa da Expocrato vendendo os alimentos. Ela e os demais agricultores colocavam os produtos sobre mesas de plástico medianas. Ao ser questionada se a estrutura estava adequada, Dona Neide disse estar gostando. “Eu estou achando bom. Do jeito que tá dando certo pra mim, tá para as amigas, para os amigos. Sem ser muito, a gente não vende muito”, conta. 


A exposição e o povo

Este é o segundo ano em que a Expocrato é realizada na nova estrutura reformada e modernizada do Parque de Exposição Pedro Felício de Cavalcanti. Com novas alas e uma maior área de shows, a exposição se torna a olhos vistos mais organizada e com novas oportunidades de abertura para pequenos produtores. No entanto, as nova estrutura não garante benefícios para todo mundo. Escondidos na parte mais à direita do parque se localizam vários trabalhadores informais que, na margem da exposição, resistem na busca de comercializar suas produções. 
Eduardo é do Senegal e mora em Recife a cinco anos. Desde seu primeiro ano no Brasil, ele vem à Expocrato vender sua mercadoria que é bastante diversa: bijuterias, bonés, roupas, artesanatos, brinquedos e muitas outras miudezas são dispostas de forma vistosa em sua tenda. Ele diz que, este ano, a crise no Brasil “prejudicou meu trabalho, e está me dando pouco lucro. Acho que este ano não vou tirar meu investimento…”. Para conseguir um espaço dentro do parque, Eduardo e outros trabalhadores informais desembolsam em média de R$ 350 à 500,00 que não inclui divulgação e uma segurança mínima para o local de trabalho. 
Dona Verônica Silva é proprietária de uma pequena empresa de saboaria artesanal, participante veterana da exposição, ela diz encontrar dificuldades em vender seus produtos. “O turista não quer vir aqui porque também não sabe onde é. Depois que a gente veio pra cá as vendas não estão tão boas quanto era quando a gente ficava lá embaixo.” falou Dona Verônica se referindo à entrada principal da exposição onde se concentram as empresas de maior porte e outras que conseguem pagar um preço mais elevado para manter seu negócio em um local de destaque. “A organização da exposição poderia melhorar mais a divulgação e enfatizar melhor que estamos aqui. Nós já pagamos um preço alto para poder trabalhar, então a estrutura da exposição deveria nos ajudar nisso”. 

Edição: Monyse Ravena