Ceará

Solidariedade

Artigo | “O povo tem a força, precisa descobrir, se eles lá não fazem nada faremos tudo daqui!”

Militante do Levante Popular da Juventude do Ceará viaja ao Rio Grande do Sul para compor brigada de solidariedade.

Fortaleza, CE | |
Em Fortaleza, a Campanha Natal Sem Fome distribuiu cerca de 35 toneladas de alimentos vindos da reforma agrária - Valdemir Castro

A experiência de solidariedade do Levante no Ceará tem vários marcos, um deles obviamente é a pandemia, foi em 2020 que, lado a lado com os movimentos do campo popular (Movimento Sem Terra, Movimento de Trabalhadores por Direitos e Movimento Brasil Popular) realizamos as grandes ações de solidariedade mês a mês. Em uma delas, o Natal sem Fome, que beneficiou cerca de 2000 famílias das periferias de Fortaleza, totalizando 35 toneladas de alimentos da Reforma Agrária doados, no dia 20 de dezembro de 2021. Mobilizamos dois jovens de um território de Fortaleza, o Cidade Jardim I, para contribuir no lançamento da campanha e nas entregas das doações. O nosso objetivo com eles, enquanto movimento popular, era mais político do que qualquer outra coisa, apresentar pra eles na prática o que é o Levante Popular da Juventude, o que é o Movimento Sem Terra e por fim o que é o Projeto Popular.

 

Esse dia foi um dia de trabalho intenso, o lançamento contou com a presença de lideranças históricas de Fortaleza e lembro que já tínhamos trabalhado noite adentro entrando em vários territórios de Fortaleza fazendo entrega de frutas, legumes, leite e tudo aquilo que é produzido pela Reforma Agrária. Os mesmos dois jovens voltam para o local onde começamos tudo para jantar e descansar, entre muitas conversas naquela noite eles falavam pra nós como tinha sido bom construir o Natal Sem Fome, por dentro a gente sabia que tinha conquistado mais dois corações e mentes pro movimento e para a luta. Aquele dia marca o primeiro contato desses jovens com a solidariedade de classe, ativa e transformadora.

 

Alguns anos depois, entre várias outras ações de solidariedade por parte dos nossos movimentos, nasce a decisão política da nossa organização de construir a Cozinha Popular 17 de Abril pelas mãos da juventude do território, situada no Conjunto Habitacional Cidade Jardim I, um fruto da luta do Movimento Sem Terra e dos movimentos urbanos de Fortaleza, entre eles nós do Levante Popular da Juventude. A cozinha leva o nome 17 de abril em referência a data de início da ocupação que daria espaço para o Cidade Jardim I. Ela foi e é um dos maiores espaços de formação do nosso movimento, a partir dela reformulamos muitas vezes o que pensamos sobre solidariedade e formamos aqueles mesmos dois jovens (e muitos outros que viriam depois) e que foram atraídos a construir uma ação de solidariedade no natal de 2021.


Levante envia militante do Ceará para colaborar na brigada de solidariedade ao Rio Grande do Sul. Abrigada realiza ações de limpeza, reconstrução e distribuição de alimentos. / Coletivo de Comunicação do Levante Popular da Juventude.

Ao exercitar o poder da reflexão hoje penso que naquele dia devolvemos um pouco da força que tomam da gente nas periferias de Fortaleza para aqueles que hoje cumprem um papel importantíssimo na nossa organização de manter a solidariedade viva e ativa. Além disso, tenho plena certeza de que a solidariedade, para além de uma ferramenta de resistência popular e enfrentamento ao projeto de ódio contra nosso povo, é também para nós uma importante ferramenta de formação. Hoje, um daqueles jovens que descobriu em 2021 o poder da solidariedade pisa em terras gaúchas para cumprir, junto com outros companheiros e companheiras, uma tarefa fundamental, restabelecer a dignidade do povo do Rio Grande do Sul, que sofre com os efeitos da crise climática.

 

A Brigada Nacional de Solidariedade, construída pelos movimentos Levante Popular da Juventude, Movimento Sem Terra, Movimento de Trabalhadores por Direitos e o Mãos Solidárias, contará com a participação de 25 militantes de diversos estados e leva um recado muito importantes desses movimentos para o povo: a saída é coletiva e só a luta muda a vida.

 

*Thalita Vaz, militante do Levante Popular da Juventude.

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Edição: Camila Garcia